“Ser sindicalista é muito perigoso na Colômbia”.

Os ventos da mudança parecem soprar com força na América Latina, abalando os alicerces da ordem imperialista hegemonizada pelos Estados Unidos, mas por enquanto ainda não alcançaram a Colômbia, governada por um testa de ferro de Washington. Em entrevista concedida em Quito ao jornalista e assessor da CTB Umberto Martins, o sindicalista Alfonso Velasque, integrante do Comitê Executivo Nacional da CUT-Colômbia, fala sobre a difícil situação do movimento sindical naquele país. Leia abaixo:

P- Como você avalia o sindicalismo colombiano hoje?

R- As políticas neoliberais debilitaram o movimento sindical colombiano. Ser sindicalista na Colômbia é muito perigoso. Hoje, os sindicatos contam apenas com 4,6% de associados dentro de população economicamente ativa. Além disto, o sistema de contratação é hoje predominantemente flexível, com menos de um ano de duração ou mesmo por horas, com a atuação de intermediários no aluguel de mão-de-obra e de cooperativas de trabalho. Não há salários, mas participação.

Há uma estigmatização muito negativa do sindicalismo por parte do governo, por isto somos tão frágeis. Todavia, temos revelado capacidade de convocação e mobilização, por exemplo contra o Tratado de Livre Comércio proposto pelos EUA e a União Européia, que na realidade não são de livre comércio. Temos mobilizado por paz com justiça social e por uma saída negociada para os conflitos armados e acordos humanitários entre a insurgência e o governo, com troca de prisioneiros.

P- Qual a relação dos movimentos sociais com o governo Uribe?

R- As relações não são nada boas. O governo nos trata à base da repressão, não tem diálogo. Temos hoje na Colômbia 2700 presos políticos, inclusive sindicalistas. Cerca de 2900 sindicalistas foram assassinados nos últimos 20 anos, computamos 1700 exilados, 150 desaparecidos e só neste ano foram assassinados (até o início de maio) 24 sindicalistas e somamos mais um desaparecido. Há pouco mais de duas semanas o presidente da União Sindical Obreira (dos petroleiros), Jorge Gamboa, sofreu um atentado.

Os presidentes das centrais sindicais não são de esquerda e tem uma relação de maior diálogo com o governo. Porém, o governo não cumpre acordo. Com a esquerda não há diálogo. Temos um governo mafioso.

P- As pesquisas indicam, porém, que Uribe goza de muita popularidade. Como se explica isto?

R- As pesquisas são realizadas por institutos associados aos grandes meios de comunicação, controlados pela oligarquia. Não são confiáveis. No Congresso, que goza apenas de 27% de popularidade, temos 65 parlamentares envolvidos com o crime organizado, 31 foram presos. São os mesmos que elegeram Uribe.

Temos motivos para desconfiar que as pesquisas são manipuladas para favorecer a imagem de Uribe, que conta com total respaldo do governo Bush e do imperialismo. Uribe transformou a Colômbia em cabeça de praia para a política de guerra do governo estadunidense. É um cachorro do império.

P- Qual o julgamento que você faz das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, as FARCs?

R- Os imperialistas qualificam de terroristas não só as FARCs como todo e qualquer movimento que se oponha aos seus interesses, ao seu modelo intervencionista. Porém, na realidade, o governo Bush é o maior terrorista do mundo. Consideramos as FARCs como um grupo guerrilheiro, insurgente, que colocou uma agenda de 12 pontos para o diálogo de Cancun, que infelizmente nunca foi efetivado. Os pontos em questão têm de ser objeto de discussão em uma Constituinte, preferencialmente. A insurgência tem de fazer parte do diálogo constitucional, é este o caminho para a paz, a justiça social, o desenvolvimento.

Creio que o pólo democrático alternativo, que agrega diferentes organizações de esquerda, é uma força eleitoral crescente, como o PT no Brasil e o PDN no México. Aspiramos ser governo em 2010 ou no mais tardar em 2014.

P- E as centrais sindicais?

R- Temos três centrais sindicais na Colômbia, com participação de correntes liberais, sociais democratas e comunistas. A CUT é a mais forte.

P- Fale sobre o Encontro Sindical Nossa América

R- Desde setembro do ano passado, quando demos os primeiros passos para a realização deste encontro, temos consciência da importância desta reunião, que tem caráter inclusivo, apelando a todas as forças e organizações democráticas para a unidade em defesa das mudanças em curso na América Latina, contra o imperialismo e a possibilidade de retrocesso neoliberal. Reunimos aqui em Quito representantes de 20 países para defender a revolução cubana, a revolução bolivariana, a integração solidária dos povos, os processos alternativos ao neoliberalismo, rechaçando as injustiças, a fome e a miséria. Pleiteamos a soberania alimentar e a defesa do meio ambiente.

Elaboramos uma Carta de Quito que reflete o pensamento coletivo unitário e aponta para um plano mínimo de ação. Não tenho dúvidas que foi um encontro exitoso. O próximo será realizado no Brasil. Manifestamos nosso firme apoio aos governos progressistas, como o de Chávez na Venezuela, Correa no Equador, Morales na Bolívia, entre outros. Identificamos nosso grande desafio, que é o de trabalhar no sentido de unir a classe trabalhadora e elevar o seu protagonismo nas lutas políticas que sacodem a América Latina. Vemos, por exemplo, que líderes como Chávez e Correa procuram se apoiar mais nas Forças Armadas que nos movimentos sociais, enquanto Morales mobiliza os indígenas. Isto que reflete nossas debilidades. O apoio dos militares é importante, porém é fundamental a participação mais ativa e decisiva da classe trabalhadora neste processo. Se a classe operária não assumir a vanguarda da luta política pela transformação social, as oligarquias, que continuam fortes, seguirão dominando e não conseguiremos abrir caminho a mudanças mais profundas. 

