Bancos privados não dão crédito aos pequenos

Publicado 27/05/2020 - Atualizado 27/05/2020
Um dos destaques da ruidosa reunião presidencial de 22 de abril, objetivo de investigação do STF, foi a grosseira alusão do ministro Paulo Guedes ao Banco do Brasil: “tem que vender essa porra logo”.
O posto Ipiranga de Bolsonaro é vassalo dos interesses dos grandes banqueiros, cuja única preocupação, mesmo durante a pandemia, é maximizar os lucros em detrimento dos interesses maiores da sociedade.
Os efeitos disto transparecem na penúria sofrida por micro, pequenos e mesmo médios empresários, sufocados pela falta de crédito. Dinheiro há, mas os pequenos não têm acesso ao crédito monopolizado pelos banqueiros. Já os bancos públicos, sob a orientação neoliberal do governo Bolsonaro, estão sendo preparados para privatização, conforme sugere Guedes.
Oligopólio
No Brasil, observou o economista Renildo Souza durante live promovida pela CTB na terça-feira (26), temos o que pode ser descrito como um autêntico oligopólio no ramo bancário. Os cinco maiores bancos (três privados – Itaú, Bradesco, Santander – e dois públicos – BB e CEF) concentram mais de 80% dos depósitos e empréstimos.
Na contratação de créditos pelos cinco maiores bancos ao longo deste ano verifica-se que 57,9% dos empréstimos foram destinados às grandes empresas, 11,6% para médias e apenas 8% para micro e pequenas.
Registre-se que os três bancos privados foram responsáveis por 59% de todos os empréstimos, o que reflete a mudança de orientação dos bancos públicos, que na crise de 2008, sob o governo Lula, lideraram a concessão de crédito para proteger a economia.
Micro e pequenas empresas
As micro e pequenas empresas, com milhões de empregadores, respondem por cerca de 70% do emprego no país e foram duramente atingidas pela crise. Clamam com urgência por socorro e esbarram na indiferença dos banqueiros privados e na negligência governamental. O auxílio que necessitam é também essencial para amenizar os efeitos econômicos e sociais da pandemia.
Através da MP 944, o governo lançou uma linha de crédito de R$ 40 bilhões para financiamento da folha de pagamento de pequenas e médias empresas com faturamento anual de R$ 360 mil a R$ 10 milhões. Uma ninharia se comparada aos RS 1,1 trilhão generosamente oferecidos aos bancos, mas que despertou a demanda de dezenas de milhares de micro e pequenos empreendedores desesperados.
Os recursos foram repassados a bancos e cooperativas responsáveis pela liberação dos financiamentos. Mas deles o dinheiro só sai com muita dificuldade – ou simplesmente segue inacessível para muitos empresários, conforme constata reportagem do Intercept que narra o calvário a que são submetidos aqueles que foram atrás do crédito prometido pelo governo.
Economia e política
O poder econômico concentrado pelos banqueiros privados projeta-se naturalmente no plano político. Com a posse do grosso da dívida pública eles conseguem estabelecer limites e contornos das decisões econômicas mais importantes, segundo Renildo Souza, determinando a imposição de restrições fiscais julgadas necessárias para garantir o pagamento dos juros.
“O Brasil precisa de crescimento econômico, reindustrialização, de gerar mais empregos e de melhor qualidade, elevar a massa salarial, fortalecer o mercado interno”, assevera o economista. Uma estratégia de desenvolvimento nacional com este objetivo passa pelo fortalecimento dos bancos públicos, bem como a mudança da filosofia que hoje os orienta e a reversão do neoliberalismo. Avançar neste sentido pressupõe derrotar as forças poderosas do capital de cujos interesses esta ideologia é prisioneira.
Umberto Martins