Libertação da Palestina é estratégica para os trabalhadores e trabalhadoras

A Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB-RS), que faz parte da organização do Fórum Social Mundial Palestina Livre, realizou na manhã de quinta-feira (29/11), no auditório da Superintendência Regional do Trabalho e Emprego do Rio Grande do Sul (SRTE-RS) o debate “A libertação da Palestina é estratégica para os trabalhadores e trabalhadoras”. O evento contou com a presença do embaixador da Palestina no Brasil, Ibrahim Al Zeben, que lembrou a importância desta data, uma vez que foi em 29/11/1947 (há exatos 65 anos) o dia em que a Organização das Nações Unidas fez a partilha dos Estados de Israel e da Palestina.

“Para a CTB é uma questão estratégica, na luta dos trabalhadores que querem construir uma sociedade mundial justa e igualitária, a luta pela defesa do Estado Palestino. Por isso estamos organizando e fomentando esse ato político para que o povo palestino tenha a sua pátria e o seu país reconhecido, com liberdade e autonomia”, saudou o presidente da CTB-RS, Guiomar Vidor no início do debate. “É preciso que a gente compreenda cada vez mais e melhor a situação da Palestina porque assim teremos mais convicção para estarmos agregados a essa importante luta pelo Estado Palestino.”

“A luta da Palestina é uma luta de todos nós”, destacou o superintendente Cláudio Corrêa, da SRTE-RS. “Hoje somos todos palestinos em defesa dos trabalhadores”, ressaltou, ao destacar que era porta-voz da saudação enviada pelo Ministro do Trabalho, Brizola Neto, aos organizadores do Fórum.

“O inimigo número 1 da causa palestina tem sido a ignorância e a falta de informação”, iniciou o embaixador da Palestina, Ibrahim Al Zeben. “É um prazer participar de um evento dos nossos amigos da CTB, que sempre estiveram ao lado da causa palestina’, ressaltou. Ao lembrar que, em 29/11/1977, a Organização das Nações Unidas decretou essa data como “Dia Internacional de Solidariedade do Povo Palestino”, o embaixador aproveitou para fazer uma crítica ao que considera um erro histórico.

“A ONU, 30 anos depois de ter recomendado a partilha da Palestina, tomou outra resolução. O significado desse ato é muito importante porque a própria organização reconheceu que foi um erro a resolução de 1947. O significado é histórico, porque é o reconhecimento de um erro das Nações Unidas, que não tinha competência para violar o direito à autodeterminação dos povos, que consta no segundo capítulo da Carta Magna daquela instituição. Tanto que nunca mais em sua história a ONU voltou a tomar essa atitude.”

Após se declarar muito satisfeito pelo apoio recebido à causa da Palestina Livre no Fórum Mundial de Porto Alegre, o embaixador advertiu. “Esse processo de conscientização sobre a Palestina deve prosseguir porque estamos diante de inimigos e adversários poderosos, capazes de encobrir fatos e reverter uma realidade. Hoje somos a maioria e mais fortes, mas precisamos melhorar nossa estrutura de comunicação e exercer nosso poder. Temos que encontrar novos meios para fazer frente à ocupação de nossas terras, que tem provocado uma guerra injusta. Israel tem o direito de viver em paz, mas não é justo que prossigam, há 64 anos, oprimindo o povo palestino.”

“O conflito na região da Palestina é político e não religioso”

O palestrante do seminário, o sociólogo e arabista, Leujene Mirhan, fez questão de elogiar, na abertura, a iniciativa da CTB. “Das seis centrais sindicais que participam desse Fórum, a única que propôs uma mesa para discutir sindicalismo foi a CTB-RS”, ressaltou. “Se não fosse o dinamismo da CTB do Rio Grande do Sul, muito do Fórum Mundial Palestina Livre não teria saído”. reconheceu.

Mirhan afirmou que o conflito na região da Palestina é político e não religioso. Ele falou da resistência dos trabalhadores palestinos contra a ocupação israelense. Também abordou o desenvolvimento econômico da Palestina, que hoje compreende menos que 20% de seu território histórico. “Isso também se deve ao confisco de terras praticado por Israel, para a construção ilegal de colônias judaicas. Na Cisjordânia, onde vivem quase 4,5 milhões de palestinos, cerca de 250 colônias abrigam em torno de 600 mil judeus ortodoxos”, explicou.

