Governo Federal ignora pandemia e ameaça retirar R$ 35 bilhões do SUS em 2021

Por Anderson Pereira

No momento em que os brasileiros mais precisam do Sistema Único de Saúde (SUS) devido ao grave momento de pandemia causada pelo novo coronavírus, o Governo Federal pretende retirar R$ 35 bilhões de reais do orçamento do Ministério da Saúde no próximo ano.

“Essa atitude de desmontar as políticas públicas é o mote do desgoverno Bolsonaro. Retirar recursos do Ministério da Saúde é mais uma prova do seu desinteresse com o povo brasileiro, principalmente os setores mais pobres e excluídos”, afirma o médico psiquiatra Paulo César Machado Pereira.

A diminuição desses recursos, se aprovada pelo Congresso Nacional, vai prejudicar a maioria dos brasileiros. De acordo com a Pesquisa Nacional de Saúde (PNS), 74% da população não possui plano de saúde.

Ainda de acordo com a pesquisa, no ano passado, 6,6% da população (13,7 milhões) ficaram internados em hospitais por 24 horas ou mais, sendo 64% (8,9 milhões) no SUS e apenas 35,4% em hospitais privados.

Instituído graças a Constituição Federal, em 1988, o SUS é considerado o maior sistema público de saúde do mundo. Ao contrário de outros países, onde a população precisa pagar por remédios e tratamentos, como é o caso dos EUA, por exemplo, no Brasil o SUS garante atendimento a todos os brasileiros.

A Constituição Federal do país, no seu artigo 196, afirma: “A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação”.

PEC da Morte

Apesar da importância do SUS, a falta de recursos sempre foi uma realidade. Em 2016, essa situação piorou após o então presidente Michel Temer (MDB) aprovar a Emenda Constitucional de número 95 (EC-95). Essa medida, que ficou conhecida como “PEC da Morte”, congelou os investimentos públicos no Brasil por 20 anos. A área da saúde foi atingida em cheio. Somente em 2019, o SUS deixou de receber R$ 9 bilhões, segundo o próprio Governo Federal.

Segundo o médico Paulo César Machado Pereira, “a EC-95 vem na contramão dos interesses populares e irá provocar uma grande desassistência na saúde, particularmente àqueles que necessitam exclusivamente do SUS”.

De fato, essa diminuição de recursos já afeta a população. Em 2019, a cobertura vacinal dos brasileiros para as principais vacinas, como Hepatite, BCG e Poliomielite, por exemplo, não foi alcançada pela primeira vez em 25 anos.

Para piorar, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), em plena pandemia do novo Coronavírus, insiste em dar o mau exemplo ao não utilizar máscara e ainda promover aglomerações. No Brasil, a doença já matou quase 130 mil brasileiros. Centenas de mortes que, na opinião do médico Paulo César Machado Pereira, poderiam ter sido evitadas.

“O governo é o responsável pelas milhares de vidas perdidas até aqui. O próprio governo é o primeiro a não incentivar o uso das máscaras faciais, que ainda é o método mais eficiente para se evitar o contágio com o COVID 19. Além disso, tenta desacreditar o uso de vacinas, que será o meio seguro e efetivo de se evitar a contaminação da população”, ressalta Pereira.

Fique por dentro

Como era o atendimento à saúde antes do SUS?

Até a criação do SUS, os brasileiros eram divididos em três categorias na assistência à saúde: Os que tinham dinheiro e pagavam pelos serviços particulares; Os que tinham carteira de trabalho assinada e eram atendidos pelo INAMPS; E os que não tinham nenhum direito garantido e dependiam da assistência das Santas Casas e outros serviços de caridade.

Quem cuida dos serviços de saúde no SUS?

O SUS é administrado de forma combinada entre governo federal, governo estadual e prefeitura. Em cada parte desta administração conjunta, a população tem o direito de participar ativamente.

O que devemos cobrar do SUS?

Promoção da saúde; Prevenção de doenças; Assistência integral para a solução dos problemas de saúde e Reabilitação.

De onde vem o dinheiro para o SUS?

O SUS é financiado pelos impostos que nós pagamos. Estes impostos são divididos entre o governo federal, os governos estaduais e prefeituras. O governo federal envia o dinheiro par as secretárias de saúde dos estados e municípios. Os estados e municípios também aplicam dinheiro na saúde.

Como eu posso fiscalizar e melhorar o SUS?

Você pode começar a participar procurando o Posto de Saúde mais próximo da sua casa para ser membro(a) do Conselho Local de Saúde. É nesses órgãos que são discutidas, aprovadas e fiscalizadas as ações da política de saúde.

Foto: Sebastien Bozon/AFP