Ipea identifica forte queda da renda média da classe trabalhadora

A crise econômica alavancada pela pandemia do coronavírus segue castigando impiedosamente a classe trabalhadora brasileira, que além do facão do desemprego amargam a redução da renda, que em maio desceu a 82% da que era auferida habitualmente, conforme o Instituto de Pesquisa Aplicada (Ipea). Leia abaixo análise do economista do órgão.

Por Sandro Sacchet de Carvalho

Os impactos da pandemia sobre os rendimentos de maio podem ser medidos pelas diferenças entre a renda média efetivamente recebida e a renda média habitualmente recebida. A análise dos microdados da Pesquisa Nacional por Amostras de Domicílio (PNAD) Covid-19 de maio revela que os rendimentos médios habitualmente recebidos foram no valor de R$ 2.320,24, enquanto os rendimentos médios efetivamente recebidos foram de R$ 1.898,86, ou seja, somente 82% dos rendimentos habituais.

Os trabalhadores por conta própria receberam efetivamente apenas 60% do que habitualmente recebiam, tendo seus rendimentos efetivos médios alcançado apenas R$ 1.092,12. Já os trabalhadores do setor privado sem carteira assinada receberam efetivamente 76% do habitual. Por sua vez, trabalha- dores do setor privado com carteira e funcionários públicos receberam efetivamente em média acima de 90% do habitual.

Os dados mostram também que 5,2% dos domicílios (cerca de 3,5 milhões) sobreviveram apenas com os rendimentos recebidos do auxílio emergencial (AE). Além disso, em média, após considerar o AE, a renda domiciliar alcançou 95% do que seria caso houvesse recebido rendimentos do trabalho habituais. Esse impacto foi maior entre os domicílios de renda baixa, onde, após o AE, os rendimentos atingiram 103% do que seriam com as rendas habituais.

Os microdados da PNAD Covid-19 nos permitem avaliar que o AE foi suficiente para compensar 67% da perda da massa salarial entre os que permaneceram ocupados. Além disso, considerando a perda da massa salarial com a queda da população ocupada observada na PNAD Contínua, pode-se estimar que o AE foi capaz de compensar cerca de 45% do impacto total da pandemia sobre a massa salarial.

A queda da renda do trabalho tem um efeito retroalimentador da crise na medida em que enfraquece o mercado interno e obstrui a recuperação da demanda, das vendas e da produção. De efeito transforma-se em causa da recessão.

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