Brasil e China querem estabelecer relações econômicas sem a intermediação do dólar

Brasil e China deram mais um passo significativo para aprofundar a parceria estratégica entre as duas nações nesta quarta-feira (29) com o anúncio da criação de “Clearing House” (ou Câmara de compensação), com o objetivo de viabilizar a realização de transações econômicas – comerciais e financeiras – sem a intermediação do dólar.

O ICBC (Banco Industrial e Comercial da China, na sigla em inglês), vai operar a clearing house no Brasil para permitir que empresários brasileiros e chineses possam fazer transações comerciais e empréstimos em yuan, e não mais em dólar, como acontece hoje.

Como se trata de uma grande instituição financeira chinesa, o banco tem total capacidade de garantir aos empresários brasileiros a conversão imediata de seus ganhos em real, caso eles decidam fechar negócios em yuan.

Os desdobramentos concretos da iniciativa, seu alcance e reflexos na troca de mercadorias e investimentos serão melhor percebidos ao longo dos próximos anos. Mas poucos duvidam de que os dois países devem ser beneficiados em médio e longo prazo se lograrem descartar e superar o padrão dólar.

“É uma opção de compensação do yuan para uma moeda local, existem 25 assim no mundo, e corta custos de transação porque não passa pelo dólar”, afirmou a secretária de assuntos internacionais do Ministério da Fazenda, Tatiana Rosito.

Desde 2009, ano da fundação do BRICS, a China é a maior parceira comercial do Brasil. Em 2022, corrente comercial entre os dois países somou US$150 bilhões, um recorde, com superávit de US$ 29 bilhões para o Brasil, embora as vendas para a China sejam esmagadoramente de commodities, enquanto o país asiático exporta ao Brasil produtos de maior valor agregado.

A China se transformou também na principal fonte de investimentos externos no Brasil. O valor dos investimentos externos chineses no Brasil ultrapassa US$ 70 bilhões.

“O Brasil firmou acordo para pagamento em yuan, o que facilita muito o nosso comércio. Vamos trabalhar ainda mais no setor de alimentos e minérios, vamos buscar possibilidade de exportação de mercadorias de alto valor agregado da China ao Brasil e do Brasil para a China”, afirmou Guo Tingting, vice-ministra de comércio da República Popular da China durante o Fórum de Negócios Brasil China, realizado em Chaoyang, um bairro da capital chinesa.