A classe trabalhadora e a unidade de ação

Pergunto, por que não nos unimos,
se assim só alegramos nossos inimigos?!
Juntemos nossas mãos,
a pátria nos reclama
a luta que nos levará à vitória final!

Ali Primera

Em plena 4ª Revolução Tecnológica, o Brasil se desindustrializa numa escala jamais vista, submetido a um governo títere dos Estados Unidos, ilegítimo, fruto podre de um golpe de estado urdido para a destruição dos fundamentos de qualquer projeto de desenvolvimento brasileiro. Em vez de saltar adiante para as novas possibilidades da tecnologia, a junta golpista (banqueiros, oligarcas da política, da imprensa monopolista e dos altos escalões do judiciário) dá o grande salto atrás, ampliando nosso atraso relativo, com o conhecido e brutal colonialismo que visa a eternizar uma estrutura social de cidadãos de primeira classe e uma segunda classe de subcidadãos.

Nosso país passa por uma expedição punitiva e Temer é um boneco de uma ocupação estrangeira, protegida pelo judiciário e pela imprensa golpista. Pune-se o Brasil por ter ousado assumir maior protagonismo internacional, com a América Latina e os BRICS, por ter se fortalecido como nação. Episódios como a dita Primavera Árabe, os protestos no Brasil, em 2013 e a desestabilização e guerra econômica contra a Venezuela mostram a influência do imperialismo se vestir de mobilização de massas, estimuladas por TVs, jornais e pela internet com fins de desestabilização, e buscando a chancela do parlamento e do judiciário, como se viu desde os casos de Honduras, com Zelaya, e do Paraguai, com Lugo. Vimos o cerco financeiro, a manipulação dos preços internacionais promovida pelos EUA e a Arábia Saudita, o bloqueio político e midiático ao governo e à Petrobras, a partidarização de setores policiais, judiciais e mesmo de milícias, com a progressiva imposição da violência, que já abateu a mais de uma centena de militantes da luta do povo desde a ascensão do golpista Temer.

Tal realidade obriga à esquerda a avaliar, retrospectivamente, o erro de menosprezar a questão nacional e, presentemente, a capacidade de organizar o povo, de segurança ede ação direta. Acima de tudo, deve a esquerda, especialmente a classe trabalhadora, ser o esteio da unidade de ação contra a ditadura em curso. Não podemos ignorar a violência nem danos irreparáveis à soberania e ao futuro do Brasil. É preciso impedir a dilapidação do patrimônio nacional.

É o Brasil do ferro gusa e da soja, depois da hecatombe que vitimou setores econômicos fundamentais sob a demagogia do combate a corrupção, ele próprio corrompido pela partidarização e pelo ativismo político do judiciário. Ativismo para libertar o criminoso prender o inocente, como ocorre com de Lula, cuja prisão é apenas outra forma de calar o direito de o Brasil decidir. Aqui, destroem-se setores industriais inteiros, desempregando pais e mães de famílias, com o choro de suas crianças e a volta da fome, a destroçar lares que se desfazem, ampliando a população de rua. O Brasil não ficou mais ético, ficou apenas mais desigual e covarde o contra o trabalhador, e ainda mais contra trabalhadora. Aqui, mata-se o povo de fome para enriquecer uma casta de financistas, especuladores, que subtraem a máxima parte da riqueza nacional.

É para vender e ajoelhar o país, para tanger o povo para as senzalas da exclusão, que servem o ódio e a violência fascistas. É preciso relembrar a definição clássica: O fascismo é uma ditadura terrorista aberta dos elementos mais reacionários, mais chauvinistas e agressivos do capital financeiro como um regime reacionário de massas. A relação da clássica definição do fascismo dos anos 1930 com a composição e prática do golpismo, impressiona: banqueiros, mídia monopolista, a direita mais corrupta e atrasada, sob o comando do imperialismo. É sob a violência e o desrespeito ao direito internacional que se gesta a destruição da democracia na América Latina. Precisamos vencer e reverter esse cenário desolador com a vitória dos setores democráticos, nacionalistas e populares – com ênfase na classe trabalhadora.

Precisamos assegurar a existência e a lisura e vencer a batalha de 2018, afirmando a democracia como palco da resolução dos conflitos. 2018 decidirá o ressurgir ou o sepultar da democracia brasileira e há que preparar-se para tudo. Por isso a unidade avulta, é decisiva. É dever que vai muito além dos partidos. Apesar do Fórum das Centrais, dasFrentes Brasil Popular e Povo Sem Medo, das frentes parlamentares em defesa das conquistas, prevalece a dispersão, as iniciativas parciais que não chegam ainda a inúmeras formas de organização popular que não atingimos. A necessidade obriga superar o atual cenário de derrotas seguidas após o golpe. Talvez um caminho seja resolver uma situação aparentemente paradoxal:  várias candidaturas de esquerda à Presidência, diferentes frentes nacionais e, ainda assim, unidade programática em torno de decisivas bandeiras nacionalistas, democráticas e dos direitos dos trabalhadores(as) e do povo.

