O Dia Internacional de Luta pela Eliminação da Discriminação Racial foi criado em memória dos mortos e feridos no Massacre de Shaperville, na África do Sul, ocorrido em 21 de março de 1960.
Na esteira da campanha de valorização dos afrodescendentes empenhada pela Organização das Nações Unidas (ONU), segue o recrudescimento da política de extermínio da juventude negra.
As últimas décadas foram marcadas pelo imenso esforço dos movimentos sociais e de luta antirracismo em denunciar e se contrapor às formas de racismo, machismo, preconceitos e toda forma de intolerâncias correlatas.
Nesse período, fizemos entender a necessidade de darmos um passo adiante no caminho para superação e emancipação sobre as ideologias atrasadas do patriarcado, do eurocentrismo e do capital.
Denunciamos essas ideias em seus usos de ingredientes como a cultura da “superioridade” e da subordinação, e saímos em defesa de uma nova conformação social que superasse essa estratificação, forjada ideologicamente.
Entendemos as múltiplas faces do racismo, e as contribuições da Segunda e da Terceira Internacional sobre a importância da luta antirracismo, e a sua imbricação na luta de classes.
O pós-Segunda Guerra Mundial daria uma nova configuração a essa luta – um novo signo surgia em todos os continentes contra o avanço do imperialismo e pela superação do colonialismo no mundo, contando com grande influência do bloco socialista.
Materializadas na bipolaridade geopolítica daquele momento, as ideias emancipatórias avançaram pelos direitos universais e individuais, tendo êxito com grandes lideranças na franja da luta de classes. Instituiu-se a partir daí um guarda-chuva para as organizações classistas e emancipacionistas, sempre orientadas pelo marxismo.
A partir das décadas de 1950 e 60, a materialidade dessas conformações políticas e ideológicas se encheram de força e consciência de classe. O embricamento da luta de classes com a luta antirracismo se consolidou, tendo como pauta a emancipação humana e de classe e a igualdade.
Junto deste movimento, surgiram lideranças históricas como Nelson Mandela (Madiba) na África do Sul, Ângela Davis, Martin Luther King e Malcolm X, nos Estados Unidos. Aqui no Brasil, tínhamos Abdias Nascimento, Lélia Gonzalez e Clóvis Moura, entre outros importantes defensores da igualdade.
Toda a historiografia negra, desde o escravismo, é marcada pela luta pelo direito à liberdade e à vida. A história do negro em qualquer parte do mundo é, antes de mais nada, a história de luta pela vida. Por este motivo, o início da década Internacional de Afrodescendentes não nos representa: o tema “Povos Afrodescendentes: reconhecimento, justiça e desenvolvimento” não condiz com a nossa realidade.
A realidade da população negra mundial, e em especial nestes países onde há confronto contra a igualdade de oportunidades e condições, é a do racismo institucional. Este elemento ideológico ceifa vidas de mulheres, homens, jovens e crianças. No continente americano, o genocídio da juventude negra percorre de norte a sul.
É com a bandeira em punho, na defesa da democracia, soberania, do respeito, e da liberdade de expressão das Tradições de Matrizes Africanas, que avançamos nos projetos de unidade e ação política.
Atuamos através dos partidos políticos e dos movimentos sindicais, sociais e frentes para defendermos a vida e a igualdade. Nos mobilizamos em momentos singulares, como a Marcha dos 100 anos da Abolição (1988), os 300 anos de Imortalidade de Zumbi, o Movimento Pela Vida! (1995), o Brasil Outros 500 (2000), a Marcha Nacional das Mulheres Negras Contra a Violência e o Pelo Bem Viver (2015). Pela Democracia e a Vida. Porque a vida, e a liberdade de nossa juventude negra importa.
Assim, o movimento negro brasileiro evolui, com capilaridade e sabedoria, compreendendo a complexidade da luta em si, e para si, e ampliando sua musculatura política no enfrentamento com os nossos inimigos de classe.
Neste momento nosso front é contra a PEC 287 – reforma da previdência, contra a Projeto de Lei 4302 – a Terceirização e o fim da Consolidação das Leis do Trabalho.
Viva aos 10 anos da CTB, viva a luta antirracismo, viva a quilombagem!!!
Mônica Custódio é secretária de Políticas de Promoção da Igualdade Racial da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil. Foto: Fernanda Ruy
Os artigos publicados na seção “Opinião Classista” não refletem necessariamente a opinião da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB) e são de responsabilidade de cada autor.