Bombas de fragmentação: Ucrânia acusa Rússia para encobrir os crimes que comete na guerra

Um fator relevante do conflito no leste europeu é a guerra de propaganda, na qual uma poderosa arma é a mentira, a desinformação, o diversionismo e a inversão da verdade. Há uma semana, o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, acusou os russos de usarem bombas de fragmentação contra soldados e civis ucranianos. A Rússia negou e alertou que estava ocorrendo o contrário, que suas forças foram alvos deste tipo de armamento, altamente letal e condenado por uma resolução das Nações Unidas aprovada em 2008.

Na segunda-feira (18), uma rara reportagem do The New York Times desfavorável ao governo de Kiev sugeriu que Moscou tem razão e que forças ucranianas usaram bombas de fragmentação contra a cidade de Husar. Os repórteres do jornal norte-americano verificaram in loco que o exército ucraniano de fato usou este tipo de armamento.

As provas do crime

Os jornalistas recolheram provas de que a Ucrânia usou as bombas proibidas pela ONU para recuperar o controle da localidade de Husarivka, no leste do país, quando a região estava sob domínio russo.

As bombas de fragmentação carregam internamente outras bombas e, ao explodirem, espalham-se e fragmentam-se, provocando novas explosões. Muitas vezes, ficam por detonar, caídas por terra, explodindo depois com a passagem de civis ou quando são deslocadas por quem desconhece o perigo que representam.

Este tipo de arma já foi utilizado pela Otan na Sérvia e no Iraque; por Israel no Líbano em 2006; pela Rússia na Geórgia; e pelos Estados Unidos em diversos países como Afeganistão, Sérvia, Laos e Iraque. Estima-se que os EUA e o Reino Unido tenham lançado cerca de um milhão de bombas de fragmentação no Iraque.

Mas seu histórico maior de uso começa na Guerra do Vietnã (1955-1975). Ao longo dos 20 anos de guerra, os EUA lançaram bombas que dispersaram outros 260 milhões de explosivos (submunições). Como cerca de 80 milhões deles não explodiram, algumas áreas se tornaram campos minados, com grande número de civis feridos décadas depois da guerra.

ONGs acusam Rússia de ter usado bombas de fragmentação
A arma é composta por várias bombas de fragmentação conforme mostra a foto (Crédito: Wikimmedia Commos)

Segundo o New York Times, as tropas russas tomaram Husarivka nos primeiros dias de março, ocupando edifícios nos arredores da localidade e próximos do centro. O exército ucraniano procurou recuperar Husarivka à força de bombardeamentos constantes e os fragmentos de uma das armas utilizadas aterraram próximos da casa de Yuri Doroshenko, nas imediações do quartel-general improvisado pelos russos, que seria o alvo dos militares da Ucrânia.

Foram estas bombas de fragmentação, perto da casa de Doroshenko, que foram observadas pelos jornalistas da publicação norte-americana, que chegaram o mais próximo possível sem manusear os fragmentos, devido ao risco de explosão. Teriam sido usadas logo no início de março, de acordo com a investigação dos repórteres do New York Times, quando os ucranianos tentavam a todo o custo recuperar o controlo da região.

Para além das bombas descobertas próximas da casa de  Yuri Doroshenko, num bairro residencial, outras estavam alojadas num campo próximo do quartel-general dos russos: caíram junto de um pequeno aglomerado de casas térreas com jardim.

Extrema direita

Não é a primeira vez que forças ucranianas usam este tipo de arma. Lembra o New York Times que em 2015 as forças de Kiev tinham já utilizado bombas de fragmentação nos primeiros meses de conflito contra os separatistas pró-russos no leste da Ucrânia, assinala a publicação. O controlo de Husarivka acabou por ser recuperado pela Ucrânia a 26 de março.

O governo instalado na capital ucraniana, identificado com a extrema direita e com ativa participação de grupos nazista, é um produto do golpe de Estado perpetrado em 2014 com o ostensivo apoio dos EUA e da OTAN. Volodymyr Zelensky é um testa de ferro Washington, que financia o extremismo na região para promover os seus objetivos geopolíticos.

A realidade dos fatos, porém, é obscurecida pela máquina de propaganda do imperialismo, que molda a ideologia dominante no chamado Ocidente e, como notou o escritor Paulo Coelho, tira proveito do conflito no leste da Europa para transformar a russofobia num fenômeno global.