Há, portanto, duas tendências cuja importância nos acontecimentos havemos de definir com nossa praxis: unidade versus fragmentação. Para chegar à unidade é complexo, só condições favoráveis não bastam. Unidade é fruto de esforço consciente, paciência, respeito. Para fortalecer as tendências à coesão é preciso avançar na unidade, como sinalizaram as fundações partidárias, num pacto a unir as candidaturas que defendem o Brasil, a Democracia e os Direitos do Povo.

Mas não basta esse compromisso na cúpula sem uma nova dinâmica de trabalho, de unificação de uma rede amplíssima de movimentos e formas de participação contemporâneas, com novas geração e tecnologia. Mas a base deve ser a unidade dos(as) trabalhadores(as) para responder o ataque à estrutura sindical, aos direitos da classe trabalhadora. O rasgar da CLT não foi respondido à altura e envolve muita gente que viverá sob o látego. Há oportunidades para a unidade. É possível responder à ofensiva antinacional a partir de plataformas sindicais unitárias e amplas campanhas e jornadas de lutas. A luta nas redes e nas ruas, um renovar do trabalho de base para:

1) defesa das ESTATAIS – PETROBRAS, Correios, ELETROBRAS, CEF, BB, BNDES, EMBRAPA, bancos regionais, CEDAE, Metrôs, Itaipu, Portos;

2) a defesa do SUS; defesa dos usuários de planos de saúde; defesa da regulação da saúde privada; Todos os sindicatos e confederações ligados à saúde;

3) defesa da Universidade Pública e da Pesquisa do Brasil – unir ANDIFES, SBPC, CONTEE, ANDES, UNE, DCEs, Cas, ANPG, APGs, FASUBRA, PROIFES, Institutos Federais, Seções sindicais, pesquisadores, artistas, personalidades da Ciência, Tecnologia, Ciências Sociais e Artes;

4) defesa da Educação pública nos níveis Básico e Técnico – sindicatos das professoras(es) públicos e privados, Auxiliares e Profissionais da Educação Pública e Privada (regulação do ensino privado), federações e confederações;

Há uma sinergia evidente nessas plataformas que envolvem entidades importantíssimas, nacionalmente e nos maiores municípios. O ataque às estatais possibilita a imediata unificação das entidades que representam dos seus trabalhadores(as) para preservar: o caráter público, as condições de trabalho, a assistência à saúde e as autogestões, a participação eletiva nas empresas e a defesa de suas previdências privadas. Não há como vencer isoladamente. O sentido corporativo, nacional, trabalhista permite envolveramplos setores nessa luta decisiva. As confederações, federações e sindicatos das estatais ainda possuem força imensa, mas vivem o brutal ataque à sua estrutura, ao papel social e aos direitos da classe.

A unidade da luta na saúde, na educação e nas estatais pode nos ajudar a construir a unidade nacional e o enraizamento nas 27 unidades da federação, em especial nas cidades com mais de 100 mil habitantes, somando aos esforços dos Congressos do Povo. Num primeiro momento propomos quatro plataformas unitárias, face aos ataques que exigem naturalmente unidade gremial e compreensão classista, democrática e nacionalista. Mas devemos avançar para uma a unidade de ação dos trabalhadores e trabalhadoras da cidade e do campo, com iniciativas voltadas ao setor privado – Indústria, da Agricultura e dos Serviços -, à organização dos desempregados e excluídos.

A capacidade de reunir e debater com amplas massas, de repercutir nas redes, de as construir, obrigam a uma nova abordagem da luta sindical, inclusive atualizar o modelo de greve, incorporar novos atores profissionais terceirizados, quarteirizados, 4G, que advém descaracterização de categorias e da constituição de novas. É preciso um primeiro passo de unidade, nas estatais, na educação e na saúde para avançar e unir a classe trabalhadora.

Unificação e investimento no trabalho de basem deve ser consequência prática de um balanço autocrítico sobre a luta institucional, notadamente no Congresso que, a partir de Eduardo Cunha, tornou-se mero balcão de negócios espúrios e instância impenetrável que, não obstante, deseja a legitimação do movimento sindical e social. O excessivo institucionalismo na ação sindical e a redução dos espaços democráticos exige articular amplitude e radicalidade. A mudança de qualidade regressiva na democracia exige uma nova ação junto ao Congresso, mas sobretudo junto ao povo que elegerá o próximo. Disputar as agendas do Brasil é disputa de hegemonia e defesa da democracia. Sem unidade clara contra o retrocesso não poderemos avançar para a um maior espaço no Senado e na Câmara, eleger deputados e senadores que defendam os trabalhadores(as). O movimento sindical deve apresentar suas lideranças para retomar todos os nossos direitos.

