Nova crise global? Por que as bolsas derreteram e o dólar disparou

Publicado 14/08/2019 - Atualizado 14/08/2019
Por Tais Laporta e Guilherme Guilherme
Ibovespa recuou quase 3% e dólar teve a maior alta contra o real desde março, negociado a 4,04 reais.
Fazia tempo que não se via uma reação tão forte dos mercados a indícios de uma nova recessão global. Os temores de uma recaída após a crise de 2008 – da qual o mundo ainda não se livrou totalmente – bateram como um “efeito dominó” sobre as bolsas globais. O mercado brasileiro não ficou imune.
O principal índice da bolsa brasileira sofreu uma queda generalizada em todas as 66 ações, pressionado pela Petrobras e Vale, em baixa de mais de 3%. O Ibovespa recuou 2,94% nesta sessão, aos 100.258 pontos.
O temor de recessão fez o mercado correr para ativos considerados mais seguros, como a moeda norte-americana. O dólar se fortaleceu contra as moedas emergentes e acelerou os ganhos contra o real após abrir a sessão acima de 4 reais.
A moeda norte-americana terminou o dia negociada a 4,0405 reais, em alta de 1,85%. Foi a maior valorização desde 27 de março e o patamar mais elevado para um fechamento desde 23 de maio (4,0474 reais).
Houve uma reação em cadeia que derrubou índices da Ásia a Wall Street e levou o dólar a uma forte valorização frente a outras moedas.
O gatilho para o temor
Não é de hoje que o mundo teme o retorno de uma recessão global, diante da desaceleração das principais potências mundiais e da piora no conflito entre Estados Unidos e China. Mais cedo, dados econômicos ruins da Ásia e Europa acenderam o alerta dos investidores.
Na China, os números mostraram que a economia piorou mais que o esperado em julho, com a produção industrial desacelerando para uma mínima em mais de 17 anos, um efeito do agravamento da guerra comercial. Outro dado preocupante veio da Alemanha. A queda nas exportações fez a maior economia europeia contrair no segundo trimestre.
O efeito da apreensão apareceu com a inversão da curva de juros. O rendimento dos títulos do Tesouro norte-americano (Treasuries) de dois anos subiu acima do rendimento dos papéis com vencimento em 10 anos. Isso não acontecia desde 2007, pouco antes da última crise financeira internacional. Quando os juros de curto prazo (dois anos) pagam prêmios maiores que os juros longos (10 anos), é um sinal clássico de recessão.
O analista da corretora Mirae Asset Pedro Mirae acredita que a inversão dos juros é uma resposta do mercado que tenta se antecipar a um novo corte de juros nos EUA. “Tem relação, mas não quer dizer que vai ter [uma recessão iminente]. É uma luz amarela. É o temor de que a recessão esteja se aproximando”, afirmou.
“O mercado já torceu o nariz de novo, acordando o fantasma da recessão começando nos EUA, China e se alastrando pelo mundo. E o mercado correu para a proteção novamente”, disse à Reuters o superintendente da Correparti Corretora, Ricardo Gomes da Silva.
Fonte: Exame