Brasil e Argentina estudam aumentar barreiras comerciais

Cristina Kirchner e Luiz Inácio Lula da Silva. Foto: AP

Segundo negociadores dos dois governos, uma das principais medidas seria o aumento da Tarifa Externa Comum (TEC) para os produtos importados dos países asiáticos, especialmente da China e principalmente os do setor têxtil.

Uma maior barreira tarifária – hoje em 35% – tornaria estes produtos mais caros e protegeria a indústria local.

Há temores de que a crise financeira global e uma possível queda nas vendas em algumas regiões do mundo façam com que os exportadores asiáticos aumentem sua oferta de produtos ao Mercosul.

De acordo com a imprensa argentina, os efeitos do terremoto financeiro foram também o principal assunto de um telefonema entre a presidente argentina, Cristina Kirchner, e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

"A dúvida é saber se Paraguai e Uruguai aceitariam o aumento da TEC", disse um negociador brasileiro à BBC Brasil.

Segundo ele, a idéia é adotar medidas conjuntas para evitar que a importação "excedente" não ingresse no bloco através de algum dos sócios.

Esta e outras medidas deverão ser tratadas numa reunião – ministerial ou mesmo presidencial – prevista para a semana que vem, ainda sem data marcada.

Prevenção

Na sexta-feira, o secretário de Relações Econômicas Internacionais, embaixador Alfredo Chiaradia, antecipou que seriam adotadas "medidas preventivas", mas combinadas entre Argentina e Brasil.

A Argentina sinaliza, assim, que não pretenderia adotar medidas unilaterais para tentar impedir o aumento das exportações brasileiras para seu mercado, caso o real continue sendo desvalorizado frente ao dólar.

"O Brasil é nosso principal sócio e vamos cuidar desta nossa relação, mas também vamos cuidar das empresas argentinas", disse o chefe de Gabinete da Presidência, Sérgio Massa.

A orientação de Cristina Kirchner é trabalhar com o Brasil, mas a sua equipe fica atenta para identificar se algum produto brasileiro está "invadindo" a Argentina.

Nesse caso, o assunto seria discutido diretamente com governo e empresários brasileiros.

O Brasil é o principal sócio comercial da Argentina e acumula mais de 60 meses de saldo positivo na balança comercial com este vizinho. Na sexta-feira, o real foi cotado em torno de 2,25 por dólar e o peso argentino valeu cerca 3,24.

Ainda assim, alguns industriais argentinos, como os do setor têxtil, máquinas agrícolas e autopeças, temem "avalanche" de similares brasileiros.

Na semana passada, a situação cambial no Brasil foi um dos principais assuntos na Argentina. Numa reunião com assessores, Cristina Kirchner pediu atenção ao quadro econômico do Brasil.

Segundo a imprensa local, chegou-se a analisar a adoção de medidas "drásticas" para frear uma invasão de produtos brasileiros. Mas no fim de semana, o governo de Cristina teria decidido enfrentar a situação junto com o Mercosul e, principalmente, com o Brasil.

Dominó

A revista de economia Fortuna, que chegou às bancas no fim de semana, publicou na primeira página: "Empresários falam do efeito dominó do Brasil".

O empresário Aldo Karagozian, diretor da empresa têxtil TN&Platex, disse que o Brasil é hoje "maior problema" do que a China.

"O Brasil é o pior problema que a Argentina tem hoje. Há um mês era a China e talvez volte a ser, mas agora é o Brasil porque é muito fácil que o Brasil (na crise) mande sua produção excedente para a Argentina", disse.

No passado, Karagozian, entre outros industriais, foram defensores da implementação de cotas, limitando as exportações brasileiras. Recentemente, apesar da balança favorável ao Brasil, este comércio tem registrado cifras recordes, satisfazendo os dois lados, pelo menos até estourar a crise.

Numa entrevista ao jornal Perfil, Paulo Skaf, presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), disse que não haverá "invasão" de produtos do Brasil na Argentina.

Além das medidas conjuntas com o Mercosul, o governo de Cristina vai monitorar as importações dos Estados Unidos, de onde chegam 40% das importações argentinas e onde começou a atual crise financeira.

O governo argentino também deverá aumentar suas compras no mercado interno para fortalecer a indústria local.

Além disso, não se descarta que adie o pagamento anunciado, mês passado, ao Clube de Paris. Com isso, tecnicamente, a Argentina continuará em default – fora do mercado financeiro, mas sem deixar de sentir seus efeitos, já que o dólar e a taxa de risco país também subiram nestes dias de incertezas.

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