Entusiasmo e motivação marcam 3º Encontro das Trabalhadoras no Rio Grande do Sul

“Energia da Vida, a Mulher e o Poder” esse foi o tema do 3º Encontro Estadual das Trabalhadoras Urbanas e Rurais, realizado pela Secretaria da Mulher da CTB-RS, na última quinta-feira (7), no auditório da Fetag-RS, em Porto Alegre.

A mesa de abertura do evento foi formada pela Secretária Estadual do Turismo, Abgail Pereira – que representou o governador Tarso Genro; pelo presidente da CTB-RS, Guiomar Vidor; pelo presidente da Fetag, Elton Weber; pelo deputado estadual Heitor Schuch; pela Secretária da Mulher da CTB nacional, Ivânia Pereira; pela Secretária da Mulher da CTB-RS, Lenir Fanton; pela Coordenadora Estadual de Mulheres da Fetag, Inque Schneider; e pela Coordenadora da Mulher da Fecosul, Silvana Silva.

“Para nós, o debate e o entusiasmo das mulheres nesse encontro que acontece pela 3ª vez no Rio Grande do Sul é uma marca registrada da nossa CTB com o objetivo de construir uma sociedade igualitária, não só na luta sindical, mas pelas transformações sociais, porque somente assim as mulheres terão também a sua emancipação”, assinalou o presidente da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB-RS), Guiomar Vidor.

Durante a saudação, Guiomar destacou que a CTB estadual está com uma agenda intensa neste final de ano. “No dia 12/11 será realizado o ato denominado “O Brasil contra o Fator Previdenciário”. Vai ser um Dia Nacional de Lutas promovido por todas as centrais sindicais do país pelo fim do Fator Previdenciário, que é fundamental para dar dignidade ao trabalhador a fim de que quando ele se aposentar receba pelo menos o mesmo valor de quando estava na ativa. Nessa questão, o Governo Federal, apesar de tantos avanços, nos últimos anos, ainda está em débito com a classe trabalhadora”, criticou.

“E no dia 19/11, faremos uma grande concentração na frente do Palácio Piratini a fim de pressionar para que o reajuste do Salário Mínimo Regional seja o maior possível, uma vez que o próprio governador Tarso Genro assegurou que vai manter a política de sua valorização, cujo projeto será entregue na Assembleia Legislativa nessa data”.

Ao final, Guiomar cumprimentou a Secretaria Estadual da Mulher, Lenir Fanton, pela série de atividades e de lutas, não só sindical, mas na política e na busca do conhecimento que beneficie a emancipação das mulheres. 

“Somos uma central diferente até no nome – dos Trabalhadores e Trabalhadoras – porque respeitamos essa pluralidade na representação política e de gêneros. Essa tem sido uma preocupação nossa e um debate constante porque temos convicção de que a emancipação das mulheres irá suplantar essa sociedade machista e excludente formada pelo sistema capitalista”, concluiu o presidente da CTB-RS.

A Secretária do Turismo do Rio Grande do Sul, Abgail Pereira cumprimentou o presidente da Fetag, Elton Werb, que tem cedido o auditório da Federação como espaço tradicional para os encontros estaduais das mulheres. “Até me emociono ao estar nesse ambiente da mulher trabalhadora da CTB, onde podemos tomar consciência da necessidade de estarmos no poder. É muito recente a participação das mulheres em espaços públicos e nós precisamos contribuir com o debate que vai além dos direitos das mulheres. Estarmos no poder é condição fundamental para a luta porque vai influir na realidade de todos nós, homens e mulheres, é uma questão de direitos humanos”, justificou Abgail, que foi a primeira Secretária da Mulher da CTB nacional. 

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“É sempre importante entender como chegamos até aqui, pois antes éramos tratadas como mão de obra de reserva pelo sistema vigente. Mas hoje não há setor da economia em que a mulher deixe de estar presente. Com isso, evidenciamos questões importantes para o avanço da humanidade”, disse Abgail. “Quando reivindicamos o direito de creche, não foi para nós, mas um direito às crianças, filhos de mulheres e de homens trabalhadores. Quando gritamos bem alto pelo fim da violência, protestamos contra as relações humanas que foram ditadas pelo sistema patriarcal. Quando mostramos que precisamos de uma redução da jornada de trabalho, evidenciamos a dupla jornada de trabalho porque o sistema exige que cuidemos da saúde, da alimentação e da qualidade de vida dos homens e dos nossos filhos. A redução da jornada de trabalho preocupa mais a nós, mulheres. E ainda temos um salário inferior ao dos homens, apesar de executarmos as mesmas tarefas e termos a mesma jornada de trabalho. Não é possível continuarmos assim”, afirmou a Secretária do Turismo.

