Os desafios e estratégias de integração na América Latina foi o tema debatido na abertura do 3º Seminário de balanço dos governos progressistas e de esquerda, realizado nesta sexta-feira (2), durante as atividades do 19º Foro de São Paulo.
A mesa foi composta pela integrante do secretariado do Comitê Central do Partido Comunista de Cuba, Olga Lidia Tapia, juntamente com o coordenador nacional de assuntos internacionais do Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV), deputado Rodrigo Cabezas; o presidente da Fundação Perseu Abramo, Marcio Pochmann e mediada pelo presidente da Fundação Maurício Grabois, Adalberto Monteiro.
Durante a exposição, Olga contou sobre a experiência revolucionária cubana e destacou que Hugo Chávez compreendeu que o projeto bolivariano era a alternativa contra o imperialismo, ela também afirmou que iniciativas como os blocos de integração como a Comunidade dos Estados Latino-americanos e Caribenhos (Celac), Mercado Comum do Sul (Mercosul) União das Nações Sul-americanas (Unasul) e a Alternativa Bolivariana para os povos de Nossa América (Alba) não seriam possíveis sem a presença dos governos progressistas da esquerda.
“Raúl Castro estimava que o estabelecimento da Celac [criada em 2011] foi o acontecimento mais importante dos últimos 200 anos, encontramos o caminho para a unidade dos países com a capacidade de nos integrar mesmo com as diversidades dos governos latino-americanos e caribenhos”, frisou a cubana.
Sobre o assunto Adalberto Monterio lembrou que a presidência temporária do bloco está sendo exercido pela ilha caribenha e saudou o povo cubano, que “mantém alta a bandeira da integração”, apesar de sofrer as conseqüências de um bloqueio econômico, que dura mais de meio século, protagonizado pelo governo estadunidense.
No entanto, analisou-se que direita também tem suas estruturas como a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) , que recentemente assinou um acordo de cooperação com a Colômbia para a troca de informações e “boas práticas” na luta contra o narcotráfico, além da Aliança do Pacífico composta por Chile, Colômbia, México e Peru, considerada uma ameaça para todo o continente.
Neste sentido foi reafirmada a importância da reincorporação do Paraguai, que foi expulso do Mercosul e da Unasul, em sinal de rechaço ao golpe parlamentar de Estado contra o então presidente eleito democraticamente Fernando Lugo, em 2012, para que volte aos blocos, após a realização de eleições naquele país este ano, para que não seja incorporado à Aliança do Pacífico.
Governos progressistas
O economista Marcio Pochmann informou que o Brasil não tem uma tradição democrática, faz 50 anos que o país exerce um regime democrático, e que nos últimos 10 anos – governados pelos governos progressistas de Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff -houve um crescimento econômico e o enfrentamento das desigualdades sociais, além da consolidação de uma política externa brasileira mais autônoma. Pochmann fez um alerta para o poder dos monopólios. “As grandes corporações são mais importantes que os países. Hoje temos empresas que tem países e não países que tem empresas”.
Ele criticou a falta de política monetária nacional e acrescentou que é preciso resistir ao neoliberalismo e fomentar a defesa de uma política produtiva autônoma. Já o deputado venezuelano, Rodrigo Cabezas, explicou sobre a proposta da criação de uma nova arquitetura financeira na região, que visa impulsionar o comércio intra-regional com moedas locais por meio da criação do Banco do Sul e de um Fundo Monetário, que garantirá a autonomia do continente.
“A nova arquitetura financeira propõe que a América Latina construa uma grande plataforma de industrialização para exportações e superar a alta concentração de bens estruturais”, expressou Cabezas, ele disse ainda que a maior concentração de recursos naturais, explorados pelo capitalismo, se encontram na região.
A criação de uma qualificadora de risco e um centro de resolução de controvérsia próprios, formam as propostas apresentadas pelo venezuelano, como instrumentos desta nova arquitetura financeira.
No fim do encontro, a representante do partido boliviano Movimento para o Socialismo (MAS), pediu para que haja a integração dos partidos políticos com os movimentos sociais e recordou do recente atentado contra o presidente Evo Morales, que teve o sobrevôo negado por países da Europa com a suposta desculpa de que o ex-agente da CIA, Edward Snowden, que é procurado pelos Estados Unidos, por revelar um esquema de espionagem praticado naquele país, estaria dentro da aeronave. “Quantos planos contra a vida de Evo já fracassaram?”, questionou.
Num ato de solidariedade o mediador da mesa, pediu para que todos os participantes se levantassem e fizessem uma salva de palmas em rechaço à investida contra o presidente boliviano. Morales participará no próximo domingo (4) do encerramento do 19º Foro de São Paulo, que está sendo realizado na capital paulista desde a última quarta (31).
O encontro internacional segue no final de semana acompanhe a programação completa no site oficial do evento.
Érika Ceconi – Portal CTB