Marcha das Mulheres reúne 4,8 mi contra Trump; confira discurso de Angela Davis

No sábado (21), um dia após a posse oficial do presidente Donald Trump, milhares de mulheres em todo o mundo protestaram por direitos e contra os posicionamentos assumidos pelo novo presidente norte-americano. 

A Marcha Mundial das Mulheres já contabilizou mais de 4.834 milhões, segundo dados do site oficial e reuniu somente nos EUA  3,1 milhões de pessoas. Já é considerado o protesto com mais pessoas da história do país. 

O principal motivo do protesto é fazer frente às falas e ideias sexistas, misóginas e preconceituosas do presidente, mostrando que esta parcela dos americanos não compactua com os pensamentos de Trump.

O ato contagiou outros continentes, onde 673 passeatas também aconteceram em países como França, Itália, Holanda, África do Sul, Peru, Japão, Finlândia e República Tcheca. No Brasil, a manifestação aconteceu no Rio de Janeiro.

Famosas também aderiram ao movimento e saíram às ruas, enquanto outras fizeram questão de serem oradoras do evento, como America Ferrara, Madonna, Scarlet Johansson.  “Bem vindos à revolução do amor, à rebelião. A nossa recusa, como mulheres, de aceitar essa era de tirania. Onde não apenas mulheres estão em perigo, mas todas as pessoas marginalizadas. Onde pessoas unicamente diferentes podem ser consideradas um crime. Precisou desta escuridão para nos acordar… Eu escolho o amor”, declarou Madonna. 

Angela Davis

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A filósofa e feminista Angela Davis, 72 anos, uma das figuras mais marcantes da luta pelos direitos civis nos EUA, discursou no sábado 21 e afirmou: “Os próximos 1459 dias da gestão Trump serão 1459 dias de resistência: Resistência nas ruas, nas escolas, no trabalho, resistência em nossa arte e em nossa música”. Confira o discurso e o vídeo, na íntegra, abaixo:

“Em um momento histórico desafiador, vamos nos lembrar que nós somos centenas de milhares, milhões de mulheres, transgêneros, homens e jovens que estão aqui na Marcha das Mulheres. Nós representamos forças poderosas de mudança que estão determinadas a impedir as culturas moribundas do racismo e do hetero-patriarcado de levantar-se novamente.
 
Nós reconhecemos que somos agentes coletivos da história e que a história não pode ser apagada como páginas da Internet. Sabemos que esta tarde nos reunimos em terras indígenas e seguimos a liderança dos povos originários que, apesar da massiva violência genocida, nunca renunciaram à luta pela terra, pela água, pela cultura e pelo seu povo. Nós saudamos hoje, especialmente, o Standing Rock Sioux.
 
A luta por liberdade dos negros, que moldaram a natureza deste país, não pode ser apagada. Nós não podemos esquecer que vidas negras importam. Este é um país ancorado na escravidão e no colonialismo, o que significa, para o bem ou para o mal, a real história dos EUA é uma história de imigração e escravização. Espalhar a xenofobia, lançar acusações de assassinato e estupro e construir muros não apagarão a história.
 
Nenhum ser humano é ilegal!
 
A luta para salvar o planeta, interromper as mudanças climáticas, para garantir acesso à água das terras do Standing Rock Sioux à Flint, Michigan; para Cisjordânia e Gaza. A luta para salvar nossa flora e fauna, para salvar o ar – este é o ponto zero da luta por justiça social.
 
Esta é uma Marcha das Mulheres e ela representa a promessa de um feminismo contra o pernicioso poder da violência do Estado. E um feminismo inclusivo e interseccional que convoca todos nós a resistência contra o racismo, a islamofobia, ao anti-semitismo, a misoginia e a exploração capitalista.
 
Sim, nós saudamos o ‘Fight for 15’. Dedicamos nós mesmas para a resistência coletiva. Resistência aos bilionários exploradores hipotecários e gentrificadores. Resistência a privatização do sistema de Saúde. Resistência aos ataques contra muçulmanos e imigrantes. Resistência aos ataques contra as pessoas com deficiência. Resistência a violência do Estado perpetrada pela polícia e através da indústria do complexo prisional. Resistência a violência de gênero institucional e doméstica, especialmente contra mulheres trans negras.
 
Direitos das mulheres são direitos humanos em todo o planeta. E é por isso que nós dizemos ‘Liberdade e Justiça para a Palestina!’. Nós celebramos a iminente libertação de Chelsea Manning e Oscar Lopez Rivera. Mas também dizemos ‘Liberdade para Leonard Peltier! Liberdade para Mumia Abu-Jamal! Liberdade para Assata Shakur!’
 
Nos próximos meses e anos nós estamos convocadas a intensificar nossas demandas por justiça social e nos tornarmos mais militantes em nossa defesa das populações vulneráveis. Aqueles que ainda defendem a supremacia masculina branca e hetero-patriarcal devem ter cuidado!
 
Os próximos 1459 dias da gestão Trump serão 1459 dias de resistência: Resistência nas ruas, nas escolas, no trabalho, resistência em nossa arte e em nossa música.
 
Este é só o começo. E termino nas palavras da inimitável Ella Baker: ‘Nós que acreditamos na Liberdade não podemos descansar até que ela seja alcançada!’ Obrigada.”
 
(tradução de Juliana Borges)
 

Portal CTB com agências

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