Federação Sindical Mundial fortalece luta da classe trabalhadora

Na última quarta e quinta-feira (3 e 4), o Conselho Presidencial da Federação Sindical Mundial (FSM) se reuniu em Havana, Cuba para traçar suas estratégias de luta.

Conselho Presidencial da Federação Sindical Mundial se reúne em Havana

O secretário de Relações Internacionais da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB) e secretário-geral adjunto da Federação Sindical Mundial (FSM), Divanilton Pereira, fez uma avaliação sobre a atual conjuntura política e o papel da classe trabalhadora internacional.

Neste contexto, Divanilton destacou a importância da formação. “Penso que devemos dar maior relevância estratégica à luta das ideias, um meio para que a nossa concepção sindical alcance uma hegemonia”, declarou.

Leia abaixo a íntegra da exposição:  

É com entusiasmo que saúdo essa reunião do Conselho Presidencial da Federação Sindical Mundial (FSM).

Em primeiro lugar por ela ocorrer em Cuba, terra de revolucionários da tenaz e heroica resistência de seu povo e de um dos maiores líderes mundiais do século XX: Fidel Castro Ruz. Registro a ele, minha reverência.

Em segundo lugar, por marcar o centenário da Revolução Russa, a maior epopeia política do século XX. Um fato histórico que influenciou o mundo, em particular a classe trabalhadora, nos deixando um legado de inspirações e lições.

Em terceiro lugar, por se dá após o exitoso 17º congresso da FSM em Durban, África do Sul. Um encontro que demarcou o crescimento contínuo da organização e reafirmou suas convicções classistas.

E por último, por estar contextualizada numa conjuntura política internacional marcada por singularidades que ora desenvolvo.Um traço da geopolítica atual e que demarca um novo tempo é a sua multipolaridade.

Ela é uma resultante contemporânea dos efeitos do desenvolvimento desigual das nações. Um estágio que, acelerado pela crise capitalista, projeta perspectivas incertas para a humanidade.

Ela processa-se por meios de novos polos políticos e econômicos que desafiam a configuração do sistema de forças do pós-guerra hegemonizado pelos EUA. O imperialismo estadunidense – com relativo declínio político e econômico –  e seu consórcio de apoio reagem ferozmente contra esse rearranjo.

A constituição do BRICS, destacando-se a liderança chinesa e o novo protagonismo russo, são partes estratégicas desse processo. Na sanha pelo seu hegemonismo, os EUA apelam para desestabilizações políticas e conflagrações bélicas.

Com o apoio da OTAN, invadem nações e patrocinam aliados contra o que unilateralmente elegeu como “Eixos do Mal”. Sob esse falso argumento jogaram recentemente -como já o fizeram contra o Iraque e a Líbia – poderosos arsenais de guerra contra a Síria e o Afeganistão e criam as condições para atingir a Coreia do Norte. Através de Israel – seu braço militar – buscam preservar sua influência no Oriente Médio e massacram o povo palestino.  

Já na América Latina e no Caribe, patrocinando uma nova onda conservadora – em evidência no mundo – tentam se restabelecer na região.

Contra Cuba os EUA tentam criar uma imagem de que todas as relações e diferenças foram superadas. Na verdade, como afirmou o próprio ex-presidente Barack Obama: “muda a forma, mas os objetivos permanecem”. Sem ilusões, precisamos continuar combatendo e denunciando o criminoso bloqueio econômico contra o povo cubano.

Apesar dessa ofensiva, países como Cuba, Venezuela, Bolívia, Equador, Nicarágua, Uruguai, Chile, El Salvador e República Dominicana – cada um com suas especificidades – situam-se no campo progressista. Todavia, um golpe no Brasil e uma derrota eleitoral na Argentina desequilibram desfavoravelmente a região. Sobre esse quadro, assinalo aqui algumas considerações.

Esse ciclo recente tem inúmeras vicissitudes: uma importante mobilidade social para a classe trabalhadora, projetos pela integração regional (ALBA, CELAC, UNASUL) e uma linha política não submissa aos EUA. A tentativa imperialista de derrotar e negar essa fase se dá por esses acertos e a manipulação midiática é o seu maior instrumento conspiratório. Contudo, existem limites políticos, ilusões de classe e condicionamentos econômicos históricos que nos impõe ainda severos desafios.

Nesse contexto regional, o movimento sindical viveu certos dilemas, sobretudo, no que diz respeito às suas tarefas.  Sob sua assertiva de ser politicamente independente, mas de não ser neutra numa luta de classes, a concepção sindical classista da FSM assumiu seu papel. Protesta e lidera greves reivindicativas, mas não confunde os lados em disputa.
Mais recentemente, a resistência classista contra a agenda neoliberal se fez presente.

