Bolsas em pânico com o acirramento da guerra comercial entre EUA e China

Publicado 05/08/2019 - Atualizado 05/08/2019
A chamada aversão ao risco dominou os mercados de capitais neste começo de semana, com Estados Unidos e China parecendo a caminho de nova ruptura nas negociações bilaterais, em meio à guerra comercial iniciada pelo governo Trump. Os temores afetam o mundo, abalando as bolsas de valores, os mercados de moedas e commodities.
A tensão fez disparar o movimento de busca por segurança em todas as classes de ativos, levando investidores a se desfazerem de ações, commodities e divisas emergentes, como o real, em meio a temores de que o conflito possa transbordar para uma guerra cambial.
Na última sexta-feira (2), o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou uma sobretaxação de 10% sobre mais US$ 300 bilhões em produtos e serviços chineses, que pode ser elevada para 25%. A China reagiu à altura, suspendendo compras de produtos agrícolas dos EUA e determinando a depreciação de sua moeda, o yuan, em relação ao dólar.
Incertezas
A desvalorização torna as mercadorias chinesas ainda mais competitivas no exterior e amenizam os efeitos da forte sobretaxação anunciada pelo governo Trump. Suas consequências, entretanto, não se limitam ao comércio bilateral entre as duas maiores economias do mundo, mas afetam o conjunto da economia mundial, cujo futuro está obscurecido pelas sombras das incertezas e da insegurança, como se nota no comportamento dos mercados de capitais nesta segunda.
Na Europa, o índice Stoxx 600 fechou hoje em queda de 231%, a 369,43 pontos, após ajustes. Em Londres, o FTSE 100 cedeu 2,47% e, em Paris, o CAC 40 perdeu 2,19%. Em Nova York, o índice Dow Jones caía 2,69%, a 25.773,34 pontos, enquanto o S&P 500 cedia 2,67%, a 2.853,62 pontos, e o Nasdaq recuava 3,26%, a 7.7436 pontos. O Ibovespa recuou 2,5%, enquanto o dólar subiu a R$ 3,96%.
Além da suspensão das compras agrícolas pelos chineses, noticiada pela agência Reuters, a China considera a imposição de tarifas sobre todos os produtos do setor vindos dos EUA. Autoridades dos EUA e da China devem dar continuidade às negociações comerciais no mês que vem em Washington.
Na semana passada, o jornal Wall Street Journal publicou informações de que membros do gabinete de Trump se opuseram às tarifas que ele anunciou contra a China, incluindo o assessor de Segurança Nacional, John Bolton. Pequim afirmou anteriormente que pretendia retaliar quaisquer tarifas impostas pelos EUA, afirmando que as contramedidas passariam por diversos produtos.
Duelo geopolítico
A guerra comercial teve início em meados de 2018 com anúncios de tarifas de Trump sobre produtos chineses. Desde então, a China tem se mostrado relutante com a possibilidade de escalada da guerra comercial.
Após o anúncio de novas tarifas por Donald Trump na quinta-feira (1), o editor-chefe do jornal chinês Global Times, Hu Xijin, afirmou que Pequim mudaria a postura. Segundo o anúncio de Xijin, a postura chinesa deixaria de se preocupar em “controlar a escalada” da guerra comercial, focando em uma “estratégia nacional sob uma guerra comercial prolongada”.
Os conflitos comerciais refletem um duelo geopolítico mais amplo pela liderança da economia mundial. A hegemonia dos EUA foi colocada em xeque pelo desenvolvimento desigual das nações e, destacadamente, pela extraordinária performance da China, que ao longo das quatro últimas décadas manteve uma taxa média de crescimento do PIB próxima de 10% ao ano, muito acima da economia estadunidense, que não alcançou os 3%.
A guerra comercial deflagrada por Donald Trump é a reação de uma potência em franca e inapelável decadência, embora ainda com grande poderio econômico e hegemonia nas esferas militar, política e ideológica. A economia global sofre as consequências da arrogância imperial e crescem as expectativas de uma nova recessão global.
Nosso pobre e maltratado Brasil, que já anda bem mal das pernas em função da política de restauração neoliberal inaugurada pelo golpe de Estado de 2016 e radicalizada por Bolsonaro, pode afundar ainda mais.
Umberto Martins, com informações das agências