Díaz-Canel: É com entusiasmo e emoção que as forças de esquerda na América Latina honram nossa história comum de lutas

Mensagem do Presidente da República de Cuba no Ato Internacional de Homenagem aos 50 anos da Unidade Popular do Chile, realizado via internet na quinta-feira (15). Confira abaixo:

Prezada Monica Valente, queridos colegas irmãos do Foro de São Paulo:

É emocionante e entusiasmante que, neste ano repleto de desafios de sobrevivência para todos, as forças de esquerda da América Latina honrem nossa história comum de lutas, ao decidirem comemorar 50 anos de Unidade Popular.

A Unidade Popular, a mítica Unidade Popular chilena, não só levou o socialista Salvador Allende ao poder, abrindo um caminho de esperança para a primeira construção socialista pelos canais eleitorais.

Fizeram isso de uma forma tão criativa, entusiasta e realmente popular que ainda podemos sentir a alegria de suas canções em meio à luta profunda de toda a sociedade para se transformar, transformar tudo.

Foi um processo tão emocionante e contagiante que seus poderosos adversários externos, em triste aliança com os internos, o crivaram de balas quando era apenas uma promessa de três anos de governo.

Nos poucos mais de mil dias que durou no poder, a Unidade Popular conseguiu transformar radicalmente aquele país, ao reivindicar aspirações históricas do povo chileno como a nacionalização do cobre, a expropriação de grandes propriedades e a expansão da saúde e da educação. Saúde para todos.

Em suma, ousou tocar os interesses do grande capital nacional e transnacional com o único propósito de colocá-lo nas mãos de seus legítimos proprietários e dar ao povo direitos que até então lhe estavam ocultos.

Como a Reforma Agrária de Arbenz e a Revolução Cubana, como nossas nacionalizações e nossas decisões soberanas, as conquistas da esquerda chilena foram sitiadas e sua economia bloqueada. Uma guerra de mídia sem precedentes foi desencadeada contra a experiência, e o império liderou as operações de derrubada em seu pior estilo.

O Chile entrou na noite escura do fascismo, que estendeu suas garras pelo Cone Sul, sob a proteção da Operação Condor, ou seja, o terrorismo transnacional. Os militares golpistas importaram escolas e métodos ianques para cumprir o mandato do Norte. O neoliberalismo começou a se impor como fórmula mágica para o desenvolvimento. Mas nenhuma mentira dura muito. O modelo chileno dos Chicago Boys, vendido como um sucesso, acabou sendo tão desprezado por seu povo quanto o golpista Augusto Pinochet. E o processo revolucionário dos anos 1970 permaneceu na história da América Latina com suas dolorosas, mas inevitáveis ​​lições para futuros processos revolucionários em nossa região. Nenhum lutador social, nenhum político de esquerda, poderia enfrentar suas batalhas hoje contornando esse processo.

Os métodos de construção da unidade de diversas forças são tão instrutivos quanto aqueles implantados por seus inimigos para esmagá-la, desde a guerra da mídia ao fascismo atual.

É um dever e uma oportunidade de refletir, ainda que por alguns minutos e à distância, sobre o que significava aquele governo, o que significava a Unidade Popular, o que significava a articulação das forças de esquerda em torno de um ideal socialista e por que meios e os métodos que o imperialismo conseguiu romper, impondo a sangue e fogo um modelo econômico que exclui as maiorias e as reprime mesmo em seus períodos ditos democráticos.

Cinqüenta anos após o triunfo histórico da Unidade Popular, e também em memória e homenagem à exemplar resistência ao golpe fascista contra Salvador Allende em 1973, quero compartilhar com vocês uma experiência pessoal intimamente ligada ao evento que hoje comemoramos.

Em janeiro de 2013, acompanhando o General do Exército Raúl Castro Ruz, à Primeira Cúpula da Celac, realizada em Santiago do Chile, visitamos o Palácio de La Moneda, onde Salvador Allende, figura central da Unidade Popular, que heroicamente caiu. Ali mesmo, a delegação recebeu uma ligação de Cuba. Foi o Comandante-em-Chefe Fidel Castro Ruz que, sabendo onde estávamos, nos disse: “Existe um espírito, encontre-o.”

Esse convite, vindo de um marxista como Fidel Castro, era totalmente desprovido de misticismo. Ele estava, sem dúvida, nos chamando para revisar uma história que ainda tem muito a nos ensinar. Que este meio século de Unidade Popular sirva de estímulo para encontrá-lo.

Fonte: Granma | [email protected]