Federação Sindical Mundial reafirma apoio à luta da classe trabalhadora peruana

Representantes do movimento sindical de todo o mundo estão reunidos em Lima (Peru), desde a última quarta-feira (16), para o 14º Congresso Nacional Ordinário da Confederação Geral dos Trabalhadores daquele país (CGTP) que ocorre até o próximo sábado.

Começa nesta quarta (16) o 14º Congresso da Confederação Geral dos Trabalhadores do Peru

Na abertura do evento, o secretário de Relações Internacionais da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), Divanilton Pereira, que é membro do secretariado da Federação Sindical Mundial (FSM), fez uma exposição em nome da entidade internacional.

Durante seu discurso, o sindicalista denunciou a crise econômica mundial e seus efeitos na classe trabalhadora. “São aplicadas medidas liberais recessivas que aumentam o desemprego, inviabilizam os orçamentos públicos para o social, desregulamentam o mercado de trabalho com a terceirização e a flexibilização das modalidades contratuais”, alertou.

Ele também alertou para a instabilidade política no continente com a ofensiva conservadora contra os governos progressistas e de esquerda. “Em meu país, o Brasil, promoveram um golpe parlamentar-judiciário e depuseram a presidenta eleita Dilma Rousseff sem nenhum crime previsto na Constituição brasileira”, declarou o dirigente. Divanilton concluiu sua fala reafirmando o apoio da FSM à luta dos trabalhadores e trabalhadoras no Peru.

Leia abaixo a íntegra do discurso:

Companheiras e companheiros,

Recebam dos 92 milhões de trabalhadoras e trabalhadores de 126 países dos 5 continentes, a calorosa saudação da Federação Sindical Mundial à combativa Confederação Geral dos Trabalhadores do Peru, em especial, ao seu líder classista e Secretário Geral, Mario Huamán Rivera. Congratulo-me também com a companheira Carmelia Sifuentes, presidenta da CGTP e o camarada vice-presidente da FSM, Valentin Pacho.

É uma honra para a FSM estar presente em mais um congresso da CGTP e um orgulho em tê-la como entidade filiada. Em nome de nosso Secretário Geral, George Mavrikos, agradecemos o convite por aqui estar.

Destacamos que esse XIV Congresso ocorre numa situação mundial e regional repleta de singularidades.

A instável situação política internacional continua refletindo o desenvolvimento desigual das nações. O predomínio do setor financeiro no capitalismo contemporâneo, atinge patamares incontroláveis e, também por isso, essa hegemonia corrói o já débil padrão civilizacional atual. A crise capitalista em curso acelera essas contradições.

O centro dessas turbulências é que o arcabouço político, econômico e militar constituído no pós-guerra não tem mais correspondência com as condições atuais do mundo. O consórcio imperialista liderado pelos EUA insiste em mantê-lo, mas novos polos políticos enfrentam essa resistência.

O declínio relativo, mas progressivo dos EUA, os fazem elevar ainda mais a sua agressividade imperialista. Invadem diretamente países, financiam movimentos militares-terroristas que segregam e destroem nações e conspiram contra quaisquer alternativas que possam ameaçá-los.

Articulações inter-regionais como o BRICS, regionais como a ALBA, CELAC e UNASUL ou bilaterais entre a Rússia e a China, compõem esses importantes esforços contra-hegemônicos.

A resultante desse processo histórico é uma geopolítica mais incerta e mais perigosa, mas ao mesmo tempo, caracterizada por uma tendência a multipolaridade.

Essas crescentes tensões geopolíticas e o esgotamento do neoliberalismo se retroalimentam impulsionando a crise. O sistema, em busca de saídas, tenta impor acordos – TPP (Acordo Trans-Pacífico de Cooperação Econômica), TTIP (Acordo de Parceria Transatlântica de Comércio e Investimento), TISA Acordo no Comércio de Serviços), dentre outros – que só concentrarão ainda mais a riqueza, sequestrarão as soberanias nacionais, jogarão milhões ao desalento do desemprego, reduzirão os direitos trabalhistas e sociais e as liberdades democráticas.

Esse quadro de crise contínua decorre, sobretudo pelo comando político estar – hegemônico e em escala global –sob o tacão de um liberalismo ultrafinanceirizado. Um estágio que desindustrializa, desnacionaliza e precariza até mesmo o mundo do trabalho em países desenvolvidos.

