Banco central dos EUA traça perfil sombrio sobre a economia do país

O Federal Reserve forneceu neste mês novas projeções econômicas que mostram como o banco central está vendo a economia.

Por Osvaldo Bertolino

O presidente do Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos, Jerome Powell, fez uma avaliação sombria da rapidez com que a economia dos Estados Unidos se recuperará de sua recessão induzida por uma pandemia, sugerindo que milhões de pessoas possam ficar sem trabalho por um longo período, já que a estimativa é de que o desemprego baterá recorde até o final de 2020.

Powell disse que o mercado de trabalho pode ter atingido o fundo do poço depois de registrar uma taxa de desemprego de 14,7% em abril, mas deixou claro que era muito cedo para ter certeza. “Este é o maior choque econômico, nos Estados Unidos e no mundo, na memória viva”, disse Powell em entrevista coletiva após a reunião política de dois dias do Fed, durante a qual manteve as taxas inalteradas. “Passamos do nível mais baixo de desemprego em 50 anos para o nível mais alto em quase 90 anos, e o fizemos em dois meses”, relatou

Essas projeções retratam um caminho econômico muito diferente da rápida “recuperação em forma de V” que o presidente Donald Trump sugeriu estar em andamento, enquanto pressiona os estados a reabrir e remover as ordens de ficar em casa como prevenção contra a propagação do coronavírus. O presidente apontou a recuperação do mercado de ações e o relatório de empregos de maio, no qual a taxa de desemprego caiu para 13,3%, como evidência de que a economia está “de volta”.

“Acho que você terá um V. Acho que vai ser ótimo”, disse Trump no mês passado, referindo-se ao tipo de recuperação econômica que pode ocorrer após um declínio acentuado. Ele constantemente pede que os estados reabram, sugerindo que as autoridades que não levantam quarentenas estão artificialmente adiando a recuperação.

Mas Powell disse que há uma grande incerteza sobre o futuro, dado a incógnitas sobre o coronavírus e se as pessoas se sentirão à vontade em retomar a suas atividades. Segundo ele, haverá uma fatia significativa, na casa dos milhões, que não conseguirão voltar ao antigo emprego.

O secretário do Tesouro de Trump, Steven Mnuchin, também disse que uma recuperação provavelmente não será rápida ou uniforme. Mnuchin, em audiência perante o comitê de pequenas empresas do Senado, disse que algumas partes da economia sofreram “danos significativos” e que os formuladores de políticas devem passar os próximos 30 dias desenvolvendo uma abordagem direcionada para fornecer alívio financeiro a setores em dificuldades. “Eu definitivamente acho que vamos precisar de outra legislação bipartidária para colocar mais dinheiro na economia”, disse.

O Fed tomou medidas de longo alcance, reduzindo as taxas de juros para quase zero em reuniões consecutivas. E está adquirindo títulos garantidos pelo governo para manter os mercados funcionando normalmente, além de implementar uma série de programas de crédito de emergência para empresas e governos estaduais e municipais.

Mas milhares de empresas que obtiveram empréstimos enviaram o dinheiro de volta, de acordo com os credores. Para algumas, os termos do programa eram muito restritivos; para outras, os critérios eram muito obscuros. A execução caótica do programa esfriou a disposição de muitas pequenas empresas de solicitar empréstimos.

As projeções do Fed seguiram uma série de prognósticos econômicos pessimistas. A Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) alertou que a economia mundial enfrentou a pior crise em um século. “Políticas extraordinárias serão necessárias para caminhar na corda bamba em direção à recuperação”, disse Laurence Boone, economista-chefe da organização.

Segundo a OCDE, a economia mundial se contrairá 6% este ano, se o vírus estiver contido, mas poderá encolher 7,6% em meio a uma segunda onda de contágio. Nos Estados Unidos, projetou um impacto de 7,3% se o vírus estiver contido e uma contração de 8,5%, se não estiver.

Com informações do The Washington Post