O dilema milenar da filosofia

Por João Martins*

É fato que a grande questão filosófica que perpassa o tempo, situa-se na seguinte pergunta: o que veio primeiro a matéria ou a consciência (espírito)?

Contam que conforme o posicionamento de cada um fica definido sob o ponto de vista filosófico como materialista ou idealista. Lembremos que o cérebro que traduz a consciência é um órgão material.

A física quântica levantou também o problema. O famoso debate no “V Conselho Solvay”, em 1927 lançou a contenda sobre a interpretação da “Teoria Quântica – TQ”. Foi um duelo intelctual entre Einstein e Borh, que elabora o conceito de complementaridade, o que significava o abandono do determinismo (determinismo x probabilidade).

A frase do cientista da teoria da relatividade geral “Deus não joga dados”, veio antes do “ V congresso”, em uma carta endereçada ao físico Max Born, em 04/12/1926. O que demonstra que a peleja já estava em curso e amadurecendo.

O debate resultou, posteriormente, no livro intitulado “Física e Filosofia” do descobridor do “Principio da Incerteza”, o alemão Werner Heisenberg, um grande matemático.

Matéria versus ideia: Brecht deu uma resposta convincente para o dilema filosófico

No campo das artes, buscava-se também uma resposta para tamanho dilema. E nasce da dramaturgia uma resposta que considero definitiva e que acaba de vez com a celeuma.

Na peça “Turandot ou o Congresso das Lavadeiras”, a genialidade de Bertolt Brecht, fornece uma resposta bem humorada para o dilema.

A cena passa na “Escola Tui” na China:

“Professor – Si FU, enumere as principais questões da Filosofia.

Si Fu – As coisas existem fora de nós, por elas e mesmos sem nós, ou as coisas existem dentro de nós, por nós , e nunca sem nós.

Professor – Qual é a opinião certa?

Si Fu – Ainda não se chegou a nenhuma conclusão.

Professor – Em que direção se inclina a opinião da maioria dos nossos filósofos?

Si Fu – As coisas existem fora de nós, por si e mesmo sem nós.

Professor – Por que essa questão ficou sem respostas?

Si Fu – O congresso que deveria decidir realizou-se, como acontece em duzentos anos, no mosteiro de Mi Sang, situado às margens do Rio Amarelo. A questão era: “o Rio Amarelo existe realmente ou ele só existe na nossa cabeça?” Infelizmente, enquanto se realizava o congresso houve um grande degelo nas montanhas e o Rio Amarelo transbordou, carregando com ele o mosteiro de Mi Sang e todos os congressistas. E assim a noção de que as coisas existem fora de nós, por elas e mesmo sem nós, não chegou a ser demonstrada.

*Bancário aposentado e ex-deputado estadual do PCdoB/ES