Inflação oficial recua em julho, mas queda não beneficia os mais pobres

Publicado 09/08/2022
Informações divulgadas nesta terça-feira (9) pelo IBGE indicam que o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que vem a ser o indicador oficial de inflação, recuou em julho. A queda, porém, não vai aliviar a situação de penúria vivida pelas famílias mais pobres. Isto porque, embora o índice geral tenha caído, o preço dos alimentos continua em alta.
Alimentação e bebidas subiram 1,30%, acelerando em relação à alta observada em junho (0,80%), Ou seja, trabalhadores e trabalhadoras que consomem boa parte da renda com esses dois itens essenciais não têm o que comemorar. O recuo do IPCA decorre principalmente à evolução do preço dos transportes.
A queda de 4,51% no grupo dos Transportes deve-se, principalmente, à redução no preço dos combustíveis (-14,15%). O preço da gasolina caiu 15,48% e o do etanol recuou 11,38%. A gasolina, individualmente, contribuiu com o impacto negativo mais intenso entre os 377 subitens que compõem IPCA, com -1,04 ponto percentual.
Além disso, também foi registrada queda no preço do gás veicular (-5,67%). O único combustível com alta em julho foi o óleo diesel (4,59%), cujo resultado ficou acima do mês anterior (3,82%).
Leia abaixo a íntegra da nota divulgada pelo IBGE:
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de julho foi -0,68%, ante 0,67% em junho. Foi a menor taxa registrada desde o início da série histórica, iniciada em janeiro de 1980. No ano, o IPCA acumula alta de 4,77% e, nos últimos 12 meses, de 10,07%, abaixo dos 11,89% observados nos 12 meses imediatamente anteriores. Em julho de 2021, a variação havia sido de 0,96%.
Período | Taxa |
---|---|
Julho de 2022 | -0,68% |
Junho de 2022 | 0,67% |
Acumulado do ano | 4,77% |
Acumulado nos últimos 12 meses | 10,07% |
Julho de 2021 | 0,96% |
Dos nove grupos de produtos e serviços pesquisados, dois apresentaram deflação em julho, enquanto os outros sete tiveram alta de preços. O resultado do mês foi influenciado principalmente pelo grupo dos Transportes que teve a queda mais intensa (-4,51%), e contribuiu com o maior impacto negativo (-1,00 ponto percentual) no índice de julho.
Além disso, também houve recuo nos preços do grupo Habitação (-1,05%), com impacto de -0,16 p.p. A maior variação positiva, por sua vez, veio de Alimentação e bebidas (1,30%), que acelerou em relação a junho (0,80%), contribuindo com 0,28 p.p. Vestuário (0,58%) e Saúde e cuidados pessoais (0,49%) seguiram movimento inverso, desacelerando em relação ao mês anterior (quando registraram 1,67% e 1,24%, respectivamente).
Os demais grupos ficaram entre o 0,06% de Educação e o 1,13% de Despesas pessoais, segunda maior variação positiva em julho.
Grupo | Variação (%) | Impacto (p.p.) | ||
---|---|---|---|---|
Junho | Julho | Junho | Julho | |
Índice Geral | 0,67 | -0,68 | 0,67 | -0,68 |
Alimentação e bebidas | 0,80 | 1,30 | 0,17 | 0,28 |
Habitação | 0,41 | -1,05 | 0,06 | -0,16 |
Artigos de residência | 0,55 | 0,12 | 0,02 | 0,00 |
Vestuário | 1,67 | 0,58 | 0,07 | 0,03 |
Transportes | 0,57 | -4,51 | 0,13 | -1,00 |
Saúde e cuidados pessoais | 1,24 | 0,49 | 0,15 | 0,06 |
Despesas pessoais | 0,49 | 1,13 | 0,05 | 0,11 |
Educação | 0,09 | 0,06 | 0,01 | 0,00 |
Comunicação | 0,16 | 0,07 | 0,01 | 0,00 |
Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de Índices de Preços |
A queda de 4,51% no grupo dos Transportes deve-se, principalmente, à redução no preço dos combustíveis (-14,15%). O preço da gasolina caiu 15,48% e o do etanol recuou 11,38%. A gasolina, individualmente, contribuiu com o impacto negativo mais intenso entre os 377 subitens que compõem IPCA, com -1,04 p.p. Além disso, também foi registrada queda no preço do gás veicular, com -5,67%. O único combustível com alta em julho foi o óleo diesel (4,59%), cujo resultado ficou acima do mês anterior (3,82%).
