CTB vê condenação de Cristina Kirchner como ‘manobra’ e aponta ‘dominação do conservadorismo’ no Peru

A Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil viu com preocupação os fatos da última semana que ameaçam a estabilidade democrática na Argentina e no Peru.

A saber, enquanto a vice-presidenta Cristina Kirchner pegou seis anos de prisão por corrupção, o presidente Pedro Castillo foi destituído e preso, após tentar dissolver o Parlamento. Agora, ambos os países vivem um momento de convulsão social e política.

Argentina

Conforme o secretário de Relações Internacionais da CTB, Nivaldo Santana, no caso argentino, há traços de motivação eleitoral. “A condenação de Cristina Kirchner tem todas as características de uma manobra do Judiciário para evitar que ela seja candidata nas próximas eleições presidenciais argentinas e abrir caminho para a restauração neoliberal naquele país”, pontuou.

Semelhantemente, a Federação Sindical Mundial, à qual a CTB é filiada, tratou o episódio como “crônica de uma morte anunciada”. Em nota oficial, a FSM atribuiu a condenação à direita “retrógrada, que pretende retroceder a épocas em que a infâmia reinava na Argentina”. “Repudiamos enérgicamente a condenação de seis anos de prisão e inabilitação perpétua da vice-presidenta da República da Argentina, Cristina Fernández de Kirchner. Como sustentamos desde o princípio, tais manobras mediáticas e judiciais mostram uma clara invasão à democracia e suas instituições”, comunicou a entidade.

Segundo a Federação, “parte dos setores lacaios ao poder central” alvejou Cristina. “De modo a julgar e sentenciar os setores populares, que vêm na sua figura uma referência de tempos melhores em meio a uma crise sem freio, que mergulha cada dia mais as trabalhadoras e trabalhadoras e o povo na miséria”.

Nota Oficial da FSM sobre a condenação de Cristina Kirchner

Peru

Nesse ínterim, em relação ao Peru, Nivaldo afirma que a prisão do presidente reflete uma “situação complexa de um país com instabilidade política estrutural”. “Vários presidentes tiveram seus mandatos interrompidos nos últimos anos. À primeira vista, parece que o presidente Pedro Castillo se isolou politicamente e trilhou um caminho sem respaldo de dissolver o Congresso peruano. Bem como impor toque de recolher sem condições de bancar essas ações. O desfecho político, com afastamento e prisão do presidente peruano, mostra o sistema político daquele país dominado pelo conservadorismo e refratário às mudanças progressistas”, considerou.

Igualmente, a Confederação Geral dos Trabalhadores do Peru acusou as “forças da direita”, que têm crescido sistematicamente na América Latina, de serem responsáveis pela destituição. Dessa forma, em nota, a CGTP disse rechaçar “categoricamente a quebra da institucionalidade democrática do país”. Assim como teme pela “continuidade de uma crise que beneficia as forças da direita e os grupos de poder econômico no Peru”.

Em contrapartida, a organização defendeu a necessidade de dissolução do Congresso peruano. “Como classe trabalhadora, somos conscientes que o Congresso da República merece ser dissolvido por seus constantes ataques à democracia e ameaças aos direitos e conquistas sociolaborais. […] Também por ter atiçado a crise política, cujo impacto econômico afeta a milhões de famílias peruanas. […] Assim mesmo, a classe trabalhadora e o povo devem estar mobilizados e vigilantes ao irrestrito respeito à democracia e aos direitos dos trabalhadores, por uma reforma política, uma nova constituição e, adiante, novas eleições gerais”, ponderou a CGTP.

Nota oficial da CGTP sobre a crise política no Peru

Por fim, Nivaldo Santana alertou para os impactos de ambos os casos na América do Sul, pois geram “reflexos em toda a região”.