“O fato de estar atualmente no espaço de poder do Governo do Estado é fruto da luta realizada junto com vocês no meio social. É um exemplo de que nós, mulheres trabalhadoras, podemos estar no Executivo, no Legislativo e no Judiciário, a fim de cuidar e administrar as nossas cidades e nossos bairros porque sabemos onde falta creche, posto de saúde, calçamento, iluminação, saneamento básico ou segurança, tanto no meio urbano quanto rural. E mostramos que sabemos administrar nosso país com a presidenta Dilma no comando de uma nação tão importante para o mundo. Esta é a maior prova de que nós, mulheres, estarmos nos espaços de decisão é condição fundamental na luta da humanidade”, finalizou Abgail Pereira.

Em sua intervenção, o presidente da Fetag, Elton Weber, saudou as participantes: “Que bom estar reunido com as mulheres urbanas e rurais que têm muita coisa em comum e compartilham dos mesmos problemas. Assim, vamos estreitar muito mais o nosso relacionamento.” A propósito do lema do 3º Congresso – Energia da Vida, a Mulher e o Poder –, o presidente da Fetag analisou: “A energia da vida está com as mulheres porque todos nós viemos do ventre de uma mulher que nos alimentou e carregou. Se a mulher tem a força de lutar pela vida, também pode conquistar os espaços de poder, como tem feito atualmente, porque nada lhes foi dado de graça”.

Elton Weber lembrou que a Fetag foi uma das primeiras federações a determinar que as mulheres ocupassem 30% dos cargos da direção, apesar de muita resistência. “Elas conquistaram esse espaço pelo seu trabalho que, às vezes, chega a ser uma tripla jornada que seria impossível de ser cumprida pelo mundo machista”, salientou. “Acredito que vocês ainda vão avançar muito e em encontros como esse, onde é possível cada uma transmitir suas vivências, é que vamos construir formas de ocupar mais espaços de poder, que é importante e onde as mulheres muitas vezes se mostram mais aguerridas do que os homens”.

Ao se desculpar por ter um compromisso no mesmo horário, o deputado Heitor Schuch fez questão de participar da abertura do encontro: “Venho com muita alegria trazer o abraço a cada uma de vocês porque é muito bom encontrar aqui as mulheres do campo e da cidade, faceiras e contentes”. 

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O advogado e professor Vitor Hugo Oltamari foi o palestrantes da manhã, com o tema “Motivação”, tendo a Secretária Estadual de Mulheres, Lenir Fanton, como mediadora. Depois de destacar o entusiasmo pela participação das trabalhadoras urbanas e rurais, e lembrar que, como dizem os jovens, “é preciso tesão para tocar a vida em frente”, o professor sintetizou a importância das mulheres na sociedade em um ditado que considera emblemático: “Cem homens formam um acampamento, mas é preciso uma mulher para fazer um lar”.

Lenir considerou bastante oportuna a mensagem do professor Oltamari, que ainda falou sobre questões legais que envolvem o dia a dia das mulheres.

Importância da mulher nos espaços políticos foi o tema da tarde

A tarde iniciou com música e bom humor. Foi a vez do cantor e compositor uruguaio de música nativista latino americana, Mario Barcos, animar os participantes do 3º Encontro. Embalados por músicas castelhanas animadas, as mulheres renovaram as energias para a última atividade do dia. Uma palestra sobre a mulher na política, apresentada por Ivânia Pereira, da Secretaria da Mulher da CTB Nacional, mediada pela Coordenadora Estadual de Mulheres da Fetag-RS, Inque Schneider. A diretora nacional iniciou sua apresentação com a seguinte afirmação: “A presença das mulheres em postos de liderança na Política e na Economia não melhorou de maneira significativa”. Para comprovar seu argumento foram apresentados dados. As mulheres ocupam apenas 10% do Congresso Nacional, no Brasil. Uma realidade que também pode ser observada em outros países como El Salvador e Bolívia (ambos com 17%), Nicaragua (18%), Venezuela (19%) e Equador (25%). “Essa situação destoa da realidade brasileira, onde 51% da população é composta por mulheres, mas na representação política ocupamos apenas 10%”.

