Congresso estadual da CTB RS reúne centenas de trabalhadores em Porto Alegre

Da nova gripe A H1N1 às soluções para a agricultura familiar, passando pelas iniciativas brasileiras para superar os efeitos da crise mundial. Esse foi o foco do primeiro dia do 2º Congresso Estadual da Central de Trabalhadores e Trabalhadores do Brasil (CTB), que começou nesta quinta-feira em Porto Alegre.

Já na recepção, os cerca de 300 participantes do encontro foram recebidos por pessoas usando máscaras e luvas para evitar a contaminação com o vírus da nova gripe. Uma medida de higiene necessária nos dias em que aglomerações tornaram-se uma ameaça real à saúde. No auditório praticamente lotado da Fetag, delegados sindicais de quase todas as regiões do Estado discutiram temas que fazem parte da pauta de reivindicação da CTB.

O presidente da CTB RS, Guiomar Vidor, saudou a todos dizendo que o congresso já podia ser considerado um sucesso antecipado por ter conseguido reunir um número de pessoas tão expressivo. E fez um balanço do período em que esteve à frente da organização: ''Em um ano e três meses de trabalho podemos dizer que somos vitoriosos. Foi um ano que consolidou a nossa central como democrática, classista e de luta'', afirmou. Segundo Vidor, cerca de 80 sindicatos estão filiados à CTB gaúcha e a meta é duplicar esse número para que mais pessoas sejam beneficiadas. Para Vicente Selistre, vice-presidente nacional da CTB, a entidade do RS está de parabéns por ter se tornado, em tão pouco tempo, uma das mais mobilizadas do país. E, fazendo referência à doença que está assolando o país, foi categórico: ''Estou tomado pelo vírus da luta, da transformação dos trabalhadores'', disse.

Após a aprovação do regimento interno, onde está prevista para amanhã a eleição da nova diretoria da CTB RS, o assessor nacional Umberto Martins resumiu o trabalho que vem sendo desenvolvido em nível nacional e que deve pautar as discussões regionais. Entre os assuntos, a crise mundial foi mencionada. E com ela a necessidade cada vez maior de mobilização de todas as classes trabalhadoras para que o futuro não seja ainda pior para os brasileiros.

Martins declarou que está na hora de renovar a luta pelo socialismo, uma vez que a crise é produto do capitalismo desenfreado que atinge o mundo.''Somente com a valorização do trabalho vamos conseguir um desenvolvimento maior e mais satisfatório para toda a população''. Após as colocações de Martins, foi a vez do deputado federal Beto Albuquerque (PSB) tecer comentários sobre a participação ativa da classe no Estado. ''Só tenho a ressaltar o sucesso, a dimensão, a clareza e o foco que a CTB vem imprimindo na luta dos brasileiros'', declarou. Para ele, a CTB cumpre uma tarefa ativa na luta pela melhoria de vida da classe trabalhadora, como a batalha pela redução para 40 horas semanais da jornada de trabalho. Essa conquista, de acordo com o deputado, será histórica para os assalariados.

Redução de jornada: ''viver não é só trabalhar''

No começo da tarde foi a vez de Marcio Pochmann, presidente do Ipea, e um dos convidados de honra do evento, falar sobre o mesmo assunto.

O economista defendeu a tese de que uma nova era está surgindo, onde o conhecimento será muito mais valorizado que o trabalho braçal. E, para isso, não serão necessárias mais tantas horas no ambiente de trabalho.''As pessoas precisam ter mais tempo para estudar, para se atualizar e não ficarem à mercê das mudanças do mundo moderno. Educação não combina com trabalho. É humanamente impossível fazer as duas coisas juntas. Viver não é só trabalhar''.

Segundo Pochmann , essa nova sociedade já faz parte da vida das pessoas, mas elas não têm tempo para perceber. A dificuldade em se manter empregado tira o foco dos trabalhadores.
''Nos dias de hoje, os miseráveis contam seus dias. Um após o outro. Os operários, contam o mês, se esforçando para chegar até o final com um dinheirinho no bolso. A classe operária pensa no ano e os ricos têm planos para as décadas seguintes. Só com um planejamento sólido podemos alcançar nossos objetivos'', disse.

Tema recorrente em todas as classes sociais nos últimos meses, a crise mundial também foi enfocada na palestra de Pochmann. Para ele, a recessão não é uma novidade na dinâmica do capitalismo, mas que para o Brasil conseguir suportar é preciso aproveitar esse momento. Tirar lições de como crescer e se fortalecer numa época difícil como essa.

''A crise produz uma nova geração de pobres e novos efeitos políticos. Para avançar com relação a isso temos que ter um novo plano de financiamento a longo prazo, uma reestruturação da governança do mundo e o padrão de produção e consumo precisa ser alterado. Mas é importante salientar que nada disso vem do dia para a noite. É preciso trabalhar muito para que as mudanças sejam benéficas a todos'', afirmou.

Além disso, o economista destacou que o Brasil precisa diversificar e fortalecer suas parcerias comerciais, pois só assim poderá se tornar independente dos Estados Unidos. ''Para o Brasil ser uma grande potência é preciso que o Real circule fora daqui. E com força''.

Pochmann destacou ainda que a crise pode não estar tão próxima assim de acabar, como a imprensa vem divulgando atualmente. Ele acredita que ela possa ser cíclica e passar por vários momentos antes de ser totalmente superada. No entanto, foi otimista: ''Os números apontam para uma retomada satisfatória no segundo semestre deste ano. As categorias serão beneficiadas porque o Brasil tem a possibilidade de ter em 2010 um ano muito bom para as negociações''.

CTB se alia na luta por mais leitos hospitalares

Saindo do plano econômico e retornando à saúde, foi chamado o Dr. Néio Lúcio Pereira, assessor técnico da superintendência do Grupo Hospitalar Conceição, para falar sobre a pandemia que está deixando alarmado o povo gaúcho, principalmente pelo fato de o RS ser uma porta de entrada do vírus devido à proximidade com as fronteiras argentina e uruguaia.

Pereira relatou que um dos problemas mais graves enfrentados no combate à doença é a falta de leitos nos hospitais. O médico ressaltou que, devido ao baixo investimento que o governo Yeda Crusius faz na saúde, as pessoas não têm onde se curar. E, nesse ponto, buscou apoio da CTB para que um importante hospital volte a funcionar.''É inadmissível que numa época dessas os hospitais da Ulbra permaneçam fechados. Precisamos de uma mobilização popular para que o governo tome uma atitude rápida e não deixe essa instituição fechada enquanto milhares de pessoas precisam de acompanhamento qualificado''.

Segundo o médico, é provável que mais de cem mil pessoas já estejam contaminadas com o vírus e que todos os cuidados se fazem necessários para que a situação não piore ainda mais no Estado.

No encerramento do primeiro dia do Congresso da CTB os desafios para agricultura familiar também foram abordados pelo deputado estadual Heitor Schuch (PSB).

O encontro termina amanhã á tarde com a eleição da nova diretoria da CTB RS e uma caminhada seguida de ato público em frente ao Palácio Piratini.

Valeria Pereira

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