Presidente da CTB assina prefácio do novo livro de Augusto Petta

O presidente da CTB, Wagner Gomes, assina o prefácio do livro “Gestão Sindical – Um sindicalismo atuante contemporâneo para os novos desafios do mundo do trabalho e da luta social”, organizado pelo sociólogo Augusto Petta, coordenador-técnico do Centro Nacional de Estudos Sindicais e do Trabalho (CES).

A publicação conta com textos relativos ao planejamento estratégico situacional, formação sindical, departamento jurídico, oratória, negociação coletiva, organização por local de trabalho, comunicação sindical e assessoria sindical.  Haverá exemplares disponíveis para venda.

“O sindicalismo não pode ficar de braços cruzados contemplando as turbulências da vida e a agonia de uma ordem mundial capitalista na esperança de que as mudanças ocorram por geração espontânea. A história nos mostra que sem a iniciativa firme e consciente da classe trabalhadora o regime de exploração e alienação comandado pela burguesia não sai de cena e não cede, sem luta, lugar ao novo”, diz o presidente da CTB num trecho do prefácio.

O livro será oficialmente lançado durante o 3º Congresso Nacional da CTB. “Pretendemos com esta obra oferecer nossa contribuição para que as entidades sindicais possam cumprir de forma adequada o papel relevante que se destina a elas, de serem propulsoras da luta da classe trabalhadora por melhores salários e condições de trabalho e pela conquista de uma sociedade justa, democrática e solidária“, ressalta Petta. 

Confira abaixo a íntegra do prefácio:

Gestão sindical em ambiente de crise

A iniciativa do Centro Nacional de Estudos Sindicais e do Trabalho (CES) de editar este livro sobre gestão sindical veio em boa hora. Vivemos um momento histórico singular, marcado por uma das maiores e mais graves crises do capitalismo em toda sua história, o acirramento das contradições intrínsecas ao sistema e a emergência de grandes mobilizações e manifestações populares.

Nosso desafio consiste em elevar a consciência, a capacidade de intervenção e protagonismo da classe trabalhadora nas batalhas políticas em curso no Brasil, bem como na América Latina e no mundo. Acumulamos importantes conquistas por aqui após a histórica vitória de Lula nas eleições presidenciais de 2002: a política de valorização do salário mínimo, a redução do desemprego, a legalização das centrais, o aumento da massa salarial e da renda real do trabalho, a proteção aos mais pobres e mais democracia.

É preciso, porém, reconhecer que os avanços se revelam tímidos assim que confrontados com as demandas do nosso povo e os problemas econômicos e sociais herdados dos governos anteriores, alguns deles seculares, notavelmente agravados pela hegemonia ideológica e política do neoliberalismo tucano que comandou o país durante os anos 1990.

Não realizamos nenhuma reforma estrutural, não conseguimos acabar com o fator previdenciário, realizar a reforma agrária, ratificar a Convenção 158 ou reduzir a jornada de trabalho. Continuamos convivendo com a crescente precarização das relações trabalhistas, presenciamos o recrudescimento da ofensiva capitalista por uma reforma reacionária da CLT, a imposição do Simples Trabalhista e a terceirização escancarada, sem limites.

A saúde pública vive ao deus-dará, a educação idem, o transporte é uma lástima, a violência apavora e as carências se multiplicam. Isso torna mais que compreensível o sentimento de frustração, indignação e revolta que se manifesta em amplos setores da população e ganhou corpo e evidência na onda de manifestações que invadiu as cidades brasileiras na segunda quinzena de junho.

O sindicalismo não pode ficar de braços cruzados contemplando as turbulências da vida e a agonia de uma ordem mundial capitalista na esperança de que as mudanças ocorram por geração espontânea. A história nos mostra que sem a iniciativa firme e consciente da classe trabalhadora o regime de exploração e alienação comandado pela burguesia não sai de cena e não cede, sem luta, lugar ao novo.

Temos um longo e acidentado caminho a percorrer. Nele há a difícil tarefa de conscientizar as bases e mobilizá-las para as grandes lutas em torno dos objetivos imediatos e históricos da classe trabalhadora.