Ivânia apresentou os principais obstáculos à participação política feminina: falta de recursos econômicos para campanhas eleitoras, ausência de apoio dos partidos, tripla jornada de trabalho, carências de compromissos reais para colocar na prática a agenda dos direitos humanos das mulheres, e frágil institucionalização. “Os partidos exigem que as candidatas não assumam compromissos com as demandas das mulheres e cobram um pacto de renúncia feminina do cargo em benefício do suplente masculino”, afirmou. A alternativa para modificar esse quadro social seria, segundo a diretora, uma Reforma Política que criasse leis que garantissem a participação feminina na política. Deve ser prioridade para as mulheres o fim do financiamento privado das eleições; o fim da sub-representação de segmentos da sociedade como mulheres, índios e negros, entre outros; lista fechada pré-ordenada com paridade entre homens e mulheres, com recorte étnico-social e fidelidade partidária.

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“O apelido do Senado é céu porque quando chegam lá ninguém quer sair. Esse é o Senado do Brasil. Então, precisamos reduzir o tempo de mandato para ser igual aos dos deputados, ou seja, de quatro anos. Imagina se o Congresso tivesse 30% de mulheres, esse Brasil seria outro. Não tenho dúvida disso.”, afirmou. “Na reforma política que está sendo proposta a lista fechada está sendo discutida. Ela nada mais que a lista do partido referida a uma ordem em que são colocadas as pessoas que se deseja eleger. Vem sempre primeiro os homens e depois as mulheres. A proposta da gente é diferente. Queremos que as prioridades sejam discutidas e sejam colocadas mulheres e homens se intercalando. Porque, caso contrário, nunca vamos conseguir acabar com a desigualdade.”, defendeu a diretora. 

“É possível avançar no rumo da igualdade. Não tenham dúvidas porque as dúvidas nos levam a não querer lutar. Não são os homens os responsáveis pela desigualdade de gênero. A sociedade capitalista vive do lucro e da riqueza que é obtida explorando o semelhante e essa divisão do trabalho foi quem determinou a condição da mulher de viver do trabalho doméstico. Hoje, quando a mulher busca trabalho em geral é para melhorar a renda familiar e o sistema ainda quer tirá-la do mercado de trabalho, botando ela de volta para dentro de casa. Não haverá desenvolvimento sem a participação das mulheres e sem nos empenharmos para acabar com a opressão.”

Ivânia deu um conselho a todas as mulheres presentes no Encontro. “A contribuição que eu trago é das mulheres atingirem seus objetivos. Se somos maioria na sociedade, precisamos ser maioria nos espaços de poder, porque é mais democrático. Nosso país não é democrático porque as suas maiorias não decidem. O sindicato é um espaço de poder importante e, por isso, as mulheres precisam estar presentes. Na presidência do sindicato, em todas as diretorias. As mulheres precisam fazer valer as suas opiniões. Leiam todas as revistas, todos os jornais, tenham opiniões sobre as coisas. Falem sobre a política, critiquem, elogiem, mas tenham a sua opinião. Não saia de uma reunião sem dar a sua opinião. Essa a maneira de começarmos a mudar o Brasil. As mulheres já são tão criticadas por falarem demais, vamos fazer valer isso. Os sindicatos sem as mulheres vão se destruir.”, finalizou a diretora.

O 3º Encontro Estadual das Trabalhadoras Urbanas e Rurais foi marcado pelo entusiasmo e motivação das participantes que afirmaram que irão levar os ensinamentos e experiências adquiridas no dia para dentro dos seus sindicatos e das suas casas. Afinal como uma das participantes afirmou “de nada adianta a gente debater o machismo aqui se chegamos no nosso lar e somos alvo de preconceito por parte do nosso maridos e filhos. A educação começa em casa!”.

Fonte: CTB-RS
Fotos: Haroldo Britto 

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