Bolívia: oposição ignora Evo e mantém discurso pró-autonomia

O discurso conciliador do presidente boliviano Evo Morales nao teve a devida reciprocidade junto à oposição do país. Apenas um dia após o referendo revogatório, o principal líder da direita, o governador de Santa Cruz, Rubén Costas, anunciou a criação de uma polícia e de uma agência tributária próprias, medidas que devem tensionar ainda mais a relação com o governo central.

Assim como o presidente, o governador de Santa Cruz de la Sierra também conseguiu uma boa votação no referendo. Mesmo após a vitória, ele continua liderando uma greve de fome contra a nova política fiscal do país, e descarta se unir a Evo em nome de um projeto comum. "O MAS quer nos impor seu projeto de Constituição e não nos submeteremos", afirmou.

Costas obteve 71% dos votos no referendo e viu o estado que comanda rejeitar nas urnas o governo de Evo Morales – Santa Cruz teve 64% dos votos pelo não ao presidente, segundo os dados iniciais divulgados ainda no domingo. Um rápido giro pela capital do estado permite comprovar o respaldo dado pela maioria da população local ao líder da direita. O cenário nas principais ruas da cidade se assemelha muito ao de La Paz, mas aqui é a figura do governador que recebe apoio por todos os lados.

O mote da campanha de Costas foi todo pensado a partir da questão da autonomia. Muros, faixas e adesivos nos incontáveis carros utilitários que circulam por Santa Cruz pedem mudanças na política fiscal do governo. Algumas das manifestações espalhadas pela cidade falam por si só. A palavra "independência" também é vista em muitas esquinas, assim como mensagens de baixo calão, como "Evo assassino" e "Fora, índios de merda".

Meia-lua comemora

A imprensa local não hesitou ao adotar um discurso festivo no dia seguinte ao referendo. "Ganhou a meia-lua, ganhou a autonomia", é o título de uma das matérias principais do jornal "El Deber", de Santa Cruz. A reportagem adota um tom separatista, que divide a Bolívia em duas partes: a dos pobres, que apóiam Evo, e a dos ricos, que não concordam em ver um indígena à frente da Presidência.

Assim como em Santa Cruz, a direita saiu vitoriosa nos outros três estados cujos governadores se opõem claramente à política adotada pelo governo de Evo.

Os governadores de Beni, Pando e Tarija obtiveram, respectivamente, 66,9%, 58,4% e 59,8% de aprovação no referendo. Junto com Santa Cruz, esses três estados formam a chamada "meia-lua", região mais rica do país, unida contra a perda do poder que esteve sob seu controle durante toda a história do país.

De Santa Cruz de la Sierra,
Fernando Damasceno (Vermelho)

 

 

 

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