Nem o assassinato de um estudante foi suficiente para colocar as ocupações no Jornal Nacional

O Jornal Nacional, da Rede Globo, não dedicou um segundo de sua grade diária às ocupações das escolas públicas pelo Brasil na noite desta segunda-feira (24) – um dado estranhíssimo, considerando a morte do jovem Lucas Mota, de 16 anos, há algumas horas. O estudante foi encontrado esfaqueado dentro de umas ocupações depois de uma briga em um banheiro.

Seria de se imaginar que, diante de um fato chocante como esse, o noticiário daria ao menos uma nota simples sobre o tema, ainda que com um viés negativo. Mas não. Depois de um bloco de abertura dedicado às acusações rotineiras contra Lula e uma reportagem sobre furtos irrelevantes no centro de São Paulo, o jornal partiu direto para o noticiário internacional, e daí foi para outras amenidades.

Impressiona o fato de que, desde o início das ocupações, o programa não mencionou a movimentação dos alunos ou os confrontos crescentes com o governador Beto Richa (PSDB-PR) ou o Movimento Brasil Livre em uma única edição.

Chegou a fazer uma reportagem sobre frutas exóticas nesse período.

Jornalisticamente falando, no entanto, teriam muito a explorar, se fizessem um esforço sincero: as motivações dos alunos para impedirem o funcionamento comum das escolas, a decisão dos professores paranaenses de entrar em greve, as agressões crescentes do MBL contra os ocupantes, as manifestações por todo o Brasil nesta segunda-feira (24), a nota de pesar oficial da União Nacional dos Estudantes sobre a morte de Mota, o relato inicial dos investigadores sobre o ocorrido. Aparentemente, não encontraram notícia nessas coisas.

Outros programas da Globo seguiram padrão parecido. No programa Encontro com Fátima Bernardes, na parte da manhã, a equipe de jornalismo da emissora levou até o “lenhador da PF” para uma entrevista, mas jamais algum representante do movimento estudantil.

Mesmo para os padrões da imprensa aristocrática brasileira, esse grau de silenciamento político surpreende. Diante das 1.072 escolas secundárias e 73 universidades públicas ocupadas por todo o país, a opção-padrão dos jornalões tem sido criminalizar as ações dos estudantes, ainda que reconhecendo a dimensão da ação. Diante do assassinato, publicaram longos textos ligando as ocupações ao uso de drogas e à depredação dos prédios – algo que disparou seus leitores em um frenesi fascista nada incomum.

O departamento de jornalismo da Globo segue sua trajetória decadente, exacerbada durante a segunda eleição de Dilma. Será que nem mesmo a morte de um estudante é suficiente para afastá-los do programa ideológico do mercado financeiro?

Por Renato Bazan – Portal CTB

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