América Latina enfrenta uma ofensiva imperialista pela recolonização

Numa exposição feita no Conselho Presidencial da Federação Sindical Mundial, que se reuniu em Atenas (Grécia) nos dias 3 e 4 de abril, o secretário Geral Adjunto da FSM e vice-presidente da CTB, Divanilton Pereira, destacou que o mundo vive hoje uma conjuntura marcada por “tensões e incertezas”.

Leia abaixo a íntegra do pronunciamento do sindicalista:

Em nome da classe trabalhadora brasileira, em particular da CTB, saúdo mais um encontro das representações sindicais que integram a concepção classista e libertária da Federação Sindical Mundial.

Através do seu Secretário Geral, George Perros, faço uma saudação toda especial àquela que hoje, 03 de abril, completa 20 anos de existência: A PAME. Sob o lema “Sem você nenhuma

engrenagem pode girar, trabalhador você pode sem patrões!”, tornou-se a mais autêntica e combativa central sindical grega.

Com sua convicção internacionalista, desempenha um papel internacional relevante, destacando-se dentre outras, a sua incisiva determinação em fortalecer a Federação Sindical

Mundial. Vida longa à PAME!

Passado um ano do nosso último encontro no Irã, as tensões e as incertezas geopolíticas só crescem. A crise capitalista continua e alimenta a imprevisibilidade. A atual guerra comercial entre o império estadunidense e a China é a expressão da disputa entre o primeiro, que insiste em liderar um arcabouço do pós-guerra historicamente esgotado, e a segunda, que lidera uma articulação promotora da atual multipolaridade geopolítica.

No que pese esse novo quadro, a ultrafinanceirização hegemoniza as diretrizes políticas e econômicas em escala global. A resultante é um retrocesso civilizacional, no qual a paz mundial, as democracias, as soberanias e os direitos sociais são ferozmente atingidos.

O capital, na insana busca pelos seus acúmulos, promove um ataque sistêmico pela desvalorização do trabalho. Segundo a OIT, entre 2008 e 2014 realizaram-se 642 reformas laborais em 110 países, todas marcadas pela redução do custo da força de trabalho. Agrega-se a isso a fragmentação do processo produtivo, na qual a terceirização e a reestruturação produtiva se destacam, combinadas com as inovações tecnológicas e a revolução 4.0.

A resultante é o crescimento do desemprego, do desalento, da informalidade, das múltiplas modalidades de subcontratação e a flexibilidade das jornadas de trabalho. O uso e o crescimento acelerado do aplicativo UBER é uma expressão desse padrão de precarização moderna. Essa degradação tem propiciado um ambiente fértil para o crescimento de forças ultradireitistas, intolerantes e fascistas em boa parte do mundo.

Inserido nesse quadro geral adverso, a América Latina e o Caribe sofrem uma contraofensiva imperialista pela sua recolonização. Após perder influência no último período na região, os EUA buscam agora impor sua dominação. Nessa direção, patrocinaram o golpe no Brasil, a vitória direitista na Argentina e agora concentram todas as forças contra a revolução bolivariana liderada por Nicolás Maduro. A defesa desta, além do sentido estratégico para a região, tem dimensões geopolíticas, pois recebe apoio da Turquia, do Irã, da Rússia e

da China, importantes contrapesos contra os EUA. Portanto, todo apoio ao povo venezuelano!

No Brasil foi eleito em outubro de 2018 um representante da ultradireita, o ex-Deputado Federal Jair Bolsonaro. Um governo ultraliberal na economia, conservador nos costumes e

autoritário nas relações políticas. Recentemente viajou aos EUA e ajoelhou-se aos pés do

presidente Donald Trump, demonstrando total subserviência aos interesses daquele país. Lidera o apoio político contra a Venezuela e nos últimos dias, esteve em Israel em total sintonia com o regime sionista de Benjamin Netanyahu, anunciando, inclusive, a abertura de um escritório do país em Jerusalém.

Internamente, como primeiras medidas, extinguiu o Ministério do Trabalho, apresentou ao Congresso Nacional uma nefasta reforma previdenciária e recentemente, implementou

medidas que inviabilizam materialmente o funcionamento dos Sindicatos. No país continua a crescer o número de desempregados – mais de 13 milhões – o de desalentados e

subcontratados. Após 2 meses de Governo o presidente já perdeu 16 pontos em sua popularidade.

No campo da resistência sindical, a CTB e as demais centrais preparam uma greve geral para o próximo período. Um fato relevante em nosso campo é a decisão de fusão da CTB e CGTB, ambas centrais sindicais filiadas a FSM. Essa situação atual do Brasil deixa mais nítidas as razões que levaram as elites a prender ilegalmente o ex-presidente Lula: Retirá-lo da disputa presidencial e possibilitar a vitória deles. Para nós da CTB, o ex-presidente Lula é um preso

político e por isto nos associamos à campanha nacional e internacional do Lula Livre e solicitamos aqui adesões a essa justa jornada democrática.

É dentro desse contexto global que a FSM, ao fazer o balanço de sua atuação no último período, contata que sua agenda mais uma vez está marcada pela resistência contra o capital e reafirmando a luta como o caminho para proteger o trabalho vivo. Por isso continua a crescer. Contudo, são batalhas inconclusas e crescentes, requerendo de nós, além da unidade própria, jornadas unitárias entre aqueles comprometidos com a classe trabalhadora.

Urge nos mobilizarmos em torno das bandeiras que sejam capazes de agregar as trabalhadoras e os trabalhadores. Nessa direção, penso que a luta pelo emprego e pelas garantias de proteção social são centrais nesse ambiente de hoje, marcado pela terceirização desenfreada e a flexibilização plena das relações do trabalho.

Ao mesmo tempo, o sindicalismo classista não pode vender ilusões e especular em torno de uma ação sindical ludista contemporânea. Faz-se necessário aprofundar os estudos e pesquisas, criando assim uma condição para uma elaboração científica e classista sobre os impactos das inovações tecnológicas, em particular, a da 4.0, sobre o futuro do trabalho, do emprego e do próprio sindicalismo. Essa diretriz deve fazer parte da agenda estratégica contra a precarização do trabalho.

Portanto, as nossas jornadas são desafiadoras, mas não são intransponíveis. A concepção classista da FSM nos orienta e a partir do exame concreto sobre a realidade concreta,

acumularemos forças para superarmos a atual ordem excludente. Força companheiras e companheiros!

Viva a Classe Trabalhadora Mundial!

Viva a Federação Sindical Mundial!

Muito obrigado!

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