Dentro de nove dias, a Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB) realiza seu 4º Congresso Nacional com a presença de 1, 2 mil sindicalistas de todo o país e do mundo que se reunirão em Salvador para debater, entre outros temas, os desafios do movimento sindical diante da atual conjuntura política e econômica mundial.
Celso Amorim debate globalização, direitos e democracia em seminário internacional da CTB
“A crise econômica global e o mundo do trabalho” é o tema do Seminário Internacional que abrirá as atividades e contará com a presença de sindicalistas de mais de 30 países. (Confira aqui a programação).
O PortalCTB conversou com o secretário de Relações Internacionais da central e secretário-geral adjunto da Federação Sindical Mundial (FSM), Divanilton Pereira, que denunciou o golpe no Brasil como parte da estratégia imperialista para a aplicação de uma agenda ultraliberal.
O dirigente falou ainda sobre importância do encontro sindical internacional e as perspectivas do movimento nesta nova conjuntura e denunciou o ataque estadunidense contra a soberania venezuelana.
Leia abaixo a íntegra da entrevista:
PortalCTB:O mundo passa por uma ofensiva conservadora. A aprovação de medidas como a reforma trabalhista no Brasil reflete esta nova conjuntura política. Diante desse cenário, quais os desafios para o movimento sindical internacional na luta em defesa dos direitos da classe trabalhadora?
Divanilton Pereira:O capitalismo provocou uma das maiores entre as suas recorrentes crises. No seu estágio de ultrafinanceirização revela-se incapaz de atender as necessidades da humanidade, sobretudo, da classe trabalhadora, pois com a sua natureza excludente, agride os avanços civilizacionais, ameaça a paz e impulsiona o desenvolvimento desigual das nações. A resultante é uma geopolítica instável e perigosa.
Esse sistema, ainda dominante em escala mundial, mais uma vez, lidera um movimento anti-trabalho, buscando reduzir o seu custo, joga todo o ônus contra os direitos da classe trabalhadora.
O atentado à democracia no Brasil é parte dessa estratégia e a aplicação da agenda ultraliberal em curso seu objetivo maior.O grande desafio do movimento sindical internacional é evitar sua dispersão política e constituir uma plataforma unitária em defesa do trabalho e uma ampla agenda de mobilizações em nível mundial.
Neste contexto, qual a importância de realizar o seminário internacional com representantes de entidades sindicais de mais de 30 países?
O seminário busca cumprir esse objetivo de destacar a importância da unidade de nossa classe, oferecer um diagnóstico geopolítico atualizado e acrescentar na agenda sindical mundial os desafios e os impactos da dita quarta revolução industrial, a economia 4.0, sobre o trabalho vivo.
Como a crise econômica mundial afeta os trabalhadores e trabalhadoras?
Sob a égide do capitalismo, quando suas crises surgem a classe trabalhadora é o primeiro alvo a ser atingido. Não está diferente dessa vez. Milhões de homens e mulheres estão no desalento do desemprego, os Estados nacionais sequestrados pela banca financeira e os direitos sociais e laborais sendo atacados. Por uma correlação de forças desfavorável ao trabalho e a produção, até mesmo programa do tipo New Deal (novo acordo) são inviabilizados. Faz-se necessário um contraponto a essa ofensiva rentista. Penso que o BRICS e seus aliados podem liderar esse processo. O sindicalismo precisa interferir nessas articulações inter-regionais.
A CTB integra o Comitê Brasileiro pela Paz na Venezuela, organização de ativistas políticos e sociais que denunciam a tentativa de desestabilização do governo de Nicolás Maduro. O que há por trás desta ofensiva contra aquele país?
A região latino-americana e caribenha descortinou, em 1998, um salto político econômico e social para os seus povos. Teve seus Estados nacionais fortalecidos e programas sócios-econômicos que promoveram uma histórica mobilidade social. Além disso, criou articulações políticas que promoveram a integração regional e diversificaram suas relações políticas e comerciais para além da América do Norte.
Do ponto de vista geopolítico, majoritariamente posicionou-se ao lado dos novos polos político-econômicos reforçando a luta contra a hegemonia imperialista estadunidense. Foi com Hugo Chávez que a nossa região iniciou essa estratégica experiência progressista. O império não assistiria à consolidação desse processo sem reagir. Por isso, de uma forma articulada com seus lacaios nacionais, desencadeou uma campanha de desestabilização política e econômica sobre os pilares dessa construção: O Brasil, a Argentina e a Venezuela.
Portanto, interromper a revolução bolivariana completaria essa fase golpista em nossa região. Contudo, o povo venezuelano compreendeu, melhor que outros, esse jogo e enfrenta com bravura a intervenção imperialista e suas forças auxiliares do país.
A CTB e a FSM apoiam e participam ao lado do povo daquele país contra essa ofensiva. Não nos orientamos pela mídia mundial que integra esse intento golpista e manipula parte da opinião pública. Para nós o centro da luta é a defesa do povo e de sua autodeterminação. Por isso reconhecemos a legitimidade do processo constituinte venezuelano.
Érika Ceconi – Portal CTB