Vinicius de Moraes “poesificou” a vida brasileira

Um dos mais importantes poetas brasileiros completaria 100 anos neste sábado (19). Marcus Vinicius de Moraes nasceu no Rio de Janeiro e transformou-se num dos artífices da bossa nova (movimento que transformou a música popular brasileira). Ganhou a alcunha de poetinha de Tom Jobim pelo seu jeito descontraído e irreverente de lidar com a vida. 

Vinicius fez de sua a arte a sua vida e vice-versa. Transformou-se em ícone da MPB com versos cantados e citados pelas ruas de tão populares. Quem já não ouviu “que o amor seja infinito enquanto dure”, de seu lindo Soneto de Fidelidade? Onde canta: “Eu possa lhe dizer do amor (que tive)/Que não seja imortal, posto que é chama/Mas que seja infinito enquanto dure”. Foi o poeta brasileiro que mais e melhor versou sobre o amor e até hoje, 33 anos após sua morte, ainda inspira casais apaixonados.

Boêmio, beberrão, fumante inveterado e conhecido mulherengo. Ingressou na carreira diplomática, da qual foi sumariamente “aposentado” pelos militares em 1968, pelo famigerado ato institucional número 5 (AI-5), quando o poetinha se apresentava em Portugal com Chico Buarque e Nara Leão. 

Autor multimídia foi de literatura, teatro, cinema, música e jornalismo. Na música se destacou em parcerias com Tom Jobim, Toquinho, Baden Powell, João Gilberto, Chico Buarque e Carlos Lyra, entre outros. Vinicius de Mores consagrou a bossa nova ao lado de Tom Jobim com canções fundamentais para a história da música popular brasileira. Garota de Ipanema, de Vinicius e Tom, está entre as canções brasileiras mais executadas e gravadas no mundo. 

Para ele não havia diferença entre poesia de livro ou letras de músicas.  Fez sucesso com a peça de teatro Orfeu da Conceição (1956), adaptada para o cinema pelo francês Marcel Camus, virou Orfeu Negro (1959). O filme seria contemplado com a Palma de Ouro no Festival de Cinema de Cannes e o Oscar de melhor filme estrangeiro no na seguinte.

A sua obra já mostrava a tentativa do poeta de tratar das questões sociais e individuais como intrínsecas à vida para mostrar que somos todos imbuídos de vontades, desejos e também somos seres sociais. Já em Operário em Construção denuncia as agruras dos trabalhadores explorados pelo capitalismo. Transformou-se no maior sonetista brasileiro ao especializar-se nessa forma de expressão poética profundamente lírica. 

Em Chega de Saudade, parceria com Tom Jobim, canta  “a realidade é que sem ela não há paz/Não há beleza/É só tristeza e a melancolia/Que não sai de mim, não sai de mim, não sai”, onde já mostra a força da mulher muito reprimida que somente mais tarde ganharia as ruas pela emancipação feminina. Com Tom também compôs Lamento no Morro, Se Todos Fossem Iguais a Você, Um Nome de Mulher, Mulher Sempre Mulher, entre muitas outras.

Mas com A Felicidade levaria a cabo essa expressa individual/social: “A  felicidade do pobre parece/A grande ilusão do carnaval/A gente trabalha o ano inteiro/Por um momento de sonho/Pra fazer a fantasia/De rei ou de pirata ou jardineira” para concluir que “a felicidade é como a pluma/Que o vento vai levando pelo ar/Voa tão leve/Mas tem a vida breve/Precisa que haja vento sem parar”.

viniciusVinicius de Moraes se dizia “o branco mais preto do Brasil” e não foi só o autor de belíssimas poesias e notáveis canções da bossa nova. Ninguém como ele incorporou na atividade intelectual a integração entre morro e asfalto. Criou com Baden Powell o afro-samba, onde aproximou a bossa nova dos terreiros de umbanda. Dessa vertente nasceria o Samba da Bênção, entre outras músicas antológicas, no qual exorta a beleza: “A vida é arte do encontro/Embora haja tanto desencontro pela vida/Há sempre uma mulher à sua espera/Com os olhos cheios de carinho/E as mãos cheias de perdão/Ponha um pouco de amor na sua vida/Como no seu samba”.

E o poeta não ficava só na teoria, com 50 anos de idade participava do Centro Popular de Cultura (CPC) da União Nacional dos Estudantes (UNE), movimento que visava disseminar a cultura popular pelo país, valorizando as coisas brasileiras. Juntamente com Carlos Lyra comporia o Hino da UNE, em 1963 e até hoje entoado pelos estudantes: “A UNE somos nós. Nossa força/Nossa voz”. 

Com Toquinho continuaria sua trajetória única de obras imemoráveis e constantes do acervo histórico da MPB. Os dois com Chico Buarque fizeram um libelo aos exilados com Samba de Orly, quando Chico estava exilado na Itália: “Vai, meu irmão/Pega esse avião/Você tem razão de correr assim/Nesse frio, mas veja/O meu Rio de Janeiro/Antes que um aventureiro/Lance mão/Pede perdão/Pela duração/Dessa temporada/Um tanto forçada/Mas na diga nada/Que me viu chorando”. Também fez com Toquinho canções infantis entre as mais belas a MPB. As crianças de todas as idades agradecem eternamente. 

O poeta da vida morreria em 9 de julho de 1980, castigado pela bebida e pelo cigarro, mas sua obra está eternizada nos corações e mentes de todos os amantes. Nesse seu centenário toda e qualquer merecida homenagem parece pouca diante da grandeza do poeta do amor e da vida. Como na canção em sua homenagem, feita por Toquinho e Chico Buarque, Samba pra Vinicius: “Poeta, meu poeta camarada/Poeta da pesada,/Do pagode e do perdão/Perdoa essa canção improvisada/Em tua inspiração/De todo o coração,/Da moça e do violão, do fundo,/Poeta, poetinha vagabundo/Quem dera todo mundo fosse assim feito você/Que a vida não gosta de esperar/A vida é pra valer,/A vida é pra levar,/Vinicius, velho, saravá”.

Por Marcos Aurélio Ruy – Portal CTB

Vídeos de músicas:

Samba da Bênção (Vinicius de Moraes e Baden Powell)

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Chega de Saudade (Vinicius de Moraes e Tom Jobim)

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Samba pra Vinicius (Toquinho e Chico Buarque)

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Documentário Vinicius, de Miguel Faria Júnior

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