 

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Encontro Sindical Nossa América


Moção de solidariedade e pela liberdade de sete cidadãos peruanos detidos e acusados falsamente de terroristas


Considerando:
1.    Em fevereiro de 2008, na fronteira peruano-equatoriana, foram detidos sete cidadãos peruanos que retornavam do Congresso da Coordenadora Continental Bolivariana realizado na cidade de Quito.


2.    O governo peruano de Alan Garcia prendeu essas sete pessoas sob a falsa acusação de terrorismo e, mesmo sem abertura de processo judicial, elas foram encarceradas no presídio Castro Castro, de Canto Grande, Lima e Santa Mônica de Callao.


3.    Os presos são pesoas que pertencem a organizações sindicais, populares e políticas, que embora divergindo das políticas governamentais estão amparados pelo Artigo 2º da Constituição, que garante o directo à liberdade de expressão, opinião e pensamento.


Por tudo isto, o Encontro Sindical Nossa América decide:


1.    Expresar nossa solidariedade com os sete companheiros (as) detidos (as) e exige do governo peruano a liberdade de: María Socorro Gabriel Segura, Carmen Asparrent Rivero, Guadalupe Hilario Rivas, Armida Valladares Jara, Damaris Velazco Huiza, Meliza Patiño Hinostroza y Roque Gonzales La Rosa.


MOCIÓN DE SOLIDARIDAD Y DE LIBERTAD PARA SIETE CIUDADANOS (AS) PERUANOS (AS) DETENIDOS Y ACUSADOS FALSAMENTE DE TERRORISTAS.

Considerando:


1.    El pasado mes de Febrero en la frontera peruano-ecuatoriana fueron detenidos siete ciudadanos y ciudadanas peruanos y peruanas en circunstancias en que retornaban a Perú después de haber asistido al Congreso de la Coordinadora Continental Bolivariana realizado en la ciudad de Quito.


2.    El Gobierno peruano del señor Alan García, procedió a la detención de estas siete personas acusándolas falsamente de cometer el delito de terrorismo y sin haber sido sometido a un debido proceso judicial, hoy se encuentran en las cárceles “Castro Castro” de Canto Grande, Lima y “Santa Mónica” del Callao.


3.    Los detenidos son personas que pertenecen a organizaciones sindicales, populares y políticas que si bien es cierto, discrepan con la política gubernamental, están amparados por el Artículo 2º de la Constitución Política que garantiza el derecho a la libertad de expresión, opinión y pensamiento.

Por estos considerandos el Encuentro Sindical Nuestra América ACUERDA:


1.    Expresar nuestra solidaridad con los siete compañeros (as) detenidos y solicita al Gobierno peruano la libertad de: María Socorro Gabriel Segura, Carmen Asparrent Rivero, Guadalupe Hilario Rivas, Armida Valladares Jara, Damaris Velazco Huiza, Meliza Patiño Hinostroza y Roque Gonzales La Rosa.

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2.    O governo peruano de Alan Garcia prendeu essas sete pessoas sob a falsa acusação de terrorismo e, mesmo sem abertura de processo judicial, elas foram encarceradas no presídio Castro Castro, de Canto Grande, Lima e Santa Mônica de Callao.

3.    Os presos são pesoas que pertencem a organizações sindicais, populares e políticas, que embora divergindo das políticas governamentais estão amparados pelo Artigo 2º da Constituição, que garante o directo à liberdade de expressão, opinião e pensamento.

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3.    Los detenidos son personas que pertenecen a organizaciones sindicales, populares y políticas que si bien es cierto, discrepan con la política gubernamental, están amparados por el Artículo 2º de la Constitución Política que garantiza el derecho a la libertad de expresión, opinión y pensamiento.

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Zheng JiahengZheng Jiaheng

Representatividade dos sindicatos cresce na China

No dia 1º de outubro de 2007, a Assembléia Nacional Popular da China aprovou uma nova legislação trabalhista, que ampliou os direitos da classe trabalhadora e fortaleceu o movimento sindical. A decisão do parlamento foi precedida de intenso debate. Mais de 200 mil sugestões foram encaminhadas, principalmente por trabalhadores, em sua maioria visando o aperfeiçoamento das normas.

As multinacionais, especialmente as norte-americanas, também se mobilizaram, promovendo forte pressão contra as mudanças. Foi uma luta em que a contradição entre os interesses dos capitalistas e dos assalariados ficou nítida, um capítulo da luta de classes que teve um final feliz para os trabalhadores e trabalhadoras: o governo e o parlamento não cederam ao patronato. Também neste caso, como na política econômica, a China fez uma opção soberana e oposta à do capitalismo neoliberal, que tem se pautado pela desregulação, flexibilização e crescente precarização das relações entre capital e trabalho.

A nova lei entrou em vigor em janeiro deste ano e uma das razões para o desfecho positivo é o fato de que o presidente da Assembléia Nacional Popular, Wang Zhaoguo, é também um destacado dirigente sindical, conforme assinalou  (o Pedro), membro do Departamento Internacional da Federação Nacional de Sindicatos da China, em entrevista concedida ao jornalista Umberto Martins, assessor da CTB, durante o Encontro Sindical Nossa América, realizado na capital do Equador (Quito) nos dias 5 a 7 de maio.

Leia abaixo a íntegra da entrevista:

 Intervenção feita pelo jornalista Umberto Martins, assessor da CTB, dia 5-5 no Encontro Nacional Nossa América . Clique aqui para acessar a versão em espanhol