O poeta amazonense Thiago de Mello vai receber diversas homenagens na capital paulista pela chegada do seu aniversário de 90 anos, neste mês. Com a presença do escritor, a Fundação Maurício Grabois (FMG) comemora a data na Biblioteca Mário de Andrade com debate e leitura de seus poemas por dezenas de poetas.
Nascido em 30 de março de 1926, Thiago de Mello, em Barreirinha (AM), onde reside atualmente, ele iniciou sua carreira literária em 1951, com uma poesia que “atravessa o tempo por tocar a alma humana mostrando a vida da classe trabalhadora e a forma de suplantar suas mazelas com horizontes voltados para o futuro”, diz Adalberto Monteiro, presidente da FMG.
Para Monteiro, Thiago de Mello é o “poeta da liberdade, um verdadeiro canto de alerta, lírico e amoroso e ao mesmo tempo engajado nas lutas do povo pelos sonhos de uma vida melhor. É o poeta das águas e da floresta, mostrando o sofrimento do povo que vive nesse tapete de riquezas que é a floresta Amazônica”.
Em entrevista recente à revista Princípios, Thiago de Mello “poetizou” sobre a sua escrita aos 90 anos de idade. “Esse canto nasce do sonho escuro das crianças que dormem com fome, e da minha certeza muito pessoal de que ainda é possível, sim, a construção de uma sociedade humana e solidária no Brasil”, define.
Assista vídeo com trecho da entrevista:
Não à toa foi perseguido pela ditadura de plantão, viu-se obrigado a exilar-se, onde conheceu o poeta chileno Pablo Neruda, que traduziu suas obras no Chile. Seu poema em homenagem a Paulo Freire “Canção para os Fonemas da Alegria”, ilustra sua veia poética lírica e crítica, tanto que ele abandonou a carreira de diplomata assim que a ditadura foi implantada no país:
“…Peço licença para terminar
soletrando a canção de rebeldia
que existe nos fonemas da alegria
canção de amor geral que eu vi crescer
nos olhos do homem que aprendeu a ler.”
Monteiro afirma que Mello é um dos mais importantes poetas latino-americanos do século 20. “Foi um dos grandes defensores da integração latino-americana, coisa que permanece tão atual nesta época embrutecedora que vivemos”.
Thiago de Mello tem suas obras traduzidas em 30 idiomas, sendo conhecido em todo o mundo na sua luta contra a expropriação das riquezas da Amazônia. Sua poesia “permanece atual em duas vertentes’, diz Monteiro, “a permanente questão da humanidade de saber qual o propósito de estarmos no mundo”.
E “a poesia comprometida com a minha e a tua vida, uma denúncia contra a exploração capitalista que transforma tudo em mercadoria, sobrando pouco tempo para a poesia’, complementa.
Premiado no mundo inteiro, uma pequena amostra da força poética dele é a sua obra mais conhecida “Os Estatutos do Homem”, onde diz que:
“…Decreta-se que nada será obrigado
nem proibido,
tudo será permitido,
inclusive brincar com os rinocerontes
e caminhar pelas tardes
com uma imensa begônia na lapela…”
A cantora Nara Leão gravou em 1966 “Faz Escuro mas Eu Canto”, poema de Thiago de Mello musicado por Monsueto. “Faz escuro, mas eu canto por que amanhã vai chegar./Vem ver comigo companheiro, vai ser lindo, a cor do mundo mudar”, diz trecho da obra.
Assista clipe de Faz Escuro mas Eu Canto, de Monsueto e Thiago de Mello, com o grupo Raízes Caboclas em comemoração aos 80 anos do poeta no Teatro Amazonas:
A editora Global lançou no ano passado o livro “Acerto de Contas”, sobre a vida e obra de Thiago de Mello. Para a Global ele disse “quero que o escritor respeite, em primeiro lugar, a matéria-prima que ele utiliza que é a palavra escrita”.
Também afirma que “o dever do poeta é agarrar o fogo sagrado que vem do divino e envolvê-lo em canto de palavra e entregá-lo ao povo”.
E o povo agradece tamanha abnegação do “poeta das águas e da floresta”, como o definem presentear as pessoas que amam a poesia com uma visão rara e límpida da vida, do planeta e da humanidade.
Outras homenagens
A União Brasileira de Escritores (UBE) entrega ao poeta a sua principal honraria, que leva o nome do grande escritor paulista Mário de Andrade. A UBE homenageia Mello pelo conjunto de sua obra.
Por considerá-lo um patrimônio da cultura brasileira, o vereador Jamil Murad (PCdoB-SP) propõe a concessão do Título de Cidadão Paulistano ao poeta amazonense pela Câmara de Vereadores.
Obras
Silêncio e Palavra (poesia), 1951
A Lenda da Rosa (poesia), 1956
Os Estatutos do Homem (poesia), 1964
Faz Escuro, mas eu Canto (poesia), 1966
A Canção do Amor Armado (poesia), 1966
A Estrela da Manhã (prosa), 1968
Poesia comprometida com a minha e a tua vida (poesia), 1975
Vento Geral – Poesia (poesia), 1981
Arte e Ciência de Empinar Papagaio (prosa), 1983
Horóscopo para os que estão Vivos (poesia), 1984
Mormaço na Floresta (poesia), 1984
Manaus, Amor e Memória (prosa), 1984
Narciso Cego (poesia), 1985
Num Campo de Margaridas (poesia), 1986
Amazonas, Pátria da Água (prosa), 1991
Amazônia — A Menina dos Olhos do Mundo (prosa), 1992
O Povo sabe o que Diz (prosa), 1993
Borges na Luz de Borges (prosa), 1993
De uma Vez por Todas (poesia), 1996
Vamos Festejar de Novo (prosa), 2000
Marcos Aurélio Ruy – Portal CTB
Serviço
Aniversário de Thiago de Mello
Data: Terça-feira (15), às 19h
Local: Biblioteca Mário de Andrade/Auditório
Rua da Consolação, 94, Centro, São Paulo
Última atualização às 8h35 do sábado 12 de março de 2016.