A nova presidenta do Chile, Michelle Bachelet, fez no final da tarde da última terça-feira (11) o primeiro discurso após reassumir o cargo e afirmou que pretende “construir um novo pacto social, que resulte em uma cidadania muito mais empoderada”.
Sobre a reforma educacional (que, das três prometidas por ela durante a campanha, é a que mais gera expectativas, pela pressão do movimento estudantil), Bachelet citou a própria experiência pessoal.
“Sou uma filha da educação gratuita, e vejo com alegria que uma nova geração de jovens chilenos lutem com tanta força pelo retorno desse modelo. Chegou a hora de o Estado escutar os anseios da cidadania”, afirmou.
Ao finalizar o discurso, Bachelet se referiu às marchas estudantis, em uma referência às especulações da imprensa chilena, sobre como reagiria o novo governo caso tenha que enfrentar mobilizações sociais como as que enfrentou o ex-presidente Sebastián Piñera durante seu mandato. “A cidadania tem direito de se expressar nas ruas, onde também se faz política. É hora de que os sonhos marchem”.
O discurso da nova presidente durou cerca de 15 minutos e foi visto pelas cerca de 5 mil pessoas que se concentravam em frente ao Palácio de la Moneda, sede do governo chileno.
Mujica popstar e Biden hostilizado
Bachelet tomou posse durante a manhã desta terça. O momento mais emotivo da cerimônia foi a entrega da faixa, feita pela nova presidente do Senado, Isabel Allende, filha do presidente deposto no golpe de 1973, Salvador Allende.
Horas antes, quando assumiu a liderança do Senado, Isabel lembrou do pai, que também ocupou o cargo, entre 1967 e 1969: “tenho certeza que se ele pudesse estar aqui, estaria muito orgulhoso, e representar seu legado nesta casa é o maior orgulho da minha carreira política”.
Vários líderes latino-americanos participaram da posse. O uruguaio Pepe Mujica chegou ao Salão de Honra do Congresso sem gravata e de óculos escuros. Além de ser o mais aplaudido, Mujica também foi abordado por deputados e senadores chilenos, alguns dos quais pediram fotos com o ex-tupamaro – como foi o caso de ex-dirigente estudantil e agora deputado Gabriel Boric.
Estiveram presentes também as presidentes da Argentina (Cristina Kirchner), do Brasil (Dilma Rousseff) e os mandatários de Colômbia (Juan Manuel Santos), Equador (Rafael Correa) e Peru (Evo Morales). O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, desmarcou a participação na cerimônia e não viajou ao Chile.
Do lado de fora do Congresso, um pequeno público de cerca de três mil pessoas (formado em sua maioria por militantes comunistas e do movimento estudantil chileno) recebeu os mandatários com gritos de apoio ou vaias, dependendo de quem se tratava.
O principal alvo de críticas do público do lado de fora, tanto na chegada quanto na sua saída, foi o vice-presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, a quem os jovens presentes gritavam: “Maduro, Maduro, nos ianques você tem que dar duro” (“Maduro, Maduro, a los ianques hay que darles duro”).
De Santiago, Chile
Victor Farinelli no Opera Mundi