Os episódios do Brexit na Inglaterra e a eleição de Donald Trump nos EUA foram escolhas à direita, mas tiveram um sentido contestatório daqueles que até então tinham um emprego qualificado, um padrão de direitos e uma perspectiva de ascendência social, mas foram expurgados dessa condição pela nova e liberal divisão internacional do trabalho.

Como parte integrante dessa disputa geopolítica, e sobretudo pelos Governos progressistas da região terem assumido um lado, a América Latina sofre uma nova contraofensiva imperialista estadunidense. Aplicam aqui os ditos golpes “suaves”, uma fachada sofisticada midiática que promove desestabilizações políticas, o terrorismo econômico e a criminalização das lutas sociais na região.

Após os experimentos contra Honduras e o Paraguai, avançaram na Argentina e acirram violentamente contra a Venezuela. Em meu país, o Brasil, promoveram um golpe parlamentar-judiciário e depuseram a presidenta eleita Dilma Rousseff sem nenhum crime previsto na Constituição brasileira. Contra as medidas liberais do atual e ilegítimo Governo, as centrais sindicais realizaram no último dia 11 fortes manifestações e paralisações no país. Atualmente, mais de 1000 escolas públicas estão ocupadas pelos estudantes brasileiros contra as medidas que inviabilizam os serviços públicos, em especial a saúde e a educação.

É dentro desse complexo quadro político, econômico e social, que se desenvolvem as lutas da classe trabalhadora em nível mundial.

Como em todas as crises, as trabalhadoras e os trabalhadores são os primeiros a serem atingidos. São aplicadas medidas liberais recessivas que aumentam o desemprego, inviabilizam os orçamentos públicos para o social, desregulamentam o mercado de trabalho com a terceirização e a flexibilização das modalidades contratuais. Além disso, atacam as lutas dos povos e na OIT, tentam normatizar a restrição ao direito de greve.

No que pese tais desafios, a classe trabalhadora reage com manifestações e poderosas greves em vários continentes do mundo buscando, a partir das realidades objetivas, acumularem forças, intensificarem a resistência e descortinarem novas perspectivas.

O sindicalismo classista compreende esses fenômenos sociais como ciclos e não como realidades imutáveis. Por isso reafirma a luta sem tréguas e o socialismo como perspectiva estratégica.

Se essa situação revela por um lado o esgotamento de um modelo econômico, no campo da reação, em particular do movimento sindical, comprova-se a fadiga da concepção sindical socialdemocrata, conciliatória e possibilista. Essa política, a partir da Europa, vendeu ilusões `a classe trabalhadora de que o “Estado de bem-estar social” era um fim. Hoje verifica-se sua fragilidade e o seu desmonte.

Esse sindicalismo não responde a altura os novos desafios e apela para o financismo sindical para manter sua influência. Uma prática que despolitiza a luta dos trabalhadores e os jogam no canto da sereia da direita.

A Federação Sindical Mundial, ao contrário, consagra sua concepção sindical classista norteada por uma orientação anti-neoliberal, anti-imperialista e socialista. Ao reafirmar nossos princípios, não o fazemos como peça retórica, mas como orientações que buscam, a partir da realidade concreta, a emancipação da classe trabalhadora.

Foram com essas convicções e entusiasmo que 1200 sindicalistas pertencentes a 232 entidades, oriundos de 111 países dos cinco continentes, promoveram, sob a coordenação da COSATU – a maior central sindical da África do Sul – o extraordinário 17º congresso da FSM em Durban, África do Sul, nos dias 05 a 08 de outubro último. Um marco para a história do sindicalismo classista.

Considero que vivemos um tempo em que o velho está esgotado e um novo pulsa, porém este ainda sem condições subjetivas e sem um formato orgânico capaz de estabelecer-se e liderar uma nova hegemonia que valorize o trabalho. A classe trabalhadora é a força motriz nesse desafio.

Finalizo reafirmando total apoio da FSM às lutas da classe trabalhadora peruana. Estaremos sempre aqui para que, ao lado da combativa CGTP, descortinemos um novo tempo para as trabalhadoras e os trabalhadores do Peru.

E inspirado no slogan deste congresso, estendo o seu conteúdo regional para todo o mundo: “Unidade e luta para conquistar os direitos trabalhistas de todas as trabalhadoras e todos os trabalhadores do mundo”

Vida longa à CGTP!
Vida longa à Mario Huamán!
Vida longa à FSM!

Muito obrigado!

Divanilton Pereira,  membro do secretariado da Federação Sindical Mundial e Secretário de Relações Internacionais da CTB

Érika Ceconi – Portal CTB 

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