Trabalhadores lembram os 50 anos do comício da Central do Brasil

Na tarde de quinta-feira (13) centenas de trabalhadores foram à Central do Brasil, no Rio de Janeiro,  para relembrar os 50 anos do histórico comício onde o então presidente, João Goulart (Jango), discursou na presença de milhares de pessoas anunciando as reformas de base que o povo brasileiro ansiava. A manifestação foi organizada por representantes de partidos políticos, centrais sindicais – dentre elas a CTB – e estudantes. Com faixas e cartazes, eles lembraram o dia 13 de março de 1964, quando Jango, na Central do Brasil, anunciou medidas de reformas constitucionais e a reforma agrária e discursou para milhares de pessoas.

O presidente da CTB-RJ, Ronaldo Leite, lembrou da importância do ato para “reafirmar a luta pelas reformas de base que são as reformas estruturantes. As lutas pelas reformas agrária, política, urbana, educacional, tributária e das comunicações ainda são lutas atuais.”. Leite também ressaltou a importância do ato nas ruas, dizendo que “esse tipo de atividade na rua é importante para dizermos em alto e bom som que nós, trabalhadores e trabalhadoras, a juventude e o povo do Rio de Janeiro e do país nunca se deixaram levar e sempre estiveram diante da luta contra a ditadura e em defesa da democracia.”

Marcelo Cerqueira, advogado de diversos presos políticos, lembrou que também esteve no comício da Central do Brasil, ao lado de Jango, quando era vice-presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE). “O Brasil perdeu uma oportunidade enorme, que era fazer as reformas de Jango. Depois, o golpe militar, com apoio americano e da direita brasileira, levou à retirada de Jango, um grande brasileiro, que se sacrificou pelo país. Perdemos a chance de sermos desenvolvidos. Perdemos 21 anos”, disse Cerqueira, que atualmente faz parte da Comissão Estadual da Verdade do Rio de Janeiro.

Também presente ao ato, o líder do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), João Pedro Stédile, disse que “o Brasil perdeu várias oportunidades históricas de fazer uma reforma agrária verdadeira. O período em que chegamos mais próximo dessa possibilidade foi no governo João Goulart, quando assessorado por Celso Furtado, apresentou uma proposta fantástica, que teria mudado o Brasil, que era desapropriar todas as propriedades acima de 500 hectares, ao longo de 10 quilômetros de cada lado das rodovias federais, das ferrovias, dos lagos e açudes. Isso teria desenvolvido o país, criado um enorme mercado interno e nos tirado da crise. O Brasil seria hoje uma grande potência”.

O filho de João Goulart, João Vicente Goulart, que fez uma fala no ato, reafirmou a necessidade das reformas de base para o avanço do país ao dizer que “Cinquenta anos depois, presenciamos um Brasil distante das ânsias populares, das reformas que precisamos para dar oportunidade para aqueles que sofrem. Meu desejo é que consigamos cicatrizar as feridas e evoluir para uma justiça que beneficie a sociedade brasileira”

O presidente da Comissão Estadual da Verdade, Wadih Damous, fez discurso semelhante e afirmou que é necessário lidar com o legado que a ditadura deixou na sociedade defendendo que “O Brasil, se essas reformas acontecessem, seria muito melhor. Os militares deixaram o legado dos desaparecidos, da impunidade aos torturadores. Precisamos resolver isso. Mas quando perguntamos onde está o Rubens Paiva, onde está o Stuart Angel, temos também que perguntar onde está o Amarildo. Esse é o legado que continua mesmo em tempo de democracia e que temos que mudar.”

CTB-RJ

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