Livro “15:30”, de Isis Medeiros, registra em fotografias o crime ambiental em Mariana (MG), que completou cinco anos

Publicado 13/12/2020 - Atualizado 13/12/2020
Trabalho traz 71 imagens que vão da cobertura da tragédia até os desdobramentos nos anos seguintes
“Cheguei em Mariana no dia seguinte ao rompimento da Barragem de Fundão. O primeiro sentimento foi de estar completamente perdida. Queria encontrar uma forma de mostrar o que estava acontecendo através da fotografia, mas de repente me vi diante de uma situação que me paralisou”. O relato é da mineira Isis Medeiros, fotógrafa que acompanhou de perto o crime ambiental da mineradora Samarco/Vale na cidade histórica, que completou cinco anos em novembro passado. As imagens feitas por ela sobre a tragédia – desde a cobertura até os desdobramentos nos anos seguintes – foram compiladas em seu primeiro livro, intitulado “15:30” (Editora Tona).
Sobre o livro
“15:30” traz 71 imagens selecionadas por Medeiros dentre mais de 8 mil fotos que compõem todo trabalho. “Não foi fácil editar todo esse material. É bem grande e diverso. Vai desde as primeiras reuniões de atingidos pela barragem em Mariana, passando por retratos, visitas a comunidades, reuniões, plenárias, manifestações, marchas e encontros, até as últimas imagens das ruínas de Bento Rodrigues, quatro anos após o crime”, conta a fotógrafa. “Como representar cinco anos de luta, resistência, impunidade e injustiça? Qual a melhor forma de contar sobre sofrimento, dor e indignação, através das imagens?” São escolhas complexas, revisitar esse trabalho foi uma tarefa difícil”.
Isis Medeiros conta que a cobertura do crime ambiental de Mariana mudou toda sua perspectiva profissional como fotógrafa. Foi através do contato com os atingidos pela tragédia que a mineira decidiu tornar-se fotojornalista e desenvolver um trabalho de denúncia com relação à atividade exploratória da mineração em Minas Gerais. “Estar diante desse crime me fez sentir mais humana. Isso interferiu diretamente no meu fazer fotográfico, na minha abordagem e na aproximação das pessoas.
A ideia do livro surgiu logo no início de seu trabalho, quando ela passou a acompanhar as comunidades da Bacia do Rio Doce. “Fui pela primeira vez cobrir a situação em Mariana já acompanhando o Movimento dos Atingidos por Barragens. Foi através da atuação junto aos movimentos sociais que me envolvi de forma mais prática, nas cidades e comunidades atingidas”, relembra. “Com o passar do tempo e o esfriamento do assunto, vi cada vez mais a necessidade de produzir um material que ficasse para a posteridade, que trouxesse a temática para o centro do debate. Com intenção de ampliar as vozes dos atingidos que gritam por justiça, decidi materializar parte desse trabalho em um livro”.
Para Medeiros, há pouca informação documental sobre o assunto nos museus, galerias e acervos públicos. “Não temos sequer uma plataforma digital reunindo os principais estudos a respeito do tema, uma exposição audiovisual ou qualquer outra documentação disponível para estudo, quem está contando essa história são as mineradoras. Sentia a obrigação de devolver parte dessa história documentada às comunidades, após cinco anos de envolvimento, uma solução possível foi produzir esse livro”, ressalta.
O nome “15:30” vem do momento exato em que foi anunciado internamente na mineradora Samarco a ruptura da barragem. “Queria chamar atenção para a hora exata, porque segundo a população atingida, foi exatamente quando a vida foi interrompida em toda região. É uma simbologia que representa esse rompimento da história e um início de um longo processo de novos crimes e violações de direitos”.
Histórico
Formada em Design, Isis Medeiros decidiu que iria rumar pela fotografia ainda durante o curso, quando fez um intercâmbio na Ilha de Malta. Ao voltar para o Brasil, em 2013, deparou-se com as jornadas de manifestações de junho e saiu com a câmera nas mãos para documentar o histórico momento político do país.
De lá para cá, além da cobertura da tragédia ambiental de Mariana e da situação da mineração em Minas Gerais também em outros territórios, participou de outros projetos com viés social. “Meu trabalho é também voltado à luta e ao empoderamento das mulheres. Realizei, em 2016 o projeto ‘Mulheres Cabulosas da História’, premiado com a medalha ‘Clara Zetkin’, que destaca mulheres com iniciativas transformadoras”.
Medeiros é integrante da foto-coletiva Mamana e uma das fundadoras do grupo “Fotografia pela Democracia”, iniciativa nacional de fotógrafas e fotógrafos que lutam em defesa da democracia e dos direitos humanos no Brasil (2018). Em 2019, recebeu menção honrosa no Primeiro Congresso de Fotógrafas Latino-Americanas, única brasileira premiada no concurso.
Em 2020, coordenou a campanha solidária “Fotografias por Minas”, em apoio a comunidades desassistidas para enfrentamento do coronavírus. Também lançou neste ano o projeto fotográfico documental “Canaã” e foi convidada a apresentá-lo através do programa Convida, do Instituto Moreira Sales.
Fotos: Ísis Medeiros
Fonte: Release da editora