Audiência Pública debate descaso da ECT com a segurança dos trabalhadores dos Correios

Na última quinta-feira (18), trabalhadores dos Correios participaram de uma Audiência Pública, na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) que discutiu a relevância de dar visibilidade ao grave problema dos assaltos aos carteiros e aprofundar a cobrança de soluções por parte da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT) e do poder público.

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O deputado estadual Carlos Gianazzi, que convocou a Audiência, fez ao final uma síntese precisa do que foi visto e ouvido. Ele constatou que os trabalhadores dos Correios estão abandonados.

De acordo com o parlamentar, a empresa não dá o suporte necessário às vitimas de assaltos, nem jurídica nem psicológica, e as medidas que ela tomou até agora não surtem efeito. A Secretaria de Segurança Pública também não adotou medidas efetivas até agora, e a polícia tem se mostrado despreparada, sobretudo ao expor o trabalhador a constrangimentos e a riscos nos reconhecimentos dos meliantes, sem contar que muitas vezes criminaliza o trabalhador.

O deputado Alcides Amazonas (PCdoB) também participou da Audiência, prestou sua solidariedade e se colocou à disposição da categoria, lembrando que na época em que foi diretor do Sindicato dos Condutores de São Paulo, a sua categoria teve que parar São Paulo, com greves de motorista e cobradores de ônibus, justamente devido aos constantes assaltos que levaram à morte de diversos trabalhadores.

Mobilização e vitórias

Além dos trabalhadores da base do Sindicato dos Trabalhadores de Correios e Telégrafos de São Paulo (Sintect-SP) participaram da audiência, dirigentes do interior de São Paulo (Campinas, Vale do Paraíba, Bauru, Santos e Ribeirão Preto), deputados estaduais, representantes da direção dos Correios da DR-SPM e da Secretaria de Segurança Pública.

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REPRESENTANTES-DA-CATEGORIA-E-DEMAIS-PRESENTES-NA-AUDIENCIA

O presidente do Sintect-SP, Elias Cesário (Diviza) lembrou que a mobilização dos trabalhadores dos CEEs contra os assaltos e outros problemas já começou a trazer vitórias. “A realização da Audiência foi uma delas. Outra foi a garantia dada pela empresa, em reunião com o Sindicato, de que instalará chips nas encomendas para facilitar a localização em caso de assaltos, sem colocar em risco os trabalhadores, argumentou.

De acordo com Diviza, a empresa também se comprometeu a rever o uso das travas de segurança, que têm levado os ecetistas a sofrer ameaças de morte e agressões dos assaltantes, que querem obrigá-los a abrir as portas dos veículos.

Outro compromisso da Empresa foi o de ampliar a quantidade de escoltas, sendo que o valor disponível para a contratação das mesmas foi majorado.

Diviza também cobrou suporte da empresa aos companheiros vitimados. E citou como exemplo do abandono o caso de um carteiro assaltado na Cidade Tiradentes. “O Sindicato o acompanhou na delegacia durante a madrugada, pois ele estava sendo acusado e exposto aos criminosos, sem ter nenhuma ajuda da empresa. Vários trabalhadores vitimados por assaltos compareceram e expuseram o drama vivido. Emblemático foi o caso de um carteiro que já foi assaltado 27 vezes. O companheiro explicou todo o constrangimento por que passa o ecetista assaltado em serviço. Primeiro, há todo o trauma e o perigo do assalto em si. Quando comunica a chefia, é perguntado somente sobre os objetos, o que deixa claro que a empresa, em todas as suas esferas, se preocupa com as encomendas, e não com os trabalhadores”, destacou o dirigente.

Empresa se esquiva

Eugênio Valentim, representante da diretoria regional (DR SPM), apresentou as medidas que a empresa tem tomado, como a colocação das travas, e chegou a afirmar que os assaltos a carteiros diminuíram 50% depois disso, sem citar a fonte do dado apresentado.

O questionamento foi generalizado na plateia, pois a constatação é de aumento dos casos, e não o contrário. “O que pode ter ocorrido é a diminuição do número de encomendas levadas pelos ladrões, devido às travas nas portas, mas não a diminuição do número de ocorrências de tentativas de assaltos, destacando-se que o impedimento da abertura das portas devido às travas têm gerado muitos casos de agressões físicas aos trabalhadores e ameaças de morte. Ele afirmou ainda que a empresa encaminhará a instalação dos chips, mas se calou quanto ao acompanhamento e ao assessoramento aos assaltados”, argumentaram os dirigentes do Sintect.

O Secretário Estadual de Segurança Pública enviou um representante à Audiência, que reconheceu erros de procedimento nos registros de Boletins de Ocorrência (B.O.) e reconhecimentos de assaltantes. Em sua exposição, ele reconheceu que há erros nos procedimentos policiais, pois a as vítimas jamais podem ser confrontadas com os meliantes, nem nas delegacias nem nas ruas.

Disse que vai levar o problema à Secretaria de Segurança, para que de lá parta orientação às delegacias e aos comandos da Polícia Militar.

Para o Sintect, é “importante destacar que a Secretaria de Segurança Pública do Estado entende que o problema dos assaltos aos trabalhadores dos Correios é muito mais de segurança privada que pública, uma vez que a empresa cobra pelo serviço que faz e é a principal responsável por tomar medidas para garantir as entregas e proteger seus funcionários. Assim, ficou claro que o que deve partir da Segurança Pública resume-se a orientações, procedimentos e algum suporte, em relação ao atendimento dos trabalhadores nas delegacias, e pelo fim do procedimento de solicitar que o trabalhador faça o reconhecimento de suspeitos em local público. Mas o Sindicato, que já fez reuniões com o Secretário de Segurança Pública e entregou um dossiê na última delas, continuará cobrando medidas específicas do poder público”.

Dossiê e pressão política

O deputado Gianazzi se comprometeu com os trabalhadores a elaborar um dossiê sobre o problema dos assaltos nos Correios, baseado no debate realizado na Audiência Pública. Quando pronto, o dossiê será enviado aos governos federal e estadual, à empresa e à Segurança Pública, e deles serão cobradas posição e medidas.

Gianazzi também se comprometeu a enviar o dossiê ao Ministério Público do Trabalho, para que seja instaurado procedimento e fiscalização junto à ECT. O SINTECT-SP apóia a iniciativa do Deputado e o ajudará na produção do dossiê.

“Os trabalhadores demonstraram disposição para paralisar os serviços, e isso obrigou a empresa a começar a ceder. Diante disso, e dos compromissos assumidos pela Empresa, foi adiado o “Dia D”, que previa a paralisação destes setores no dia 18. Mas se a empresa não cumprir com seus compromissos de melhorar as condições de trabalho, que incluí mais segurança e uma proposta razoável de PLR, já foi aprovada uma paralisação a partir do próximo dia 2 de maio”, alertou o presidente do Sintect.

Portal CTB com Sintect

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