Livro “15:30”, de Isis Medeiros, registra em fotografias o crime ambiental em Mariana (MG), que completou cinco anos

Trabalho traz 71 imagens que vão da cobertura da tragédia até os desdobramentos nos anos seguintes

“Cheguei em Mariana no dia seguinte ao rompimento da Barragem de Fundão. O primeiro sentimento foi de estar completamente perdida. Queria encontrar uma forma de mostrar o que estava acontecendo através da fotografia, mas de repente me vi diante de uma situação que me paralisou”. O relato é da mineira Isis Medeiros, fotógrafa que acompanhou de perto o crime ambiental da mineradora Samarco/Vale na cidade histórica, que completou cinco anos em novembro passado. As imagens feitas por ela sobre a tragédia – desde a cobertura até os desdobramentos nos anos seguintes – foram compiladas em seu primeiro livro, intitulado “15:30” (Editora Tona).

Sobre o livro

“15:30” traz 71 imagens selecionadas por Medeiros dentre mais de 8 mil fotos que compõem todo trabalho. “Não foi fácil editar todo esse material. É bem grande e diverso. Vai desde as primeiras reuniões de atingidos pela barragem em Mariana, passando por retratos, visitas a comunidades, reuniões, plenárias, manifestações, marchas e encontros, até as últimas imagens das ruínas de Bento Rodrigues, quatro anos após o crime”, conta a fotógrafa. “Como representar cinco anos de luta, resistência, impunidade e injustiça? Qual a melhor forma de contar sobre sofrimento, dor e indignação, através das imagens?” São escolhas complexas, revisitar esse trabalho foi uma tarefa difícil”.

Isis Medeiros conta que a cobertura do crime ambiental de Mariana mudou toda sua perspectiva profissional como fotógrafa. Foi através do contato com os atingidos pela tragédia que a mineira decidiu tornar-se fotojornalista e desenvolver um trabalho de denúncia com relação à atividade exploratória da mineração em Minas Gerais. “Estar diante desse crime me fez sentir mais humana. Isso interferiu diretamente no meu fazer fotográfico, na minha abordagem e na aproximação das pessoas.

A ideia do livro surgiu logo no início de seu trabalho, quando ela passou a acompanhar as comunidades da Bacia do Rio Doce. “Fui pela primeira vez cobrir a situação em Mariana já acompanhando o Movimento dos Atingidos por Barragens. Foi através da atuação junto aos movimentos sociais que me envolvi de forma mais prática, nas cidades e comunidades atingidas”, relembra. “Com o passar do tempo e o esfriamento do assunto, vi cada vez mais a necessidade de produzir um material que ficasse para a posteridade, que trouxesse a temática para o centro do debate. Com intenção de ampliar as vozes dos atingidos que gritam por justiça, decidi materializar parte desse trabalho em um livro”.

Para Medeiros, há pouca informação documental sobre o assunto nos museus, galerias e acervos públicos. “Não temos sequer uma plataforma digital reunindo os principais estudos a respeito do tema, uma exposição audiovisual ou qualquer outra documentação disponível para estudo, quem está contando essa história são as mineradoras. Sentia a obrigação de devolver parte dessa história documentada às comunidades, após cinco anos de envolvimento, uma solução possível foi produzir esse livro”, ressalta.

O nome “15:30” vem do momento exato em que foi anunciado internamente na mineradora Samarco a ruptura da barragem. “Queria chamar atenção para a hora exata, porque segundo a população atingida, foi exatamente quando a vida foi interrompida em toda região. É uma simbologia que representa esse rompimento da história e um início de um longo processo de novos crimes e violações de direitos”.

Histórico

Formada em Design, Isis Medeiros decidiu que iria rumar pela fotografia ainda durante o curso, quando fez um intercâmbio na Ilha de Malta. Ao voltar para o Brasil, em 2013, deparou-se com as jornadas de manifestações de junho e saiu com a câmera nas mãos para documentar o histórico momento político do país.

De lá para cá, além da cobertura da tragédia ambiental de Mariana e da situação da mineração em Minas Gerais também em outros territórios, participou de outros projetos com viés social. “Meu trabalho é também voltado à luta e ao empoderamento das mulheres. Realizei, em 2016 o projeto ‘Mulheres Cabulosas da História’, premiado com a medalha ‘Clara Zetkin’, que destaca mulheres com iniciativas transformadoras”.

Medeiros é integrante da foto-coletiva Mamana e uma das fundadoras do grupo “Fotografia pela Democracia”, iniciativa nacional de fotógrafas e fotógrafos que lutam em defesa da democracia e dos direitos humanos no Brasil (2018). Em 2019, recebeu menção honrosa no Primeiro Congresso de Fotógrafas Latino-Americanas, única brasileira premiada no concurso.

Em 2020, coordenou a campanha solidária “Fotografias por Minas”, em apoio a comunidades desassistidas para enfrentamento do coronavírus. Também lançou neste ano o projeto fotográfico documental “Canaã” e foi convidada a apresentá-lo através do programa Convida, do Instituto Moreira Sales.

Fotos: Ísis Medeiros
Fonte: Release da editora