Confrontos deixam ao menos 70 feridos na Bolívia; explosão afeta envio de gás ao Brasil

Em um dos confrontos pelo país, um gasoduto da região de Yacuíba que leva gás ao Brasil foi danificado e o fornecimento deve diminuir em 10%.

Segundo o jornal boliviano "La Razón", entre os feridos nos confrontos de Tarija estão os dirigentes dos dois grupos, o camponês Luis Alfaro e Patricia Galarza. Durante os confrontos, os grupos se enfrentaram com paus e pedras, incendiaram um ônibus e invadiram várias lojas e escritórios.

Os enfrentamentos na cidade de Tarija duraram ao menos 10 horas e foi centrado no Mercado Camponês, símbolo do Movimento ao Socialismo (MAS) na cidade, informa ainda o jornal.

A polícia boliviana tentou conter os manifestantes –que pedem pela autonomia–, mas não conseguiu evitar os confrontos entre os grupos civis.

Do hospital San Juan de Deus, o líder dos camponeses Luis Alfaro disse que o enfrentamento em Tarija chegou a "níveis extremos". "É praticamente uma guerra civil, a menos que a interrompamos", disse outro líder do movimento pró-governo, Patria Nueva, citado pelo "La Razón".

No mesmo tom, o porta-voz da Presidência, Ivan Canelas, afirmou que os autonomistas buscam, com os confrontos e destruição, causar uma guerra civil.

Milton Valdez, um dos líderes do movimento antigoverno, pediu aos militares e policiais que não intervenham nos conflitos. "O governo quer uma guerra civil, pois terá", disse, citado pelo jornal.

Brasil

A Petrobras confirmou nesta quarta-feira que a provisão de gás natural da Bolívia para o Brasil foi parcialmente afetada pela explosão.

"Essas ações afetaram parcialmente a provisão de gás natural da Bolívia para o Brasil, até esse momento sem impacto para o abastecimento brasileiro", declarou a companhia estatal por meio de comunicado.

O governo boliviano atribui a autoria dos danos a grupos que são contrários ao presidente e que têm realizados protestos freqüentes nos últimos dias. Os manifestantes negam a acusação.

Segundo a Petrobras, uma válvula de segurança do gasoduto da empresa Transierra –da qual fazem parte a Petrobras, a Andina-Repsol e a francesa Total– foi bloqueada por manifestantes, e o campo de produção de Volta Grande foi ocupado e sua produção paralisada.

A Bolívia abastece mais da metade do mercado de gás natural do Brasil por meio do gasoduto, manuseado por uma empresa binacional, com capacidade nominal para transportar 30 milhões de metros cúbicos por dia do combustível. O gás abastece mais da metade do mercado brasileiro e 60% do Estado de São Paulo.

Racionamento

A Petrobras disse que adotou "medidas operacionais previstas em seu plano de contingência" para reduzir o impacto no abastecimento brasileiro. A empresa ressaltou que tenta recuperar o mais rápido possível os danos causados na válvula de segurança em Yacuíba.

Para especialistas, o Brasil pode evitar um racionamento de gás caso se o governo efetivamente colocar em ação um plano emergencial de contingência.

"Acredito que um corte de 10% no abastecimento de gás possa ser administrado, sem haver racionamento. Dá para desligar as térmicas à gás, desabastecer as indústrias e os automóveis e gerar energia elétrica com a água, além de usar mais óleo diesel", afirmou Adriano Pires, especialista do CBIE (Centro Brasileiro de Infra-Estrutura).

"O governo tem que ter um plano de contingência, chamar os agentes da indústria, os grandes consumidores e todos os envolvidos e passar a informação sobre o problema, sobre o que está acontecendo na Bolívia, pra minimizar ao máximo qualquer exacerbação de crise", acrescentou Pires.

Para a a especialista em Petróleo e Gás do escritório L.O.Baptista Advogados, Daniela Santos, a restrição de gás não deve afetar, a princípio, o consumidor final que usa gás residencial ou veicular. "As indústrias (como as de vidro e cerâmica), sobretudo de São Paulo e do Sul do país devem ser as maiores prejudicadas", afirmou.

"Quando a restrição é pequena, dá pra entregar menos gás para algumas indústrias e criar uma estrutura de fornecimento que afete o mínimo possível o consumidor. O governo precisa pensar quem poderia receber menos gás", acrescentou Santos.

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