Representatividade dos sindicatos cresce na China

P- Fale um pouco sobre a história da federação.

R- Nossa federação foi fundada em 1925. Nasceu na luta. Participou ativamente da guerra contra os japoneses (durante a 2ª Guerra Mundial) e na revolução que levou os comunistas (dirigidos por Mao Tse Tung) ao poder em 1949, após uma longa guerra civil. A federação joga um papel relevante como organização única da classe trabalhadora chinesa. Nossos sindicatos são organizados por localidades e ramos de atividade econômica. Temos 10 sindicatos por ramo e 33 por localidade. Hong Kong e Macau são autônomos, dentro do princípio de um país e dois sistemas sociais.

Desde 1978 vivemos um processo de abertura e a economia se transformou totalmente, de uma economia planificada para uma economia de mercado. O Estado mantém o controle dos setores estratégicos da produção (principalmente energia e indústria pesada), mas temos uma ampla economia privada, empresas estrangeiras e mistas. Atuamos tanto nas empresas públicas como nas privadas. Os sindicatos têm se esforçado principalmente para proteger os trabalhadores do setor privado, onde os problemas são maiores. A base da federação cresceu. Representamos, hoje, 140 milhões de trabalhadores, incluindo os migrantes. Na década de 1990 eram 103 milhões. Antes, não trabalhávamos com os camponeses. Faz apenas cinco anos que os sindicatos chineses começaram a trabalhar com os migrantes. Também aumentou a representação dos assalariados no setor privado.

P- Fala-se muito dos baixos salários e de uma super exploração da força de trabalho na China. O que há de verdade nisto?

R- Em comparação com os países mais ricos do Ocidente os salários chineses são modestos, porém a diferença não é tão grande quanto se alardeia. É preciso levar em conta que a mão-de-obra na China é muito numerosa, é a maior do mundo. Excluindo o campo, que ainda constitui maioria, temos 300 milhões de trabalhadores. A remuneração não é tão baixa. O poder de compra é mais elevado do que parece, devido à política cambial e aos preços de muitos produtos e serviços. Uma família chinesa pode sobreviver com o equivalente a 15 dólares mensais. Além disto, os salários têm subido constantemente desde 1995, quando se ganhava em torno de 500 ou 600 yuans (moeda chinesa) ou aproximadamente 60 dólares. Agora, em Pequim, o salário situa-se entre 500 a 600 dólares.

Na década de 1990 o salário de um mês era suficiente para comprar uma bicicleta, por exemplo. Hoje é possível comprar muito mais. A remuneração é diferenciada nas províncias e depende das regiões, mas em geral o poder aquisitivo se elevou muito e entendemos que isto é um processo. devemos enxergar a perspectiva e olhar para a frente. A jornada legal é de 40 horas semanais. As horas extras são pagas em dobro nos dias normais e o adicional aumenta para 200% nos finais de semana e feriados. Vivemos um processo de mudanças muito rápidas.

P- A nova legislação trabalhista suscitou muita polêmica?

R- Foi fruto de muitas lutas. Os grupos multinacionais criticaram muito e fizeram pressão para evitar sua aprovação. Os sindicatos foram a favor e o presidente da Assembléia Nacional Popular, Wang Zhaoguo, é também o presidente da Federação Nacional de Sindicatos, o que pesou a favor dos trabalhadores. É preciso lembrar, também, que a nossa Constituição diz que a China é um país dirigido pelo proletariado.

O Estado apóia a classe trabalhadora. O atual governo, em especial, tem dado mais atenção aos problemas dos trabalhadores e camponeses. O parlamento conta com um bom número de representantes sindicalistas. A lei sindical é avançada, prevê a organização por local de trabalho, instituindo os comitês de empresa quando há demanda neste sentido por parte dos trabalhadores.

P- Parece que as empresas não respeitam muito a legislação.

R- Realmente verificam-se problemas neste sentido, que exigem uma atenção e fiscalização maior dos sindicatos e do Estado. Os problemas maiores neste sentido ocorrem nas empresas privadas chinesas, assim como nas multinacionais asiáticas, do Japão, da Coréia do Sul, Hong Kong e Formosa (Taiwan). As empresas ocidentais têm uma tradição maior de respeito às regras legais. Na medida em que avança a representação sindical e a sindicalização temos condições de combater melhor as irregularidades e proteger a classe trabalhadora. O índice de sindicalização já é de cerca de 60%.

P- A violência no Tibete e os episódios em torno da chama olímpica não indicam que a ascensão vertiginosa da China está despertando muitos ciúmes nas potências capitalistas?

R- É natural que a ascensão da China altere o status quo mundial, estimulando a divergência de interesses políticos, econômicos e ideológicos. Os EUA já tiveram sua época de ouro. A China ama a paz, aposta no multilateralismo e defende o socialismo. O que pensamos é como desenvolver. Se o socialismo não puder desenvolver as forças produtivas não poderá atender os interesses do povo.

O propósito do Estado chinês é garantir uma vida modestamente confortável para todo o povo. A China, como outros países orientais, não tem tradição consumista, o povo é modesto e se satisfaz relativamente com pouco. Esta é uma das razões do crescimento econômico, pois resulta em taxas de poupança e investimentos elevadas.

P- Qual a sua avaliação do Encontro Sindical Nossa América?
R- Para mim é uma honra estar presente neste encontro, uma oportunidade muito boa para ter uma visão panorâmica da situação da classe trabalhadora no continente americano. Foi uma reunião avançada, progressista, que definiu uma plataforma para unir e elevar o protagonismo do movimento sindical na sociedade e que tem tudo a ver com o desenvolvimento político, econômico e social da América Latina. Desde a época do presidente Mao nós temos uma tradição de amizade e boas relações com os povos americanos. Isto faz parte da cultura chinesa. Também temos afinidades ideológicas e políticas com os organizadores do encontro. 

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