No Golpe do impeachment fraudulento, na votação da Lei da Terceirização e da Reforma Trabalhista, nossa ação sindical não consegui articular seus dois polos: as direções nacionais e seus quadros, que circulam semanalmente no Congresso e Ministérios e a multidão dos envolvidos nas greves e paralisações gerais, na marcha de 200 mil a Brasília. Falta o protagonismo desse decisivo elo na corrente, sindicatos-âncora nos municípios acima de 100 mil habitantes. Uma rede dessas, se falasse para suas bases teria um impacto imenso. Já o comprovou. Essa parcela realizou a greve geral do dia 28, a 2a. CONCLAT e os Congressos das Centrais Sindicais e da CONTAG.

Mas a Pirâmide Invertida – com a hipertrofia das direções e a falta de apoio da base – leva a um envelhecimento geracional e à dificuldade crescente de mobilizar as categorias, ao burocratismo sindical, ao sindicalismo de resultados, afastando as categorias e impedindo a incorporação de mulheres e de jovens. Esse cupulismo amortece uma enorme rede que ainda não foi totalmente mobilizada e que deve ser buscar formas de pautar 2018. A luta pela relevância política é central para o movimento sindical.

A frente só se efetivará ao falar às entidades e à base popular. O momento exige ampla unidade em defesa das estatais e do Brasil. Esse movimento, se vitorioso, unindo centrais e frentes diversas, poderá apontar para a unificação nacional para o enraizamento. E, a partir das estatais, quiçá sinalize para outras unificações, a defesa da Educação Básica e Técnica, do SUS, da Universidade e da C&T Brasileiras.

A unidade não é uma cadeira, uma mesa, é mais como um caminho. Mas, que fazer se os caminhos são desconhecidos, se levam a encruzilhadas? Ensina o poema de António Machado:

Caminhante, são tuas pegadas o caminho, e nada mais.

Caminhante, não há caminho, o caminho se faz ao andar.

E ao voltar o olhar atrás, vê-se a senda

a que não se voltará jamais.

Caminhante, caminho não há,

só as estrelas no mar.

Não há fórmula, receita para a unidade. Mas a Classe Trabalhadora aprendeu há 170 anos, com os jovens Engels e Marx (este a celebrar o seu bicentenário): “A burguesia produz, sobretudo, seus próprios coveiros”. Cada golpe que atinge o povo levará a uma incessante resistência. Somos felizmente obrigados a perseverar. Ao oprimido(a) só resta a esperança de lutar.

As condições objetivas e subjetivas para a unidade precisam ser sintonizadas numa estratégia democrática, nacional e popular. Como outros processos políticos latino-americanos evidenciaram: é necessária uma unidade superior do povo. E o Brasil construiu um imenso movimento sindical que precisa lutar, se defender e vencer essa guerra. A necessidade grita, e a CTB deve unir os trabalhadores e trabalhadoras, fortalecer a frente ampla, construir seu enraizamento, retomar a iniciativa política e defender as empresas públicas e o Brasil.

Toda semana afluem a Brasília centenas de lideranças sindicais para atividades que muitas vezes apenas legitimam uma agenda conservadora. É hora de mudar o esquema. Aproveitar e organizar essa presença em Brasília, construir espaços de diálogo e unificação, seminários nacionais, colóquios, debates públicos, manifestos para ecoar uma única voz de defesa da Nação, contra os vendilhões da pátria e escravizadores do povo. É preciso retomar os grandes espaços de diálogo e convergência como os Fóruns Sociais Mundiais, as Marchas da Classe Trabalhadora e a 2ª CONCLAT. Nossas formas de lutas para se demonstrarem verdadeiramente radicais, devem enfrentar as raízes dos problemas, e a raiz é o apoio do povo, retomar o laço de confiança numa nova ascensão da luta social. Nossas formas de luta devem reunir muita gente e repercutir nas redes, articulando uma base própria, a nossa representatividade.

PRIVATIZAR FAZ MAL AO BRASIL: É possível representar esse sentimento do povo, retomar a iniciativa, pautar 2018 e eleger trabalhadores(a) em defesa de nossos direitos roubados. Exatamente pela possibilidade de fragmentação eleitoral, fortaleçamos as trincheiras do povo unidoUnidade, bandeira da esperança. O povo, unido, jamais será vencido.

*Paulo Vinicius é secretário de Relações do Trabalho da CTB.


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