Ainda em Transportes, destaca-se a alta de 8,02% nos preços das passagens aéreas, embora a variação tenha sido inferior à observada em junho (11,32%). O ônibus urbano (0,18%) também registrou variação positiva, consequência do reajuste de 11,36% nos preços das passagens em Salvador (2,30%), aplicado efetivamente a partir de 4 de junho. No que diz respeito aos veículos próprios (0,65%), houve desaceleração das altas de preços dos automóveis novos (0,11%) e das motocicletas (0,65%), e os automóveis usados tiveram queda de 0,21%.
O recuo do grupo Habitação (-1,05%) está relacionado especialmente à queda da energia elétrica residencial (-5,78%). Após a sanção da Lei Complementar 194/22, vários estados reduziram a alíquota de ICMS cobrada sobre os serviços de energia elétrica. Além disso, a Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) aprovou as Revisões Tarifárias Extraordinárias de 10 distribuidoras espalhadas pelo país, reduzindo as tarifas a partir de 13 de julho.
Nas áreas investigadas pelo IPCA, as variações foram desde -17,00% em Vitória – onde o ICMS foi reduzido de 25% para 17% e houve retirada da incidência sobre os serviços de transmissão e distribuição – até 0,37% em São Paulo, onde foi aplicado um reajuste de 10,43% nas tarifas de uma das concessionárias pesquisadas, em vigor desde 4 de julho.
Na tabela abaixo, as 10 áreas onde houve reajustes:
Região | Reajuste (%) | Data | Variação (%) |
---|---|---|---|
São Paulo | 10,43 | 04/07 | 0,37 |
Porto Alegre | 8,72 | 22/06 | -14,54 |
Belo Horizonte | 5,66 | 22/06 | -10,21 |
Curitiba | 1,95 | 24/06 | -11,86 |
Salvador | -0,50 | 13/07 | -10,30 |
Campo Grande | -1,32 | 26/07 | -0,93 |
Fortaleza | -3,03 | 13/07 | -6,10 |
Recife | -4,10 | 13/07 | -5,16 |
Rio de Janeiro | -4,34 | 13/07 | -0,10 |
Aracaju | -4,75 | 13/07 | -11,51 |
Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de Índices de Preços |
Cabe ressaltar que, em São Paulo, Porto Alegre e Rio de Janeiro, o reajuste ocorreu em apenas uma das concessionárias pesquisadas em cada área.
Ainda em Habitação, destaca-se a alta da taxa de água e esgoto (0,96%), que decorre dos reajustes em duas regiões de abrangência: em Porto Alegre (8,42%), houve reajuste de 18,16% em uma das concessionárias, a partir de 1º de julho; em Campo Grande (2,09%), foi aplicado um reajuste de 1,70% em julho, complementar ao reajuste de 5,00% implementado em janeiro.
No grupo Alimentação e bebidas (1,30%), o destaque ficou com a alimentação no domicílio, que acelerou de 0,63% em junho para 1,47% em julho. O maior impacto positivo no índice do mês (0,22 p.p.) veio do leite longa vida (25,46%), cujos preços já haviam subido 10,72% no mês anterior. Além disso, os preços de alguns derivados, como o queijo (5,28%), a manteiga (5,75%) e o leite condensado (6,66%) também subiram, contribuindo para o resultado observado no mês. Outro destaque foram as frutas, com alta de 4,40% e impacto de 0,04 p.p. no IPCA de julho. No lado das quedas, os maiores recuos de preços vieram do tomate (-23,68%), da batata-inglesa (-16,62%) e da cenoura (-15,34%), que contribuíram conjuntamente com -0,12 p.p.
A alimentação fora do domicílio (0,82%) desacelerou em relação a junho (1,26%), em virtude das altas menos intensas do lanche (1,32%) e da refeição (0,53%). No mês anterior, as variações dos dois subitens haviam sido de 2,21% e 0,95%, respectivamente.