Os trabalhadores e trabalhadoras do Chile foram às ruas em defesa de uma previdência pública. Na Argentina, no último dia 06 de abril, uma poderosa greve geral paralisou o país e no Brasil, uma fortíssima greve geral no dia 28 último, estremeceu as bases do ilegítimo Governo Temer. São demonstrações do novo protagonismo político das forças vivas do trabalho.

Portanto, essa estratégia imperialista– mantida pelo recém-eleito presidente Donald Trump – eleva as tensões, a imprevisibilidade e o perigo em escala mundial. A paz, aspirações dos povos, está seriamente ameaçada.

Entrelaçada a isso e retroalimentando-se, a crise capitalista atual não consegue repetir os meios para superá-la. Com a exacerbação das finanças sobre a ultra globalização econômica, as concentrações e centralizações de capitais não vêm atingindo seus tradicionais objetivos. Hoje, como nunca, os grandes bancos fazem parte das estruturas produtivas, sendo um grande impasse separá-los.

Já contra a classe trabalhadora, a história se repete e é, mais uma vez, jogada sobre os seus ombros o ônus da crise. Ao mesmo tempo, recaem ainda os efeitos de uma nova divisão internacional do trabalho, de uma nova escalada de inovações tecnológicas e gerenciais na produção. Em seu conjunto, produz um rebaixamento civilizacional que violenta o trabalho vivo, desmantela suas redes de proteções sociais e joga milhões ao desalento do desemprego.

É um complexo quadro político e econômico que exige, de nossa parte, uma estratégia sindical a altura desses desafios.
Nessa direção, penso que devemos dar maior relevância estratégica à luta das ideias, um meio para que a nossa concepção sindical alcance uma hegemonia. O capitalismo, mesmo historicamente esgotado, ainda é prevalecente – seja em sua versão contemporânea, o neoliberalismo, ou em algumas variantes da social democracia.  

Por isso, destaco uma proposta contida na exposição do Secretário-Geral, George Mavrikos, que trata dessa questão. Refiro-me a diretriz de aprovarmos o ano de 2018 como o ano internacional da formação política da FSM. Trata-se de uma exigência contemporânea, sem a qual poderemos ficar à margem dos acontecimentos.

As mudanças no mundo do trabalho e a novo perfil de nossa classe requerem um exame mais científico e menos retórico. Não basta a necessária agitação política ou a proclamação da combatividade militante para agregarmos adesões.  É preciso investigar a realidade concreta para uma melhor intervenção sindical, sobretudo, no interior dos ambientes de trabalho.
Temos uma geração no trabalho mais escolarizada, composta por jovens, mulheres e o sindicalismo classista precisa ter correspondência com esse tempo.

Concomitantemente, processa-se um novo paradigma na produção industrial baseada na automação e na revolução dos processos do trabalho. É uma fusão de tecnologias produzindo a inteligência artificial. É a chamada quarta revolução industrial, que apesar de não ser um processo ainda homogêneo – ainda convivemos com realidades de trabalho escravo, por exemplo – tende a se estabelecer.

Esse desenvolvimento amplia o desemprego tecnológico, além do estrutural já existente. Inúmeras são as funções que estão ameaçadas de extinção. Pesquisa realizada com 15 grandes economias desenvolvidas e em desenvolvimento concluiu-se que haverá até 2020 um acréscimo de perda líquida e de empregos da ordem de 5 milhões.

Além dessas ameaças objetivas, esse conjunto de processos induz a classe trabalhadora a perder sua identidade de classe, capturando sua subjetividade em favor do individualismo e negando, consequentemente, suas organizações de classe, como os sindicatos.

Não se trata de promover um Ludismo contemporâneo, mas de conhecer a situação para melhor intervir no curso concreto dos processos, em particular, da vida laboral.

Portanto, estudar esses fenômenos e seus impactos significa preparar o movimento sindical classista para proteger aqueles e aquelas que vivem do trabalho, suas organizações sindicais e superiores, garantindo-nos uma efetiva interação com a base e sua diversidade, tão intrínseca hoje ao seu novo perfil.

Concluo transcrevendo a conclusão da exposição de abertura do X Congresso da FSM, proferida aqui em Cuba, dia 10 de fevereiro de 1982:

“A história nos une, o destino nos une, o futuro nos une! Vamos lutar com todas as energias para sobrevivência do homem e por um futuro que seja verdadeiramente digno de ser chamar-se humano! Então deixe-me repetir aqui o belo slogan daqueles que eram paladinos imortais e inesquecíveis dos trabalhadores: Proletários de todos os países, uni-vos! Pátria ou Morte! Venceremos! ”.

Fidel Castro Ruz

Mãos à obra!

Muito obrigado!

Divanilton Pereira é Secretário-Geral Adjunto da FSM e secretário de Relações Internacionais da CTB

        Portal CTB, foto: FSM

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