A Europa precisa dos imigrantes e deve respeitá-los, diz entidade brasileira em Lisboa

O brasileiro Gustavo Behr, presidente da Casa do Brasil -entidade representante dos imigrantes brasileiros em Lisboa, Portugal- não concorda com o governo português quando este nega que exista discriminação contra os imigrantes. Ele alerta, no entanto, que este não é um problema sentido apenas por brasileiros, mas "um problema transversal à sociedade européia".

"A Europa precisa dos imigrantes e por isso deve respeitá-los e permitir que eles se integrem e possam viver dignamente porque são um contributo positivo", diz. "Na comunidade brasileira, o problema da discriminação se coloca, fundamentalmente, nas condições de trabalho porque infelizmente um patrão quando contrata um trabalhador estrangeiro, muitas vezes o faz pensando nas possibilidades que terá de não vir a cumprir as suas obrigações", explica Behr.

Os imigrantes brasileiros, segundo ele, estão preocupados com a sua integração, com a obtenção de seu título de residência no país para poderem, assim, serem regularizados e poderem trabalhar com tranqüilidade para poder contribuir com o desenvolvimento da Europa."

O responsável pela Casa do Brasil diz que as políticas de acolhimento dos imigrantes que já existem precisam ser cumpridas. "É necessário que as autoridades façam um esforço grande para evitar atos discriminatórios."

Contra a Diretiva do Retorno da UE
A Casa do Brasil e mais de duas dezenas de associações se preparam para realizar uma manifestação contra a "Diretiva da Vergonha (Retorno)", no sábado às 15h (11h de Brasília), no centro de Lisboa. O documento, aprovado pelos ministros do Interior da União Européia, estabelece as regras comuns para a expulsão dos imigrantes que não estejam legalizados.

"Os governos europeus, incluindo o português, ignoraram assim os apelos de organizações da sociedade civil que têm rejeitado esta diretiva" comenta Camila Lamarão, da Associação Solidariedade Imigrante.

O projeto terá de ser aprovado pelo Parlamento Europeu, entre 16 a 19 de Junho próximo e a manifestação de sábado irá, simbolicamente, montar uma estrutura que representará uma prisão de imigrantes em uma ação que deverá se repetir em diferentes capitais da Europa.

A diretiva fixa em dezoito meses o período máximo de detenção de imigrantes sem documentos, antes de sua deportação. Como um primeiro passo, fixa um máximo de seis meses, que pode ser prolongado por mais doze meses no caso de falta de "cooperação" dos países de origem dos migrantes.

Gustavo Behr alerta que poderá vir a existir o risco de que imigrantes brasileiros sejam deportados de toda Europa. "Com isso, não temos uma Europa com diálogo intercultural porque em vez de discutir as formas de expulsão, deveriam discutir as formas de inserção destes imigrantes."

Além disso, Behr afirma que a diretiva pode ser grave não só na deportação dos imigrantes para os seus países de origem como também "porque podem ficar em piores condições para regressar já que poderiam ficar detidos por mais tempo".

Para os organizadores da manifestação, o argumento apresentado pelo ministro português da Administração Interna, Rui Pereira, de que esta diretiva apenas estabelece períodos máximos de detenção e que em Portugal não vai implicar em qualquer alteração "é hipócrita". "A diretiva, além de agravar a situação dos imigrantes indocumentados na Europa, legitimará as medidas de expulsão e limitará as perspectivas de legalização", afirmam.

Fernando Moura – Especial para o UOL – Em Lisboa

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