No Dia da Liberdade de Imprensa o importante é reafirmar nosso compromisso em lutar por ela

Nesta terça-feira, 7 de junho, é celebrado o Dia Nacional da Liberdade de Imprensa. Neste ano, a data é marcada por ameaças a um jornalista que denunciou esquema pago de fake news bolsonarista e pelo desaparecimento de um correspondente inglês (e de um indigenista da Funai) que reportava a invasão de terras indígenas na Amazônia, apó receber ameaças. O quadro faz parte de um cenário de violência alimentado por ataques à imprensa promovidos por Bolsonaro e seus apoiadores.

Uma reportagem do Congresso em Foco publicada neste domingo (5) denuncia que o jornalista do veículo, Lucas Neiva, passou a receber ameaças de morte e teve seus dados vazados após publicação de reportagem, no sábado (4), em que expõe a tática de um fórum anônimo para produzir e pagar por fake news em favor de Bolsonaro.

No segundo episódio de violência contra a imprensa, a União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja) reportou o desaparecimento, desde a manhã deste domingo (5), do jornalista inglês Dom Phillips, correspondente no Brasil do Jornal The Guardian, e do seu colega de equipe, o indigenista Bruno Pereira. De acordo com a nota da Univaja, a equipe recebia ameaças constantes em campo. Grupos de busca enviadas ao local não encontraram os profissionais.

O Comando Militar da Amazônia, depois de sofrer pressão, disse estar em condições de cumprir a missão de busca e salvamento dos profissionais, mas guarda autorização do escalão superior.

Os dois episódios se somam a outros inúmeros e são o mais triste retrato do que se tornou o Brasil sob Bolsonaro:  restrição da liberdade de imprensa, agressão constante a jornalistas, ataques diretos à imprensa e uso das redes digitais e veículos de comunicação duvidáveis para espalhar mentiras.

O Relatório Global de Expressão 2021, elaborado pela organização internacional Artigo 10, concluiu que, além de mentiroso contumaz, Bolsonaro ataca a imprensa e sufoca a liberdade de expressão no Brasil. Sob o seu governo, nosso País tem liberdade expressão restrita, ficando abaixo de lugares como o Haiti, nesse quesito.

Somente em 2020, foram 464 ataques diretos a jornalistas feitos pelo presidente, ministros e assessores próximos. O Brasil é um dos países que mais apresentou queda no indicador de liberdade de expressão no mundo: passou de um dos países com maior pontuação, em 2010 (na gestão de Lula), para um país em crise de democracia e expressão.

Nos governos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do PT, o país era considerado lugar de livre liberdade de expressão, com 89 pontos em uma escala de 0 a 100. O cenário de restrição de liberdades vem sendo desenhado desde o golpe de 2016: em 2015, o índice era de 86. O golpe derrubou o número para 73, e as restrições vêm aumentando ainda mais sob a batuta autoritária de Bolsonaro. Em 2020, o índice foi de 52 pontos, uma queda de 37 pontos em 10 anos.

No dossiê “Ataques ao Jornalismo e ao Seu Direito à Informação”, elaborado com base no Relatório de Violência contra Jornalistas e Liberdade de Imprensa 2021”, a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) constata que as violações à liberdade de imprensa têm continuidade no Brasil e estão associadas à ascensão de Jair Bolsonaro à Presidência da República.

“Em 2021, o número de agressões a jornalistas e a veículos de comunicação manteve-se nas alturas e chegou a bater novo recorde, desde o começo da série histórica dos registros feitos pela Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ), iniciada na década de 1990. Foram 430 casos, dois a mais que os 428 registrados em 2020. A continuidade das violações à liberdade de imprensa no Brasil está claramente associada à ascensão de Jair Bolsonaro à Presidência da República”, diz o documento.

O relatório da Fenaj diz que Bolsonaro foi o principal agressor, respondendo, sozinho por 147 casos (34,19% do total), sendo 129 episódios de descredibilização da imprensa (98,47% da categoria) e 18 de agressões verbais a jornalistas. O documento diz ainda que foram registradas 140 ocorrências de censura, a maioria delas (138), cometidas por dirigentes da Empresa Brasil de Comunicação (EBC).

Ao atacar a imprensa e os jornalistas, o presidente não só desrespeita profissionais que estão exercendo seu direito ao trabalho, mas agride a própria democracia, que tem nas liberdades de imprensa, de informação e expressão, alguns de seus pilares.

Leia abaixo a nota da Associação Brasileira de Imprensa intitulada No Dia da Liberdade de Imprensa o importante é reafirmar nosso compromisso em lutar por ela

Neste dia da Liberdade de Imprensa não temos muito o que comemorar. Na verdade, neste ano, o mais importante é reafirmar nosso compromisso com a luta pela liberdade de imprensa e pelo fortalecimento da democracia em nosso país.

A proximidade das eleições tem acirrado ainda mais os ataques à liberdade de imprensa, uma prática sistemática do atual presidente da República e seus grupos de apoio, desde sua posse.

O Ranking Mundial da Liberdade de Imprensa 2022, organizado pelo Repórteres sem Fronteira, por exemplo, avalia que “a desconfiança em relação à imprensa, alimentada principalmente pela retórica antimídia e pela banalização do discurso estigmatizante da classe política” rebaixou o país ao 110º lugar entre 180 países quando se trata de liberdade de imprensa.

A Associação Brasileira de Imprensa está atenta a esse cenário e vai reagir sempre que a nossa liberdade de trabalhar e de apurar os fatos seja cerceada ou ameaçada.

Regina Pimenta, vice-presidente da ABI e presidente da Comissão em Defesa da Liberdade de Imprensa e dos Direitos Humanos

Fontes: lula.com.br e ABI