Vítimas da ditadura se encontram em antigo centro de tortura na Bahia

Em memória dos 50 anos do golpe militar (1964-2014), o Comitê Baiano pela Verdade (CBV) reuniu, nesta terça-feira (1/4), ex-presos políticos, perseguidos, familiares de mortos e desaparecidos na ditadura, no Forte do Barbalho, o maior centro de tortura da Bahia. A atividade marcou o início das atividades do Memorial de Resistência do Povo da Bahia, que vai funcionar nas dependências do forte.

O encontro dos ex-presos no ato foi um dos pontos altos da cerimônia. Cerca de 20 deles foram convidados a cantar o Hino da Cadeia, escrito por Dirceu Régis e executado na prisão sempre que alguém da luta chegava ou saía. Alguns dos trechos: “Sempre existe aceso em nosso peito a formação do partido proletário […] A bandeira pelo povo levantada […] A vitória pela luta nascerá”.

Convidado para falar em nome dos que sofreram arbitrariamente a restrição de liberdade, Paulo Pontes, o baiano que ficou mais tempo preso – ao todo, foram nove anos -, chorou muito ao lembrar dos episódios que vivenciou, durante os anos de repressão. Pontes revelou que uma ferida foi feita nesse período que até hoje não foi cicatrizada.

“O golpe foi uma agressão a todos que defendiam a liberdade. Não nos deixavam falar, cantar, sentir. Toda expressão era reprimida. [Tudo que passei resultou em] Uma dor que permanece. Nós, que conseguimos sobreviver, temos uma razão para continuar a denunciar as torturas física e psicológica”, defendeu Paulo Pontes, que foi aplaudido de pé.

Para falar em nome dos familiares de vítimas mortas e desaparecidas, foi convidada Diva Santana, irmã da desaparecida no Araguaia Dinaelza Santana. Diva também integra a Comissão Nacional da Verdade (CNV) e o CBV, e já contabiliza 30 baianos mortos e desaparecidos – no Brasil, são 467, sem contar índios e camponeses, que também participaram da luta contra a ditadura.

Assim como Paulo Pontes, Diva também falou da existência de feridas, que também foram feitas nas famílias, que ainda convivem com a falta de notícias sobre o sumiço dos entes. O remédio ela já conhece: “O fechamento dessas feridas terá início com a punição dos frios e macabros torturadores, que confessam terem matado e a Justiça nada faz”.

Anistia

Ao pedir punição para os torturadores, Diva Santana criticou a interpretação que se tem feito da Lei 6.683, de 1979, conhecida como Lei da Anistia, que “perdoou” todos os que haviam cometido “crimes políticos”. Em 2010, o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu que o texto se estendia também aos militares, que se beneficiam da lei.

O Comitê Baiano pela Verdade produziu um manifesto pedindo a reinterpretação da Lei da Anistia, que foi lido no encontro pelo presidente da seção Bahia da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-BA), Luiz Viana Filho. O documento foi assinado pelos participantes do ato.

Uma homenagem também foi feita aos advogados que atuaram na defesa dos presos políticos, entre eles, Ronilda Noblat e Inácio Gomes. Em nome deles, falou o também preso e advogado Carlos Marighella, filho do revolucionário baiano de mesmo nome, morto pelos militares, em São Paulo. “Os advogados enfrentaram a inexistência da legalidade”, contou Marighella Filho.

Nas dependências do Forte do Barbalho, os presentes também puderam ter acesso a uma exposição de fotos históricas que ajudam a contar os movimentos de resistência no período ditatorial.

Fonte: Vermelho

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