CTB participa de reunião do Conselho Presidencial da FSM

A CTB está participando da reunião do Conselho Presidencial da Federação Sindical Mundial (FSM), que ocorre nesta sexta e sábado (14 e 15), na capital italiana. Durante o encontro, o dirigente da CTB e vice-presidente da FSM, João Batista Lemos, que integra a delegração brasileira junto com o secretário de Relações Internacionais, Divanilton Pereira e o presidente, Adilson Araújo, fez uma exposição na qual destacou os desafios para o movimento sindical diante da crise capitalista que atinge principalmente à classe trabalhadora.

Leia abaixo a íntegra da intervenção:

Companheiros e companheiras,

É com grande entusiasmo que saúdo todos os delegados, delegadas e convidados nessa importância instância da FSM.

Presenciamos hoje, como desdobramento da crise da ordem capitalista mundial, o progressivo acirramento da luta de classes em todo o mundo. A classe trabalhadora tem sido vítima de uma feroz ofensiva neoliberal, através da qual a burguesia pretende abolir ou flexibilizar direitos, rebaixar salários e precarizar as relações trabalhistas.

Na Europa, sob a batuta da troika (FMI, BCE e UE), os governos parecem determinados a desmantelar o chamado Estado de Bem Estar Social, que no passado chegou a ser exaltado como modelo de capitalismo democrático e popular e até como projeto social final. Agora a ordem é diminuir os custos do trabalho, arrochar salários, reduzir direitos previdenciários, privatizar e realizar dramáticos cortes nos gastos públicos.

A taxa oficial de desemprego na Zona do Euro chegou a 12,2% no final do ano passado, o que significa mais de 20 milhões de trabalhadores e trabalhadoras desocupadas. Entre os jovens, a situação é pior. Na Grécia e na Espanha, os dois países mais afetados pela crise econômica, mais de 50% dos jovens estão desempregados.

Não podemos ignorar que o mundo vive também um momento de transição geopolítica decorrente do esgotamento da ordem mundial remanescente do pós guerra e hegemonizada pelos Estados Unidos. Estes hoje são uma potência em declínio relativo e progressivo, enquanto, de outro lado, observa-se a ascensão de novos centros políticos e econômicos, com destaque para a China, que se projeta à condição de maior potência industrial e comercial do planeta.

Na América Latina e Caribe, as iniciativas de integração econômica, política e cultural dos povos e governosprogressistas vão configurando uma nova realidade regional. Em sua segunda reunião de cúpula, celebrada em Havana nos dias 28 e 29 de janeiro, a Comunidade de Estados Latino-americanos e Caribenhos (Celac), um bloco político que reúne 33 países do hemisfério americano (excluindo EUA e Canadá), aprovou resoluções que definem a região como uma “Zona de paz” desnuclearizada, rechaçando a ingerência externa nos conflitos internos e acena com uma parceria estratégica com a China e enviou a Washington uma mensagem claramente anti-imperialista.

Através da Celac, os povos latino-americanos buscam um caminho de desenvolvimento social com soberania, democracia e integração, contrariando os interesses preconizados pelos EUA por meio da finada Área de Livre Comércio das Américas (ALCA). No entanto, o império tenta alcançar os mesmos objetivos por outros meios como a Aliança do Pacífico e os Tratados de Livre Comércio.

Além disso, os EUA revela que está disposto a recorrer à força militar para manter o status quo na região. Sinais disto são as recorrentes iniciativas golpistas em nosso continente (em Honduras, Paraguai, Equador, Venezuela e Bolívia), a reativação da Quarta Frota de Intervenção, a instalação de novas bases militares na Colômbia e a organização de uma obscura rede mundial de espionagem.

Diante dessa complexa conjuntura, a classe trabalhadora reage à ofensiva do capital realizando greves e manifestações de massa em diferentes países e regiões. A crise realça a necessidade de lutar com mais energia contra a ordem imperialista hegemonizada pelos Estados Unidos e o sistema de exploração capitalista, levantando bem alto a bandeira do socialismo.
Sob tais circunstâncias faz-se necessário fortalecer a nossa Federação Sindical Mundial (FSM) desde as suas bases. Estruturar melhor seu sistema orgânico desde as regionais e sobretudo, as Uniões Internacional Sindical (UIS). São iniciativas que impulsionarão a difusão da concepção classista de nossa federação, reforçando seu caráter anti-capitalista, anti-imperialista, socialista e de massas. Nessa direção potencializará sua ascendência política no sindicalismo internacional.

A CTB, da qual integro sua direção nacional, assumiu a direção da UIS-Metal e já realiza todos os esforços no sentido de promover um amplo trabalho de conscientização, organização e mobilização num dos ramos estratégicos da economia mundial.

O sindicalismo classista apoia as iniciativas de integração e procura influenciar este processo imprimindo-lhe um rumo democrático, progressista e que valorize o trabalho.Destacamos que nessa região ocorrerá em maio deste ano, em Havana, o 6º Encontro Sindical Nossa América (ESNA), um instrumento de unidade e ação dos trabalhadores classistas. Penso que a FSM deve procurar participar de forma ativa e organizada desta articulação, pois aglutina dirigentes sindicais de mais de 20 países latino-americanos e caribenhos, lideranças que têm hoje na integração regional soberana uma grande bandeira.

São muitos os desafios com que se depara o nosso movimento sindical neste mundo em crise. O maior deles consiste em organizar a classe trabalhadora em todos os continentes,politizá-lo e colocá-lo numa perspectiva que dispute a hegemonia e o poder político.

Especial atenção deve ser dedicada aos jovens e às mulheres. O capitalismo está sequestrando o futuro da juventude, condenando-a ao desemprego em massa, ao desamparo social e à precarização crescente das condições e relações de trabalho.Disputar as consciências dessa estratégica e crescente parcela deve ser um eixo estruturante na política da Federação Sindical Mundial.

É nossa tarefa urgente conscientizar os jovens e envolvê-los na luta de classes contra o desemprego, pela redução da jornada de trabalho, bem como contra o imperialismo e o capitalismo.Igualmente é preciso dar mais atenção ao trabalho de organização junto às mulheres, cuja participação no mercado de trabalho é crescente. A luta contra todos os tipos de discriminação social deve ser uma das nossas prioridades.

Finalmente, reforço nossos esforços para garantirmos o êxito da manifestação internacional convocada para o 3 de outubro deste ano, cujo foco será a luta contra o desemprego e em defesa dos direitos sociais. Essa agenda abrirá o calendário de outras grandes jornadas que celebrarão os 70 anos da FSM e acausa libertária da classe trabalhadora em nível mundial.
Abaixo o imperialismo!

Viva os trabalhadores e as trabalhadoras de todo o mundo!
Viva o socialismo!
Vida longa a Federação Sindical Mundial!
Muito obrigado.

Roma, Itália, 14 de fevereiro de 2014.

João Batista Lemos é dirigente nacional da CTB e vice-presidente da Federação Sindical Mundial

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