Homenagem a Zumbi marca celebração do Dia da Consciência Negra em Salvador

A bandeira da resistência contra a discriminação e a desigualdade se misturou ao som de tambores, baianas, água de cheiro e homenagens durante a celebração do Dia da Consciência Negra na capital baiana. Um ato simbólico com a lavagem da estátua de Zumbi dos Palmares, ícone da resistência contra a escravidão, reuniu militantes do movimento negro e representantes da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), seção Bahia, para cobrar igualdade de oportunidades e a ampliação de políticas afirmativas para este segmento da população.

Considerada a cidade mais negra fora da África, Salvador ainda enfrenta desafios quando o assunto é oportunidade de emprego e diferença salarial entre negros e não-negros. Uma pesquisa divulgada esta semana pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE) mostra que 92% dos desempregados na Região Metropolitana de Salvador são negros. “Esses dados revelam que, embora o Brasil esteja vivendo uma nova condição gerando oportunidades de emprego, os índices ainda são alarmantes. É a prova inconteste de que temos muito ainda a reparar e de que a nossa luta deve ser na insistência para que o governo possa, a partir de políticas públicas, desenvolver, de fato, um projeto que atenda a esta parcela da população, ainda excluída e marginalizada”, ressaltou o presidente da CTB-BA, Adilson Araújo.

A necessidade de mudança na condição do trabalhador negro foi destacada também pelo secretário de Combate ao Racismo da CTB-BA, Sílvio Pinheiro. “Em qualquer local de trabalho, no chão das fábricas, nos piores serviços, estão os negros, mas se a gente olhar as funções que exigem mais qualificação, gerência, não temos a mão de obra negra. Então, a política afirmativa vem servindo para desconstruir isso, para reparar essa lacuna existente no mercado de trabalho”, explica o dirigente. Opinião semelhante tem o educador e militante do movimento negro, Valdir Estrela. Segundo ele, após a abolição, a população negra passou cerca de 40 anos da República sem ter acesso à educação formal. “A gente entende que a educação é um fator fundamental neste processo, pois sem o conhecimento não é possível disputar espaços de poder”.

Mulheres Negras

Na 4ª edição da lavagem simbólica da estátua de Zumbi, que fica na Praça da Sé, próximo ao Pelourinho, a questão de gênero ganhou destaque com a participação de baianas. A presidente da Associação das Baianas do Acarajé e Mingau (Abam), Rita Santos, lembrou que a resistência também se dá no âmbito cultural. “São quase 400 anos desta tradição e estamos aqui para mostrar como nossa história combina com a de Zumbi. Também somos símbolo da resistência”, revelou ela. Em uma cidade com forte identificação feminina, onde as mulheres são cerca de 43% dos chefes de família, segundo o IBGE, a luta é por ampliação de direitos.

 

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“As mulheres continuam sendo oprimidas e discriminadas duplamente, por serem mulher e negra. Além de ser maioria dos desempregados (53,2%), elas costumam receber menos que os homens negros e praticamente metade do que ganha um homem não-negro. Isso para enfrentar uma super carga de trabalho, acumulando o papel de mãe, dona de casa, e muitas vezes estudante. Então, é preciso buscar igualdade de oportunidade. Porque não é a minha cor ou o modo como pentiu o cabelo que vai determinar o quanto eu posso fazer, o quanto eu posso gerar”, afirmou Cherry Almeida, membro do Fórum Nacional de Mulheres Negras.

Avanços

No ano em que políticas afirmativas como as cotas nas universidades e o Prouni tiveram constitucionalidade confirmada é impossível negar que o país tem avançado. De acordo com o coordenador da União de Negros pela Igualdade (UNEGRO), Jerônimo Silva Júnior, o Brasil experimentou avanços significativos a partir da III Conferência Mundial Contra o Racismo, ocorrida em 2001, na África do Sul, onde foi aprovada uma carta conclamando os estados membros a aplicarem políticas de igualdades racial e criarem organismos de estado para elaborar essas políticas. “São através desses órgãos que o movimento social negro começa a aplicar e transformar suas reivindicações em políticas públicas para diminuir o fosso de desigualdades entre negros e não-negros na sociedade brasileira”, defende ele, destacando a importância da criação da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial da Presidência da República, em 2003, e do estado da Bahia, em 2006, sendo esta pioneira no Brasil.

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Por Wilde Barreto (Fotos: Américo Barros)

 

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