O grupo Vestuário desacelerou de 1,67% para 0,58%, após a apresentar a maior variação positiva entre os grupos pesquisados nos meses de maio e junho. As roupas masculinas passaram de 2,19% em junho para 0,65% em julho, enquanto as roupas femininas foram de 2,00% para 0,41%. Os calçados e acessórios (1,05%), por sua vez, tiveram variação um pouco abaixo do mês anterior, quando registraram 1,21%.
A desaceleração do grupo Saúde e cuidados pessoais (0,49%) está relacionada ao item plano de saúde (1,13%). Em junho, foram incorporadas as frações mensais referentes a maio e junho do reajuste de 15,50% autorizado pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) em 26 de maio. Em julho, foi incorporada apenas a fração mensal correspondente ao índice do mês. Cabe lembrar que os planos novos têm peso de 89% no cálculo da variação do subitem, enquanto os planos antigos, anteriores à lei 9.656/98, têm peso de 11%. Destaca-se, ainda, a queda de 0,23% dos itens de higiene pessoal, frente à alta de 0,55% em junho.
Por fim, cabe comentar o resultado do grupo Despesas pessoais (1,13%), que acelerou em relação ao mês anterior (0,49%) e contribuiu com o segundo maior impacto positivo (0,11 p.p.) no IPCA de julho. Os dois principais destaques foram os subitens empregado doméstico (1,25%) e cigarro (4,37%), este último por conta dos reajustes entre 4,44% e 8,70% nos preços dos produtos comercializados por uma das empresas pesquisadas, a partir de 3 de julho.
Regiões
No que diz respeito aos índices regionais, todas as áreas tiveram variação negativa em julho. A menor variação foi registrada em Goiânia (-2,12%), onde pesaram as quedas de 21,57% nos preços da gasolina e de 14,90% na energia elétrica. A maior variação, por sua vez, foi em São Paulo (-0,07%), única região a apresentar alta de energia elétrica (0,37%) no mês. Adicionalmente, contribuíram também para o resultado da área as altas do leite longa vida (21,95%) e do aluguel residencial (1,85%).
O IPCA é calculado pelo IBGE desde 1980, se refere às famílias com rendimento monetário de 01 a 40 salários mínimos, qualquer que seja a fonte, e abrange dez regiões metropolitanas do país, além dos municípios de Goiânia, Campo Grande, Rio Branco, São Luís, Aracaju e de Brasília. Para o cálculo do índice do mês, foram comparados os preços coletados no período de 30 de junho a 28 de julho de 2022 (referência) com os preços vigentes no período de 28 de maio a 29 de junho de 2022 (base).
INPC foi de – 0,60% em julho
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor – INPC teve queda de 0,60% em julho, a menor variação registrada desde o início da série histórica, iniciada em abril de 1979. No ano, o INPC acumula alta de 4,98% e, nos últimos 12 meses, de 10,12%, abaixo dos 11,92% observados nos 12 meses imediatamente anteriores. Em julho de 2021, a taxa foi de 1,02%.
Os produtos alimentícios passaram de 0,78% em junho para 1,31% em julho, enquanto os não alimentícios foram de 0,57% para -1,21%.
Quanto aos índices regionais, à exceção de São Paulo (0,38%), todas as áreas tiveram queda em julho. O menor resultado foi no município de Goiânia (-1,81%), puxado para baixo pelo recuo nos preços da gasolina (-21,57%) e da energia elétrica (-14,92%). A alta de São Paulo deve-se, principalmente, à energia elétrica (7,52%) e ao leite longa vida (21,95%).
Para o cálculo do índice do mês, foram comparados os preços coletados no período de 30 de junho a 28 de julho de 2022 (referência) com os preços vigentes no período de 28 de maio a 29 de junho de 2022 (base). O INPC é calculado pelo IBGE desde 1979, se refere às famílias com rendimento monetário de 01 a 05 salários mínimos, sendo o chefe assalariado, e abrange dez regiões metropolitanas do país, além dos municípios de Goiânia, Campo Grande, Rio Branco, São Luís, Aracaju e de Brasília.
Foto: Marcelo Camargo/EBC