‘Vidas Secas’ retrata a luta do homem pela posse da terra

Obra-prima homônima de Graciliano Ramos, Vidas Secas, adaptado para o cinema em 1963, por Nelson Pereira dos Santos chega aos cinquenta revigorado pela humanidade de seu conteúdo e inovação de sua estética. Além de estampar com clareza o duro período do êxodo rural que expulsou famílias inteiras do campo.

                          Sinhá Vitória, Fabiano, Baleia, os filhos: fugindo da seca e do latifúndio

Nelson Pereira dos Santos conseguiu em Vidas Secas estampar com rara felicidade a cara do Brasil das décadas de 1930/40 e ser fiel ao livro de Graciliano no que o livro tem de essencial: mostrar a luta do camponês nordestino para sobreviver às agruras do tempo e superar as adversidades impostas por um sistema cruel, onde prevalece a força dos donos da terra. 

Mostra a saga da família de Fabiano (Átila Iório) e sinhá Vitória (Maria Ribeiro), juntamente com os dois filhos e a cachorra Baleia na busca constante de vida melhor, numa vida árida em terras secas que expulsa a família camponesa do sertão para a cidade grande, para melhorar dar futuro para os filhos. 

O filme manteve a linguagem concisa do livro. Quase sem música, com poucos diálogos, mostra a dureza do sertão encravado na alma dos camponeses, sujeitos a um sistema que os desumaniza e os coloca em posição de inferioridade pela ignorância a que são submetidos. São analfabetos, de poucas palavras, sem grandes horizontes na vida. 

Todo o enquadramento das câmeras possibilita ao espectador perceber o quanto o homem é preso a terra e dela tenta tirar seu sustento, mas despossuído e submetido é explorado pelo dono da terra e humilhado pelo poder local dominado pelos coronéis. Com fotografia sem lentes artificiais, a película transmite a visão clara e seca do camponês que não vê saída e submete-se às ordens e à natureza, sem pestanejar. 

Filme e livro mostram a aridez das relações humanas no sertão e aprofundam a interiorização dos personagens na busca de entender o que não conseguem pela vida que levam e são forçados a se submeter, numa relação dialética entre homem, natureza e o sistema explorador do trabalho. 

A humanidade ds personagens desaparece em grande parte porque se igualam a bichos, mas apresentam humanidade, ainda que rudimentar, quando mostram seus sonhos, até mesmo a Baleia parece sonhar, só que os sonhos de Fabiano e de sinhá Vitória vão num crescer entre uma cama de couro e um futuro melhor para os filhos, quando sinhá Vitória afirma que eles vão para a escola e ter a chance de outra vida que não a de seus pais. 

Dificilmente uma adaptação de obra literária consegue captar a essência de um livr de maneira tão profunda como Nelson Pereira dos Santos conseguiu com Vidas Secas. O filme está inteiramente disponível no portal www.graciliano.com.br. Vale a pena assisti-lo completo e ler o livro para as inevitáveis comparações, e com esses clássicos do cinema e da literatura entender um pouco melhor o Brasil e a formação do povo brasileiro.

Filme e livro mostram faces de um Brasil que ficou para trás em tamanha crueldade da exploração do homem do campo nordestino, mas estampam vários aspectos do brasileiro e das relações de classe no país, sempre em oposição aos interesses da classe trabalhadora, no que tange a uma vida menos desigual e mais justa. Mostram que o Brasil mudou e muito, mas ainda há muito que se mudar para o país chegar ao lugar tão sonhado por gerações de homens e mulheres que dedicaram a vida a construir uma nação mais humana. 

Marcos Aurélio Ruy – Portal CTB

Assista ao filme:

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