Lava Jato da Educação pode mirar onde quer e acertar onde não quer

Por Tascia Souza*

Na última sexta-feira (15), o jornalista Luis Nassif publicou artigo no Portal GGN analisando como o anúncio de uma suposta Lava Jato na Educação, uma parceria entre os ministros da Educação, Ricardo Vélez Rodrígues, e da Justiça, Sérgio Moro (usando a marca que o tornou conhecido como juiz), representa a inauguração oficial do estado policial no Brasil. “Não há fato definido, não há crime relatado. A própria denominação é o indício mais evidente de que haverá uma movimentação política na área”, escreveu o jornalista.

Segundo ele, a estratégia é óbvia. “Nos anos de governo PT, os dois setores mais beneficiados foram as empreiteiras, devido à volta das grandes obras, e a educação, devido às políticas implementadas, desde a expansão das universidades federais ao estímulo ao setor privado através do Fies (Fundo de Financiamento Estudantil)”, observou Nassif. “Em relação às universidades federais, a fórmula já foi dada no caso da Universidade Federal de Santa Catarina. A CGU (Controladoria Geral da União) identifica qualquer irregularidade. Com base nisso, a Polícia Federal consegue autorização para condução coercitiva com humilhação pública das pessoas envolvidas. Nem será necessário identificar dolo ou crime. Basta um juiz e um procurador politicamente alinhados. Até hoje não se sabe qual o crime cometido pelo reitor da UFSC, levado ao suicídio.”

De fato, há uma mira certa apontada para as universidades federais, a qual vai ao encontro, inclusive, dos objetivos parcamente escamoteados nas ideias de educação do ministro da pasta, conforme ressaltado pela coordenadora da Secretaria-Geral da Contee, Madalena Guasco Peixoto, em texto publicado na Carta EducaçãoE há uma semana. “Por trás da concepção expressa por Vélez Rodríguez estão implícitas, na verdade, duas grandes intenções: a privatização das universidades públicas e o fim das políticas de inclusão como as cotas e o ProUni — programa cujo nome Universidade Para Todos, aliás, deve parecer ininteligível aos ouvidos do ministro”, destacou a diretora da Confederação.

A questão é que, como o próprio Nassif considerou, a Lava Jato da Educação esbarra também no Fies e, portanto, nos interesses do setor privado e dos grandes conglomerados do setor educacional, que, inclusive, atuaram no processo eleitoral e colaboram na sustenção ao governo. Vale lembrar que a vice-presidente da Associação Nacional de Universidades Privadas (Anup), Elizabeth Guedes, é irmã do ministro da Economia, Paulo Guedes, como também apontado por Madalena Guasco em artigo falando sobre a conveniência do parentesco para os privatistas do ensino e o desastre que isso representa para a educação.

*Jornalista da Contee

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