Já contamos com um guia para nossa ação, um programa unitário da classe trabalhadora, abraçado pelas centrais sindicais, que é a agenda por um novo projeto nacional de desenvolvimento orientado por três valores fundamentais: a valorização do trabalho, a democracia e a soberania. Nosso objetivo maior, estratégico, o socialismo, também torna-se mais próximo em função da crise que abala o capitalismo e a ordem mundial imperialista hegemonizada pelos EUA, hoje em franca decadência. A dificuldade reside em harmonizar teoria e prática.

A voz das ruas clama a necessidade de avançar nas mudanças. Isto se faz com a valorização do trabalho e o atendimento de demandas inadiáveis do nosso povo por mais saúde e educação, pública e de qualidade, transporte, habitação, desenvolvimento e trabalho decente. Para avançar é necessário mudar a política econômica, zerar o superávit primário, reduzir juros, controlar o câmbio e taxar as remessas de lucros.

A publicação do CES em muito contribui para a compreensão da ação sindical e pode ser muito útil no enfrentamento e superação das limitações e deficiências que se revelam no comportamento concreto dos sindicalistas classistas, começando pela abordagem dos dilemas relativos à gestão sindical.

Por gestão não se deve compreender apenas temas relacionados à organização da máquina e da burocracia sindical, embora seja indispensável entender a relevância dessas questões e a necessidade de se otimizar a eficiência e competência das direções sindicais nesse terreno. O fundamental do ponto de vista do sindicalismo classista é jamais perder de vista seus propósitos maiores, que supõem no dia a dia e em perspectiva a elevação do nível da luta de classes, do mero economicismo para o plano da grande política.

Nosso objetivo é organizar a classe trabalhadora para a luta em defesa dos seus interesses imediatos e históricos, as batalhas táticas e estratégicas contra o sistema capitalista. Entre nossas bandeiras destaca-se o ideal maior dos trabalhadores e trabalhadoras: o socialismo. Nossa gestão sindical não pode perder de vista este sentido histórico que caracteriza e diferencia o sindicalismo classista.

Um dos defeitos do nosso movimento, ao qual se dedica muito pouca atenção, é o espontaneísmo um tanto quanto exacerbado das lideranças, que induz à concepção de que o movimento é tudo e o objetivo de nada nos vale. O livro põe o dedo nesta ferida ao defender a necessidade do planejamento estratégico e salientar a necessidade de conferir efetiva prioridade à formação e comunicação.

Sem planejamento, a ação sindical corre ao sabor dos acontecimentos e em geral se configura em reações passivas. Da mesma forma, a formação das lideranças, sócios e militantes é essencial para a prática de um verdadeiro sindicalismo classista.  A ação sindical é em boa medida uma atividade de educação, que busca a conscientização das bases sobre os interesses e a luta da classe, a politização e a mobilização para a luta. Isto requer formação.

A comunicação é outra frente que merece maior atenção e carinho no planejamento de uma gestão sindical. Trata-se de um tema geralmente negligenciado pelas lideranças. Em volume, as publicações sindicais impressionam, mas em qualidade e conteúdo deixam muito a desejar. A importância da área cresceu nas últimas décadas, ao lado da evolução tecnológica das comunicações, a concentração e o poder da “grande mídia”, que passou a se comportar, cada vez mais, como “partido da direita” em sintonia com os setores conservadores e como veículo dos interesses hegemônicos do capital.

Talvez o maior desafio das gestões classistas resida na necessidade de organização dos trabalhadores nos locais de trabalho. A fragilidade do sindicalismo brasileiro advém principalmente de sua baixa inserção e representatividade nas bases, com algumas exceções que não invalidam a regra geral.

Sem ampliar a organização nos locais de trabalho, que deve ser acompanhada do trabalho de conscientização e educação das bases, fica bem mais difícil mobilizar. Na pauta das campanhas salariais é preciso insistir na reivindicação do direito à constituição de comissões sindicais, eleitas pela categoria, garantindo estabilidade no emprego para seus membros.
O livro, com artigos escritos pelos professores do CES, também faz importantes referências a outros temas relacionados à gestão sindical, como assessoria, departamento jurídico, oratória e negociação coletiva. É uma contribuição valiosa para o pensamento e a prática do sindicalismo classista e merece especial atenção.

Faça uma boa leitura. 

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