A produção é nacional, mas o lucro é estrangeiro

Apesar dos crescentes superávits na balança comercial (exportações menos importações) e do aumento das transferências unilaterais (recursos enviados por brasileiros residentes no exterior), o saldo das transações correntes entre o Brasil e o exterior acumulou um saldo negativo, até junho deste ano, de US$ 17,402 bilhões. O responsável por tamanho rombo é a conta de rendas e serviços (remessas de lucros, dividendos, juros ao exterior e gasto com viagens internacionais), que só neste semestre soma um déficit de US$ 30,603 bilhões.

Apenas para ilustrar, basta dizer que as remessas de lucros e dividendos para o exterior no mês junho somaram US$ 3,396 bilhões, contra apenas RS$ 1,746 no mesmo período do ano passado, num aumento de quase 100%. No primeiro semestre deste ano (janeiro a junho) as remessas para o exterior acumularam o montante de US$ 18,993 contra US$ 9,807 bilhões entre janeiro e junho de 2007.

A liberdade de remessa de lucros e dividendos é que explica o aumento dos investimentos estrangeiros diretos no Brasil (investimento duradouro em atividade produtiva), que só no mês de junho foi US$ 2,718 bilhões contra US$ 10,318 milhões no mesmo período do ano passado. No acumulado do ano (janeiro a junho), o investimento direto foi US$ 16,702 bilhões.  A projeção do Banco Central para este ano é US$ 35 bilhões.

A relação entre investimento direto e remessa de lucros e dividendos começa a se inverter. Ou seja, as remessas e dividendos já superam os investimentos. Enquanto as remessas e dividendos de janeiro a junho alcançaram a cifra de US$ 18,993 os investimentos diretos no mesmo período ficaram em US$ 16,702, num déficit de mais de US$ 2 bilhões.

Esses números apresentam dupla preocupação. A primeira é a apropriação, por estrangeiros, dos lucros dos bens e serviços produzidos no País. A segunda é que está havendo uma célere internacionalização da economia nacional, com a compra de empresas brasileiras por estrangeiras ou investimentos de empresas brasileiras em bolsas no exterior, inclusive empresas estatais. A Petrobras, por exemplo, possui quase 70% de suas ações em bolsa, inclusive no exterior.

Trata-se, como se vê, de um assunto que merece urgente atenção. Devemos garantir que a riqueza produzida no País seja majoritariamente usufruída pelos brasileiros. Assim, em lugar de criar-se nova empresa para explorar o pré-sal, por exemplo, o Governo brasileiro deveria ampliar sua participação no capital da Petrobras, para nacionalizar a empresa.

*Jornalista, analista político e diretor de Documentação do Diap

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