O filme “Osvaldão”, sobre o lendário líder da guerrilha do Araguaia, estreia hoje (10)

“Osvaldão” estará nos cinemas a partir do dia 10 de dezembro

O Portal CTB conversou com exclusividade com Ana Petta, uma das diretoras do documentário “Osvaldão”. O filme retrata a vida do líder negro que participou da guerrilha do Araguaia e foi um dos homens mais procurados pelo regime militar no final da década de 1960 e início de 1970. Ana explica toda a dificuldade que tiveram para a realização da obra. Conta que a ideia de filmar a história surgiu quando descobriram um filme sobre o próprio Osvaldão realizado na antiga Tchecoslováquia.

O documentário produzido de forma independente tem 90 minutos e conta com mais três diretores, André Lorenz Michiles, Fábio Bardella e Vandré Fernandes. A produção do filme durou dois anos e foi patrocinada pela Fundação Maurício Grabois.

A diretora explica também que foram dois anos para finalizar o longa-metragem e, depois disso, iniciar a sua distribuição. “E nesta etapa começa a aventura de como realizar a distribuição de um filme no Brasil para que ele seja assistido pelo maior número de pessoas possível”, diz ela.

Se em tempos normais, já não é tarefa fácil, o que dirá em tempos de crise econômica. Os diretores recorreram, então, ao financiamento coletivo. “Procuramos o site Catarse (que propicia a busca de financiamentos de projetos) e conseguimos transformar o “Osvaldão” no primeiro filme a ser financiado pelos movimentos sociais, a CTB, dentre eles, e assim entraremos no circuito comercial”, afirma. Inclusive, o filme esteve na programação da 39ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.

“Achamos fundamental narrar a trajetória de vida de Osvaldão para que ele tenha o lugar que merece na história. O lugar de um grande herói brasileiro, como foi João Cândido e Zumbi dos Palmares”, diz Ana. Menos famoso que Zumbi, mas não menos importante, João Cândido ficou conhecido como o Almirante Negro. Ele liderou a Revolta da Chibata contra os castigos que a Marinha dispensava aos marinheiros negros em 1910. 

Trailer de Osvaldão:

 

Osvaldo Orlando da Costa, era negro, campeão de boxe e se tornou uma figura lendária com a sua atuação na guerrilha. “O filme não trata da Guerrilha do Araguaia, mas da trajetória desse ser humano singular, nos apaixonamos por ele”, conta.

Ela diz que tiveram muita dificuldade de encontrar material e subsídios históricos para compor o filme. “O Exército não diz nem onde foram enterrados os corpos dos guerrilheiros, o que dirá fornecer material para pesquisa”. Então, afirma, “a história é contada através de depoimentos e com todo o material que o pai do Osvaldão conseguiu esconder das Forças Armadas em uma espécie de alçapão em sua casa”.

Ela explica também que a família dele, que mora em Passa Quatro (MG), cidade natal de Osvaldão, colaborou muito com material e depoimentos, assim como amigos do Rio de Janeiro, onde ele estudou.

Para mostrar a atualidade e a importância dessa figura para a história do país ela diz que “ele encamparia a luta dos secundaristas paulistas que ocupam escolas para defenderem uma educação democrática e com mais qualidade”.

“Tanto isso é verdade que, em sua adolescência, um colega foi atropelado por um ônibus e a empresa se recusava a custear o tratamento do menino, Osvaldão liderou os meninos que, juntos, atearam fogo em um ônibus da mesma empresa em forma de protesto”.

Ana se diz satisfeita com o resultado e a equipe está feliz por ter conseguido que o filme estreie no circuito comercial no dia 10 de dezembro, em São Paulo e no Rio de Janeiro, com pré-estreia nesta segunda-feira (30), em São Paulo.

“Dá uma imensa satisfação termos concluído esse filme, porque a história é boa e precisava ser contada. Osvaldão se tornou um grande mito. Várias lendas sobre ele ainda são contadas na região. Diziam que ficava invisível, que era imortal, se transformava em onça”, afirma Ana.

Para ela, com o seu carisma e o seu comportamento dócil e extrovertido, ele conquistou a todos. “O povo daquela região do sul do Pará ainda fala de sua figura com muito respeito e admiração, pouquíssimos líderes políticos têm essa capacidade”.

diretores osvaldao

Equipe que dirigiu o filme

Para comprovar a importância que ele adquiriu na Guerrilha do Araguaia, Ana fala de um telefonema, no qual o ex-general presidente Ernesto Geisel dizia a um general do Exército: “Vocês têm que matar o Osvaldão”.

Ela faz questão de realçar também que os moradores do Araguaia ainda sentem muito medo. “Falam dele, mas falam com medo”, porque na região a violência contra camponeses ainda é muito grande.

“O nosso filme não conta a trajetória de um guerrilheiro, mas fazemos uma abordagem humana, repleta de poesia de uma figura emblemática de nossa história, que julgamos importante transmitir para as pessoas”.

Mais informações pela página do filme no Facebook aqui.

Marcos Aurélio Ruy – Portal CTB

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