Antunes: Quem domina o mundo são os países industrializados

O professor gaúcho Junico Antunes, doutor em Administração (UFRGS) e mestre em engenharia de produção (UFSC), observou durante a live promovida pela CTB nesta terça-feira (26)que a crise brasileira não começou com a pandemia do coronavírus, embora seja notoriamente agravada por ela.

É interessante notar como o vírus intervém na economia mundial, derruba companhias de aviação, derruba a economia mundial, precisamos de um pensamento sistêmico para entender a realidade. É preciso perceber que os grandes problemas nacionais antecedem a crise sanitária provocada pela Covid-19.

Junico Antunes apontou um problema de longa data da economia brasileira que continua em curso. “A desindustrialização que vem dos anos 1980, quando a indústria chegou a responder por 35% do PIB, percentual que desceu a 12% em 2013 e continua decrescendo brutalmente”.

Financeirização

Em contrapartida à decadência da indústria de transformação verificou-se o agigantamento do ramo financeiro, “a financeirização da economia”, impulsionada pelas políticas neoliberais. “O processo de desindustrialização passa por FHC, Lula e Dilma”, destacou.

O professor gaúcho chamou atenção para a necessidade de uma mudança nos rumos do país com o objetivo de viabilizar “uma verdadeira política de desenvolvimento nacional, orientada para a reindustrialização, a reconexão das finanças com a indústria e a proteção dos trabalhadores”.

Efeitos da Covid-19

Contraditoriamente, alguns ramos da indústria sairão lucrando com a pandemia. “Vamos sair fortes na área de alimentos”, afirmou Antunes, que atribui o bom desempenho da agropecuária e da agroindústria aos investimentos públicos em pesquisas realizados através da Embrapa.

“Na produção de alimentos avulta a importância da pequena agricultura familiar. É hora de lutar para valorizar os pequenos agricultores e também pelo fortalecimento das cooperativas”, sugeriu.

Em contraste, a indústria de bens de consumo em geral (excetuando alimentos) já está padecendo os efeitos deletérios da recessão. Para revigorar a produção de bens de consumo é indispensável o fortalecimento do mercado interno, o que por seu turno requer não apenas a preservação como o aumento da renda dos trabalhadores e trabalhadoras.

Estado

“O Estado brasileiro tem de investir na economia real, tratar dos temas de infraestrutura, políticas sociais, evitar a absurda intermediação dos bancos e as taxas de juros extorsivas, promover investimentos e intervenções diretas do Tesouro visando o combate à Covid-19 e também a recuperação econômica”, salientou.

“Não é uma crise de curto prazo”, alertou o professor, que apontou as finanças, a indústria e a tecnologia como problemas centrais, reiterando a primazia da reindustrialização. “Quem domina o mundo são os países industrializados”.

Ele ressaltou a necessidade de uma atenção especial com a “saúde dos trabalhadores, sobretudo os que estão nos hospitais, nas UTIs”.

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