A batalha agora é de ideias e nas ruas

Viver em uma sociedade na qual prevalecem interesses individuais – em detrimento aos desejos coletivos – não é fácil, principalmente quando o sistema de exploração chega ao nível de manter mais de um bilhão de famintos no mundo atual. O capitalismo, cambaleante, se sustenta em torno de guerras sangrentas, ataques aos interesses nacionais e também em razão da circulação de trilhões de dólares na economia mundial, mantidos longe da produção e do desenvolvimento. Dinheiro virtual, sem pátria, a serviço dos bancos, acionistas e paraísos fiscais.

A crise do sistema, muito necessária ciclicamente, atinge sem consideração a todos, alguns povos mais e outros menos.

A introdução deste artigo permite a avaliação e o senso crítico. O passado deve ser observado e o presente possibilita ações e atos para que o futuro seja alterado em favor de ambientes menos hostis.

Dados incontestáveis

Entre 2002 e 2013, a economia brasileira cresceu de um PIB (Produto Interno Bruto) de R$ 1,3 trilhão para R$ 4,8 trilhões. O pressuposto básico é o de que há mais pessoas participando da riqueza do país, já que no mesmo período o PIB per capita saltou de R$ 16,8 mil para R$ 22,6 mil. A mortalidade infantil, que sempre atingiu aos pobres, nos últimos 11 anos caiu de 25,3 para cada mil crianças nascidas para 12,9 mortes – número ainda alto se se compararmos com os dados de Cuba (4,2 mortos para cada mil nascidos, metade da taxa vista atualmente nos Estados Unidos).

O desemprego, que há cerca de 20 anos, em 1995, atingia cerca de 13% da PEA (População Economicamente Ativa), chega em 2015 na casa dos 6%, com amplo crescimento do emprego com carteira assinada, mesmo levando-se em conta o aumento da população (de cerca de 150 milhões de habitantes para os 203 milhões atuais).

O salário mínimo, grande impulsionador da economia, contribui de forma inequívoca para a elevação dos demais salários. Em 21 anos (1994 a 2015), passou de US$ 86 para US$ 240 (maior valor de compra desde agosto de 1965, segundo dados do Banco Central). Em meados dos anos 90, com o salário mínimo comprava-se 11 sacos de cimento, enquanto hoje compra-se 31; em relação à compra de combustível, com esse mesmo salário mínimo há exatos 20 anos podia-se comprar 116 litros de gasolina, enquanto hoje compra-se 250 litros.

As matrículas de ensino superior em instituições federais saltaram de 22.300 em 2002 para 101.305 em 11 anos. Nesse mesmo período, as companhias aéreas obtiveram um salto de 33 milhões de passagens emitidas para cerca de 100 milhões de passagens (dados de 2013).

essalte-se aqui que este dado irrita sobremaneira a elite preconceituosa brasileira. Portanto, a pergunta que não quer calar é: a vida da maioria do povo brasileiro está melhor ou pior que 20 anos atrás? Em seguida vem outra questão: essa melhora (não tenho dúvidas) é fruto de política de governo ou não? É bom e necessário que não aceitemos retroceder. É preciso mais, muito mais.

A batalha pelo desenvolvimento

Lutaremos com unidade contra o processo de desindustrialização que compromete o desenvolvimento sustentável, bem como os empregos, a produção, a distribuição de renda e o consumo. É bom que se diga que nenhum país com mais de 25 milhões de habitantes se desenvolveu sem uma indústria forte. A taxas de juros (Selic) no patamar atual (12,75% ao ano) inibe o crescimento, freia a demanda, o emprego e fortalece os parasitas do setor financeiro, gastando muito “champanhe” importada para comemorar os lucros obtidos no Brasil, causando inveja aos banqueiros dos centros capitalistas.

Outro dilema nacional redunda na taxação das grandes fortunas. Não é possível mais conviver com 5 mil famílias neste país concentrando o equivalente a mais de 40% da renda nacional. Essa decisão política, de taxar as grandes fortunas, poderá salvar vidas, com a destinação total ou parcial para o SUS (Sistema Único de Saúde).

Avançar para a modernidade e para aumentar a produtividade não deve de modo algum ser sinônimo de rasgar direitos trabalhistas ou para se fazer um ajuste fiscal que tira mais de R$ 7 bilhões da educação, além de se somar aos cortes no seguro-desemprego, no auxílio-previdenciário por morte e no PIS (Programa de Integração Social). Esse valor pode não significar quase nada para os cofres do governo, mas acerta em cheio e em prejuízo a cara dos trabalhadores do nosso país.

Portanto, ganhar o debate das ideias é condição sine qua non entre quem produz e talvez não se enxerga como classe. Não existe meio termo nesta “guerra”. Ou estamos ao lado das mudanças ou estamos ao lado da mídia golpista e da elite, que inclusive não aceita empregada doméstica ter direitos trabalhistas resguardados em lei.

Meus caros e minhas caras, a luta agora não é virtual, mas sim no pé de ouvido e nas ruas. Vamos?

Marcelino Rocha é presidente da Fitmetal e da CTB-MG.
João Alves de Almeida, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Betim e Região (MG).

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