A crise acelera o declínio do império americano

A China consolidou em 2013 a posição de maior potência comercial do planeta, com o valor de sua corrente comercial (exportações mais importações), de US$ 4,16 trilhões, superando pela primeira vez o realizado pelos Estados Unidos, US$ 3,9 trilhões. O império ainda mantém a posição de maior importador do mundo, mas isto não é deve ser interpretado como um sinal de força, é o resultado do déficit comercial e do parasitismo econômico.

O comércio exterior reflete o intercâmbio produtivo entre as nações, sobretudo da indústria, e cumpre um papel central na valorização, acumulação e formação de capitais, principalmente aqueles cujo destino é a exportação, o investimento externo. O gigantismo do comércio chinês resulta diretamente do poder industrial, que se desloca dos EUA para a China e de uma maneira mais ampla do chamado Ocidente para o Oriente.

O excedente gerado no comércio internacional é uma das fontes das reservas chinesas, superiores a US$ 3,5 trilhões, e – por extensão – da capacidade de realizar investimentos no exterior. Deste modo, a força da indústria também é o que está transformando a China numa grande potência financeira. Os EUA difundiram a ilusão de que o poder econômico provém da exuberância financeira ou do fetiche da moeda, mas a realidade nos mostra outra coisa, evidenciando que a riqueza e o poder relativo das nações tem origem na produção.

Leis do imperialismo

Sob muitos aspectos, a China já ultrapassou os norte-americanos em matéria de poder econômico, sendo os indicadores mais relevantes neste sentido os valores do comércio e da produção industrial. Em ambos os casos, o decadente império já foi colocado para trás. O PIB dos EUA ainda é aparentemente mais robusto, mas projeções do FMI indicam que já em 2016 o valor do produto chinês será maior, pelo critério de paridade de poder de compra.

A ascensão da China e o declínio do império americano, sem dúvidas o movimento histórico mais relevante que está em curso por esta época, resultam da ação combinada de duas leis que presidem o desenvolvimento das nações modernas e da ordem capitalista e imperialista mundial, observadas por Hobson e Lênin: o desenvolvimento desigual e o parasitismo econômico que grassa nos países imperialistas, afetando principalmente a potência hegemônica.

O desenvolvimento desigual se verifica através das diferentes taxas de crescimento dos PIBs, bem como do comércio exterior e da exportação de capitais. A China cresceu a taxas médias próximas de 10% ao ano ao longo das últimas três décadas enquanto os EUA se contentavam com algo em torno de 2%. No comércio exterior o ritmo de crescimento e a disparidade entre as taxas relativas foram ainda maiores. A potência asiática é hoje a principal parceira e econômica (comercial e financeira) do Brasil, que em certa medida tem sido beneficiado pela mudança do cenário econômico internacional e a criação do Brics.

Transição

A crise mundial iniciada em dezembro de 2007 nos Estados Unidos acelerou o processo de declínio do império e do Ocidente e os passos da história na direção de uma nova ordem internacional (com a qual sinaliza o Brics) ao acentuar os efeitos do desenvolvimento desigual. As novas condições econômicas requerem objetivamente o estabelecimento de uma nova ordem internacional, pois a atual caducou. Enquanto os norte-americanos afundaram na recessão, desemprego e crise fiscal, a China continuou crescendo em torno de 9% ao ano e mesmo tendo desacelerado promete manter um ritmo anual de crescimento superior a 7%.

A taxa de acumulação de capitais na indústria chinesa é bem superior à que se verifica atualmente nos EUA. A China poupa mais e investe muito mais que os EUA e é isto que faz a diferença, o império em decadência atravessou um processo de forte desindustrialização, tem uma poupança irrisória, acumula déficits colossais e dívidas impagáveis, cultiva uma escandalosa necessidade de financiamento externo e anda embriagado pelo parasitismo.

Não creio que por meios normais os EUA lograrão recompor a hegemonia econômica que aos poucos está indo para os ralos da história. É preciso considerar que eles ainda preservam uma forte e incontestável supremacia militar e parecem tentados a recorrer a esta vantagem que sabem temporária para manter o status quo.   


Umberto Martins é jornalista, assessor da Presidência da CTB.

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