“Estudei Israel em seu aspecto religioso. Li três livros dos principais historiadores. Nas primeiras 50 páginas eles afirmam: o que está sendo contado aqui é baseado na lenda. Não há uma prova documental que Abraão, Moisés ou Noé existiram. E os estudiosos da Bíblia, como Karen Armstrong, ex-freira inglesa que mais entende de religião no mundo, em várias passagens de seu livro “Em defesa de Deus”, apesar da densidade dos argumentos, não comprova a sua existência. A Bíblia, pelo tipo de texto, foi escrita por quatro pessoas 200 anos antes de Cristo com o projeto de colonizar a Palestina já naquela época. Dessa maneira, fundaram uma religião no final do século 19 e exerceram essa força para colonizar a Palestina”.

A respeito do sionismo, Leujene Mirhan fez questão de historiar a sua criação. “Este é o projeto político, nacional, colonial de um grupo da elite judaica que não morava na Palestina. Eles viviam na Europa e tinham o projeto de voltar para a Palestina e ocupar aquela terra. Para isso precisaram fazer uma aliança com o imperialismo mais forte. Na época, final do século 19, era o imperialismo inglês. O congresso fundamental que fizeram foi em 1897, na cidade de Basileia (Suíça). O líder desse movimento escreveu um livro intitulado ‘O Estado Judeu’ onde relata que eles debateram onde poderia ser criado o Estado. Havia três opções, que foram votadas: Argentina, Amazônia e Uganda. Mas só um lugar teve a força de atrair judeus do mundo inteiro: a Palestina”.

A partir dessa decisão de 1897, ondas migratórias de judeus foram para a Palestina. “Com dinheiro do Banco Rothschild, agência judaica internacional, compravam as terras dos árabes e foram criando o que chamam de ‘Kibutz’. Tinham alguns que até se diziam socialistas, comunistas. Puro engodo. Eram somente colonialistas. Tanto que o primeiro censo, feito pelos britânicos, em 1922, informava que havia 500 mil palestinos e cerca de 10 mil judeus que nunca saíram de lá depois da ‘Diáspora’. Esses viveram em paz com os palestinos a vida inteira, nunca tiveram problema.”

Depois da Segunda Guerra Mundial, ainda sob o impacto do holocausto que vitimou milhões de judeus, a ONU decidiu partilhar a Palestina. “A divisão resultou em 54% para os judeus que não tinham quase nada dessas terras. Esses 10 mil judeus tinham cerca de 3% das terras da Palestina. Mas ficaram com 54%. E os palestinos, que eram donos das terras, ficaram com 46%. Esse foi o plano de partilha aprovado no fatídico dia 29/11/1947, há exatamente 65 anos.”

A resolução 181 da ONU mandou criar dois Estados. “Mas depois de seis meses, no dia 15 de maio de 1948, a Inglaterra desocupou a Palestina e encerrou o mandato britânico. Quando saíram, o líder israelense David Ben-Gurion proclamou a criação do Estado de Israel. E ao fazer isso, os judeus, que tinham uma guerrilha muito eficiente, destruíram 453 aldeias palestinas e Israel expandiu seu território de 54% para 68%. Cerca de 800 mil palestinos fugiram na época. O Rio Grande do Sul foi o estado que concentrou o maior número de refugiados palestinos”, historiou Mirhan.

Por que Israel e os Estados Unidos não querem o Estado da Palestina? “Porque nas terras que estão dentro da Cisjordânia existem 250 colônias em que moram judeus ortodoxos em casas de mil metros quadrados, com piscina. Então, a situação é muito explosiva e de conflito. Quando a Palestina for um Estado soberano, esses colonos ortodoxos passarão a ser invasores. Por isso EUA e Israel são contra a criação do Estado Palestino”.

“Nós organizamos esse Fórum coincidir a marcha pela Palestina Livre com a votação da Assembleia da ONU que aprovou a Palestina como Estado observador. De agora em diante, teremos, inclusive, o poder de protocolar uma representação no Tribunal Penal Internacional contra Israel. Se o Estado da Palestina for criado hoje, ele ficará só na Cisjordânia, Gaza e Jerusalém oriental. Isso significa apena 20% da Palestina. Mas ainda assim eles querem o seu Estado. Tenho contato com as 12 organizações que atuam dentro da Organização pela Libertação da Palestina (OLP). Já ouvi de vários deles: ‘Se for 1 centímetro quadrado de terra, nele edificaremos o Estado da Palestina’, finalizou o sociólogo Lejeune Mirhan.

Emanuel Mattos – CTB-RS

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