Massacre em Curuguaty criminaliza trabalhadores rurais sem-terra

O julgamento contra os trabalhadores rurais sem-terra paraguaios que resistiram à reintegração de posse no acampamento Marina Kue, localizado no município de Curuguaty, terminou, na última segunda-feira (4), após ser adiado diversas vezes nestes quatro anos.

Apesar de não ter sido apresentada nenhuma prova contra eles, 11 camponeses podem pegar de cinco a 40 anos de prisão, acusados pelas mortes dos policiais no massacre que culminou com o afastamento do presidente Fernando Lugo.

Os movimentos sociais paraguaios anunciaram uma grande mobilização para a próxima segunda (11), dia em que as penas serão divulgadas. Há um acampamento permanente instalado em frente ao Poder Judiciário em protesto contra as injustas condenações.   

Golpe no Paraguai

A matança – conhecida como massacre de Curuguaty – ocorreu no dia 15 de junho de 2012, quando 324 oficiais da Polícia Nacional fortemente armados entraram em confronto com cerca 60 camponeses – metade deles mulheres, crianças e idosos – o conflito resultou na morte de 11 camponeses e seis policiais e com a destituição do presidente Fernando Lugo.
Pelo assassinato dos 11 camponeses, ninguém foi investigado. Esta é uma denúncia frequente dos movimentos sociais como o representante da Federação Sindical Mundial (FSM) no Paraguai, Santiago Ortiz.

“O Ministério Público só direcionou sua investigação para condenar os sem-terra. Fizeram isso para montar o golpe parlamentar de Estado contra Lugo e acabar com o processo de mudança iniciado em 2008”, denuncia o sindicalista referindo-se à questão agrária no país colocada em pauta durante o governo do ex-bispo.

Criminalização do movimento agrário

Desde o início das investigações sobre o caso, somente os camponeses foram acusados pelo massacre, sem nenhuma comprovação, eles ficaram cerca de um ano presos e atualmente estão em regime domiciliar, menos o líder do movimento agrário paraguaio (Moapa) Rubén Villalba que está preso desde então.

A promotoria pede longas penas para os acusados: Luis Olmedo, 25 anos; Arnaldo Quintana, 20 anos; Nestor Castro, 20 anos; Felipe Benítez, 5 anos; Adalberto Castro, 5 anos; Alcides Ramírez, 5 anos; Juan Carlos Tillería, 5 anos; Fani Olmedo, 8 anos; Dolores López, 8 anos e Lucia Aguero, 8 anos. A maior delas é para Villalba que pode chegar a 40 anos.

Solidariedade internacional 

Movimentos nacionais e internacionais, entre eles a CTB e a FSM, têm denunciado a perseguição política sofrida por Villalba que era o principal dirigente da organização que estava ocupando o local, além disso tem uma trajetória na luta do campo, segundo Ortiz, “por essa razão o acusam de ser o principal responsável [pela ocupação] e de ter matado um dos policiais, mas não conseguiram provas contra ele”, informa.

O secretário de Relações Internacionais da CTB, Divanilton Pereira, alerta que os trabalhadores rurais sem-terra foram injustamente incrimidados. “O camarada Rubéns é uma das maiores vítimas do Estado de exceção que vive o povo paraguaio”, expressou o sindicalista.

Segundo ele, a situação no Paraguai precisa ser amplamente divulgada nos fóruns de debate. “A FSM já denunciou essa perseguição [contra os trabalhadores rurais] na Organização Internacional do Trabalho (OIT). Continuaremos lutando em defesa da classe trabalhadora”, informou o dirigente que é coordenador da FSM Cone Sul.     

Érika Ceconi – Portal CTB 

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