Banco Central indica que o tombo do PIB em 2020 foi de 4,05%

Publicado 12/02/2021
O Índice de Atividade Econômica do Banco Central, divulgado nesta sexta (12) aponta uma queda de 4,05% do Produto Interno Bruto brasileiro em 2020.
O IPC-Br é uma espécie de uma prévia do PIB calculado pelo IBGE, que ainda não consolidou os números relativos ao ano passado.
O tombo está alinhado com as perspectivas pessimistas alimentadas pela maioria dos observadores, apesar das reiteradas promessas de recuperação do ministro da Economia, Paulo Guedes, que está completamente alienado da realidade do país e parece viver no mundo da lua.
No mundo da lua
Demonstrou isto, entre outras ocasiões, no dia 11 de janeiro ao comentar, em nota divulgado pelo Ministério da Economia, a decisão da Ford de fechar suas fábricas no Brasil: a decisão da montadora “destoa da forte recuperação observada na maioria dos setores da indústria no país”, sustentou.
Os números reais sobre a atividade econômica não autorizam otimismo, ao contrário do que alardeia Paulo Guedes. Conforme informações divulgadas quinta-feira (11) pelo IBGE o setor de serviços, que responde por 70% do PIB e do emprego no país, registrou uma leve queda (-0,2%) em dezembro, interrompendo a trajetória de recuperação observada nos seis meses anteriores. Em 2020, o setor fechou o ano com queda de 7,8%.
Já o volume de vendas do comércio varejista caiu 6,1% em dezembro na comparação com novembro, quando variou -0,1%. É a queda mais intensa para um mês de dezembro de toda a série histórica, iniciada em 2000. Apesar dos resultados negativos nos últimos dois meses do ano, o acumulado de 2020 fechou com alta de 1,2%, resultado que tem uma única e óbvia explicação: o auxílio emergencial de R$ 600,00.
A indústria de transformação também experimentou uma recuperação ao longo do ano passado, encerrado-o porém com recuo estimado em cerca de 5%. Mas o prognóstico de especialistas ouvidos pelo jornal Valor para 2021 é que o setor volte a um cenário de perda de dinamismo que já ocorria antes do surgimento do coronavírus e não recupere plenamente as perdas de 2020.
Os sinais da realidade são de que o processo de desindustrialização não foi interrompido e tende a prosseguir alavancado agora pelo desinvestimento de multinacionais como a Ford.
Auxílio emergencial
O desastre não foi maior em função do pagamento do auxílio emergencial no valor de R$ 600,00 per capita, iniciado em abril. Na contramão da política neoliberal, e instituído contra a vontade do ministro (que sugeriu uma esmola de R$ 200,00), o benefício – recebido por cerca de 67 milhões de brasileiros e brasileiras – sustentou a expansão do comércio e estimulou a recuperação do setor terciário ao longo do segundo semestre do ano.
Ficou comprovado que, além de prevenir a fome e aliviar o sofrimento das famílias mais pobres, despojadas da renda e do emprego, o auxílio revigorou a demanda e amenizou os efeitos da crise econômica. Sem ele, não restam dúvidas de que o estrago seria bem maior.
A redução do valor do benefício para R$ 300,00 revelou-se danosa para o povo e para a economia, conforme se deduz do comportamento do comércio e do setor de serviços nos últimos meses do ano. Sua extinção, após dezembro, foi um contrassenso que agravou o quadro sócio-econômico.
Pressionado, o governo acena com o retorno do auxílio, mas propõe um valor ainda mais irrisório do que o que foi pago no último trimestre do ano passado. Quer liberar apenas R$ 250,00, dinheiro que evidentemente não é suficiente para cobrir gastos alimentares de quem quer que seja ou estimular a recuperação da economia.
Não culpem só a pandemia
Na crise sanitária e econômica o Brasil já soma 236,6 mil mortes (números desta sexta-feira) e 9,7 milhões de infectados pela covid-19, pelo menos 26 milhões de desempregados e uma população ocupada inferior a 50% das pessoas em idade ativa.
A desigualdade avança, a pobreza extrema está em alta e a fome voltou a frequentar os lares dos mais vulneráveis. Essas coisas não ocorrem por acaso e não devem ser atribuídas a uma fatalidade do destino.
Quem culpa exclusivamente a pandemia pelas desgraças que se abateram sobre a nação não está enxergando direito. A responsabilidade maior é do governo da extrema direita. Seja pelo negacionismo genocida de Jair Bolsonaro, que matou e continua matando mais de mil pessoas a cada dia. Seja pela política econômica igualmente criminosa conduzida pelo rentista neoliberal Paulo Guedes, prisioneira do fundamentalismo fiscal, do ideal fanático do Estado mínimo e temporada por um descarado e nocivo entreguismo.
Umberto Martins